08/10/2025 - 15:32
Acordo para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza levaria à libertação de ativistas palestinos sob custódia israelense e dos reféns ainda em posse do Hamas.Um alto funcionário do Hamas afirmou nesta quarta-feira (08/10) que os negociadores do grupo islamista palestino e Israel trocaram listas de prisioneiros e reféns que seriam libertados caso um acordo fosse alcançado durante as negociações no Egito para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
O plano de paz de 20 pontos proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevê a remoção das forças de Israel em Gaza de uma “linha de retirada inicial” em troca da libertação dos reféns que o Hamas – considerado uma organização terrorista por União Europeia, Estados Unidos, Alemanha e vários outros países – sequestrou há dois anos, durante os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023.
Israel espera que as negociações levem à libertação ou à recuperação desses reféns, dos quais acredita-se que apenas 20 estejam vivos.
Após a libertação de todos os reféns, Israel deverá soltar 250 palestinos que cumprem penas de prisão perpétua, além de 1,7 mil moradores de Gaza que estavam detidos desde os ataques de 7 de outubro, incluindo todas as mulheres e crianças.
Além disso, para cada refém israelense cujos restos mortais forem libertados, Israel fará o mesmo com os restos mortais de 15 habitantes do enclave palestino.
As conversas indiretas entre Israel e o Hamas sobre a proposta de Trump estão em andamento no resort egípcio de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, desde a segunda-feira.
O terceiro dia de negociações teve início nesta quarta-feira. Segundo fontes familiarizadas com as discussões, essa última rodada está focada nos mecanismos e cronogramas para a implementação do plano. Um dos pontos contenciosos é justamente a definição de quais prisioneiros palestinos serão libertados.
Abaixo, alguns dos mais proeminentes prisioneiros palestinos detidos em Israel. Ainda não está claro se algum deles será libertado.
Abdallah al-Barghouti (Hamas)
Barghouti foi condenado a 67 penas de prisão perpétua em 2004 por um tribunal militar de Israel por seu envolvimento em uma série de ataques suicidas em 2001 e 2002, que mataram dezenas de israelenses. Ele é acusado de preparar os cintos explosivos usados nos ataques, incluindo o que foi detonado em um restaurante em Jerusalém, matando 15 pessoas, segundo informou o Exército israelense. Pai de três filhos, ele nasceu no Kuwait em 1972. Em 1996, mudou-se com a família para morar na vila de Beit Rima, perto de Ramallah, na Cisjordânia.
Ibrahim Hamed (Hamas)
Hamed, que recebeu 54 penas de prisão perpétua, foi preso em 2006 em Ramallah, acusado por Israel de planejar ataques suicidas que mataram dezenas de israelenses. Antes de ser preso, ele estava na lista de procurados de Israel há oito anos. Hamed era o principal comandante das Brigadas Al-Qassam, o braço militar do Hamas, na Cisjordânia. Ele é formado em ciências políticas pela Universidade Birzeit, perto de Ramallah. Enquanto estava foragido, Israel deteve sua esposa por oito meses.
Hassan Salama (Hamas)
Nascido no campo de refugiados de Khan Younis, em Gaza, em 1971, Salama foi condenado por orquestrar uma onda de atentados suicidas em Israel em 1996, que matou dezenas de israelenses e deixou centenas de feridos. Ele foi condenado a 48 penas de prisão perpétua. Salama disse que os ataques foram uma resposta ao assassinato do fabricante de bombas do Hamas, Yahya Ayyash, em 1996. Ele foi preso em Hebron, na Cisjordânia, no final daquele ano.
Marwan al-Barghouti (Fatah)
Um dos líderes do movimento palestino Fatah, que controla a Autoridade Palestina (AP), Barghouti é visto como um possível sucessor do presidente palestino Mahmoud Abbas. Ele se destacou como líder e organizador de ambas as intifadas, revoltas violentas dos palestinos contra Israel na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza desde 1987.
Barghouti foi preso em 2002, acusado de orquestrar emboscadas com armas de fogo e atentados suicidas, e condenado a cinco penas de prisão perpétua em 2004. Autoridades do Fatah disseram que ele criou as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, o braço armado do Fatah, sob as ordens do primeiro presidente da AP, Yasser Arafat.
Ahmed Sadaat (FPLP)
Saadat, líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), foi acusado por Israel de ordenar o assassinato do ministro israelense do Turismo, Rehavam Zeevi, em 2001.
Perseguido por Israel, ele se refugiou no quartel-general de Arafat em Ramallah. Sob um acordo com a Autoridade Palestina em 2002, Saadat foi julgado em um tribunal palestino e encarcerado em uma prisão da Autoridade Palestina, onde permaneceu sob supervisão internacional até ser capturado por militares israelenses em 2006 e julgado novamente por crimes como envolvimento com um grupo militante, tráfico de armas e ataques mortais. O ministério israelense da Justiça, contudo, decidiu que não havia provas suficientes para acusá-lo do assassinato de Zeevi. Ele foi condenado a 30 anos de prisão em 2008.
Pontos de atrito permanecem
De acordo com um porta-voz do Hamas que acompanha as negociações de paz no Egito, as partes estão otimistas e os mediadores fazem “enormes esforços para remover todos os obstáculos à implementação de um cessar-fogo”.
Ele, no entanto, ressaltou que questões importantes continuam sem solução, incluindo os detalhes da retirada parcial das tropas israelenses e a lista de prisioneiros a serem libertados, que ainda é um grande ponto de atrito.
O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, afirmou que o enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o genro do presidente, Jared Kushner, estavam em Sharm El-Sheikh e que as notícias que recebeu desde a chegada deles foram “muito encorajadoras”.
Al-Sisi disse que os enviados americanos vieram “com uma forte vontade, uma mensagem forte e um forte mandato do presidente Trump para encerrar a guerra nesta rodada de negociações”. Ele também convidou o próprio Trump a viajar ao Egito para uma cerimônia de assinatura, caso um acordo seja alcançado.
As negociações ocorreram sob a sombra do segundo aniversário do ataque do Hamas ao território de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251, sequestradas.
A reação israelense aos ataques, que desencadearam a guerra em Gaza, matou mais de 66 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.
rc/ra (Reuters, DPA, AFP)