Casa Branca intensifica tentativa de intervenção em cidades americanas governadas por rivais e quer botar 300 soldados nas ruas de Chicago. Justiça bloqueia envio de militares a Portland.O governo do presidente Donald Trump avança em sua campanha para mobilizar a Guarda Nacional em cidades americanas como forma de proteger oficiais e prédios federais contra manifestantes contrários às políticas migratórias da Casa Branca.

Após sugerir que o país enfrenta uma “guerra interna”, Trump determinou o envio de 300 soldados da Guarda Nacional a Chicago, em Illinois, medida defendida pela secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, neste domingo (05/10). Em entrevista à Fox News, Noem afirmou que a cidade é uma “zona de guerra” e que, por isso, exige intervenção federal.

Aliado de Trump na Câmara dos Representantes, o deputado Mike Johnson ecoou a retórica neste domingo, e defendeu que Chicago virou uma “verdadeira zona de guerra”.

Já governador de Illinois, o democrata JB Pritzker, acusou Trump de querer “criar uma zona de guerra para então poder enviar ainda mais tropas”. Na cidade, manifestantes entraram em diversos embates com agentes federais devido ao aumento das prisões de imigrantes.

Em um comunicado, o governador chamou a decisão de “a invasão de Trump”, dizendo que não há motivo para envio de tropas sem diálogo com as autoridades locais.

O movimento é similar à medida imposta por Trump a Washington DC e a outros municípios. Desde o início de seu segundo mandato, ele enviou ou falou em enviar tropas a dez cidades, incluindo Baltimore (Maryland), Memphis (Tennessee), Nova Orleans (Louisiana) e as cidades californianas de Oakland, São Francisco e Los Angeles.

Justiça barra mobilização em Portland

O presidente americano também tentou mobilizar oficiais de outros estados a Portland, em Oregon, para proteger um prédio do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE), mas o movimento foi barrado pela Justiça também neste domingo.

No sábado, uma juíza federal já havia suspendido o despacho de militares lotados em Oregon a Portland. Na ocasião, a magistrada Karin Immergut desconsiderou comentários da Casa Branca de que a cidade estaria “devastada pela guerra” e disse que “a determinação do presidente simplesmente não tinha base nos fatos.”

“Este é um país de leis constitucionais, não de lei marcial”, escreveu Immergut em sua decisão.

Embora Portland tenha registrado ataques contra propriedades federais, o governo Trump não conseguiu demonstrar “que esses episódios de violência fazem parte de uma tentativa organizada de derrubar o governo como um todo”, justificativa necessária para uso de força militar, disse ela.

Tensão em Chicago

O movimento da Casa Branca é uma reação aos embates registrados entre agentes do ICE em sua ofensiva antiimigração e manifestantes.

As operações do ICE pelo país, que ocorrem principalmente em cidades governadas por democratas, têm resultado em imagens onde homens mascarados e armados avançam contra moradores de forma agressiva.

Desde o início do mês, a tensão ganhou maiores proporções em Chicago, onde agentes do ICE passaram a realizar prisões em áreas com grande presença de imigrantes, em grande parte latinos.

Manifestantes passaram a se reunir perto de uma instalação de imigração fora da cidade, e 13 pessoas foram presas. No sábado, o Departamento de Segurança Interna (DHS) reconheceu que agentes do ICE atiraram em uma mulher americana, que, segundo as autoridades, teria jogado o carro contra um dos veículos de patrulha.

Defensores dos direitos dos imigrantes e moradores relataram que agentes federais usaram gás lacrimogêneo perto de mercados e lojas visadas para ações em outras partes de Chicago e detiveram uma vereadora enquanto ela questionava a tentativa de prisão de um homem.

Uma pesquisa da rede CBS divulgada no domingo mostrou que 58% dos americanos são contra o envio da Guarda Nacional para as cidades.

gq/ra (AFP, AP, OTS)