A imagem mais comum do Muro de Berlim é a de pessoas arriscando a vida para fugir do lado oriental, comunista, para o ocidente capitalista. Em 1971, no entanto, um jovem brasileiro de 19 anos chamado Miguel Carmo fez o caminho contrário. Bêbado, movido pela saudade da família e vigiado pela Stasi, a temida polícia secreta da Alemanha Oriental, ele realizou um salto que desafia a lógica da Guerra Fria.

  • Quem: Miguel Carmo, um jovem brasileiro de 19 anos.
  • O quê: pulou o Muro de Berlim do lado ocidental (capitalista) para o oriental (comunista).
  • Quando: em 1971, no auge da Guerra Fria.
  • Motivo: exilado no lado ocidental, sentia falta da família, que vivia a poucos metros de distância, no lado oriental.
  • Contexto: A história completa, baseada em um relatório de 600 páginas da Stasi, é contada no podcast “O Pulo de Miguel”.

Filho de membros do Partido Comunista Brasileiro exilados na Alemanha Oriental após o golpe de 1964, Miguel Carmo cresceu em Berlim Oriental. Contudo, seu espírito contestador e sua admiração pelos Rolling Stones o colocaram em rota de colisão com o regime. Considerado “subversivo” – não por ser capitalista, mas por achar que o país não era “comunista o suficiente” –, ele foi preso aos 17 anos e, posteriormente, expulso para o lado ocidental.

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Na madrugada do pulo, após uma noite na boemia de Berlim Ocidental, Miguel se viu a poucos quarteirões da casa da família. Impelido pela saudade, ele escalou o muro de 2,5 metros, chorou ao avistar o prédio dos pais e saltou para o “território intransponível”, deixando suas pegadas na faixa de areia usada para monitorar travessias ilegais.

Sem chaves, ele bateu na janela do apartamento da irmã, Sônia, que o acolheu. O retorno, no entanto, estava longe de ser um final feliz. Toda a sua trajetória, incluindo os detalhes daquela noite, foi minuciosamente documentada em um relatório de 600 páginas pela própria Stasi. A história completa e os desdobramentos deste ato de rebeldia são o tema do podcast “O Pulo de Miguel”.