Primeira fase inclui libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos, mas muitos pontos essenciais do plano de paz de Donald Trump ainda não estão definidos.Israel e o grupo radical palestino Hamas concordaram nesta quarta-feira (08/10) com a primeira fase do plano do presidente dos EUA, Donald Trump, para a Faixa de Gaza, o que inclui a libertação de todos os reféns israelenses e a retirada para uma linha delimitada das forças militares israelenses no enclave palestino.

Trump anunciou o acordo como “um primeiro passo rumo a uma paz sólida, duradoura e eterna”, mas não há clareza sobre a implementação de pontos essenciais do seu plano de paz, como a futura administração da Faixa de Gaza e o destino do Hamas.

O acordo deverá ser assinado ao meio-dia (horário local) desta quinta-feira, e um cessar-fogo deve entrar em vigor assim que o acordo for assinado, segundo fontes familiarizadas com as negociações.

O que se sabe sobre o acordo?

A primeira fase inclui a troca de todos os reféns israelenses mantidos em Gaza por prisioneiros palestinos que estão em Israel. Há 48 reféns mantidos em Gaza, dos quais acredita-se que 20 estejam vivos.

Em troca da libertação deles, Israel deverá libertar 250 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua e 1.700 prisioneiros presos após 7 de outubro de 2023.

Um alto funcionário da Casa Branca afirmou que, assim que Israel aprovar o acordo, terá que se retirar para a linha acordada, o que deve ocorrer em menos de 24 horas, após o que um prazo de até 72 horas para a libertação dos reféns vivos entrará em vigor. A linha acordada seria a chamada linha amarela em Gaza.

Israel afirmou que a libertação dos reféns pode começar já no sábado. O embaixador israelense nos EUA, Yechiel Leiter, disse à emissora CNN que os reféns vivos seriam libertados no domingo ou na segunda-feira. Em entrevista à emissora Fox News, Trump disse acreditar que os reféns “regressarão para casa na segunda-feira”.

Uma fonte do Hamas disse que os reféns vivos seriam entregues dentro de 72 horas após a aprovação do acordo pelo governo israelense. Autoridades do Hamas insistem que levará mais tempo para recuperar os corpos dos reféns mortos dos escombros de Gaza.

A lista final dos prisioneiros palestinos a serem libertados ainda não está definida. O Hamas comunicou na quarta-feira que entregou a lista dos prisioneiros palestinos mantidos por Israel que deseja que sejam trocados.

Essa lista deve incluir alguns dos prisioneiros mais proeminentes já presos por Israel, cuja libertação estava fora de questão em acordos anteriores. De acordo com um palestino próximo às negociações, a lista inclui Marwan al-Barghouti, líder do movimento Fatah, e Ahmed Saadat, chefe da Frente Popular para a Libertação da Palestina. Ambos cumprem múltiplas penas de prisão perpétua por envolvimento em ataques que mataram israelenses.

Uma pessoa envolvida nas negociações declarou ao jornal israelense Haaretz que Israel descarta libertar prisioneiros envolvidos no planejamento ou execução do ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.

O que disseram as partes?

O acordo foi confirmado por Israel, pelo Hamas e pelo Catar, um importante mediador.

O Hamas anunciou ter chegado a um acordo com Israel para pôr fim à guerra em Gaza e acrescentou que o acordo estipula também a entrada de ajuda humanitária. O grupo disse que “agradece profundamente” os esforços de Catar, Egito e Turquia e que “valoriza” os esforços de Trump para pôr fim à guerra “de forma permanente”.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou que convocará seu governo nesta quinta-feira para ratificar o plano de paz e agradeceu Trump pelo compromisso para libertar os reféns.

“Um grande dia para Israel. Amanhã convocarei o governo para ratificar o acordo e trazer para casa todos os nossos preciosos reféns. Agradeço aos heroicos soldados de Israel e a todas as forças de segurança. Graças à sua coragem e sacrifício, chegamos a este dia”, declarou.

O que ainda não está claro?

O anúncio de que Israel e Hamas chegaram a um acordo despertou grandes esperanças de que a guerra finalmente chegue ao fim, mas alguns pontos essenciais do plano de paz apresentado por Trump ainda não foram esclarecidos.

Um deles é administração pós-guerra para a Faixa de Gaza. O plano original de 20 pontos de Trump prevê um papel para a Autoridade Palestina (AP), mas somente após ela passar por grandes reformas, e descarta o envolvimento do Hamas, que governa Gaza desde que expulsou os rivais palestinos, em 2007.

Netanyahu se opõe a um papel para a Autoridade Palestina no governo da Faixa de Gaza. O plano de Trump o prevê, mas exige que a AP, que administra partes da Cisjordânia, passe por um amplo programa de reformas, o que pode levar anos para ser implementado.

O Hamas afirmou que entregaria o governo de Gaza apenas a um governo tecnocrata palestino supervisionado pela Autoridade Palestina e apoiado por países árabes e muçulmanos. O Hamas rejeita qualquer papel estrangeiro em Gaza, como o órgão internacional previsto no plano de Trump e que incluiria o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Outro ponto previsto no plano de paz e sobre o qual ainda não há clareza sobre sua implementação é o desarmamento e o destino do Hamas. O Hamas sempre rejeitou entregar suas armas e afirmou que só o faria se um Estado palestino fosse criado. A proposta de Trump é vaga sobre um futuro Estado palestino, algo que Netanyahu rejeita categoricamente.

Ao que tudo indica, esses dois pontos ainda não foram acertados. Diplomatas disseram que o acordo é apenas sobre a fase inicial. Apesar de ainda haver incertezas, o acordo foi recebido com alegria e alívio tanto por israelenses como palestinos e visto como um sinal de que a paz está mais próxima.

Onde o acordo foi alcançado?

O acordo sobre uma fase inicial do plano de 20 pontos de Trump é o resultado de negociações indiretas no Egito, mediadas pelo Catar, pelo Egito e pela Turquia. As negociações duraram três dias e foram apenas sobre essa fase inicial.

O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o genro do presidente, Jared Kushner, participaram das negociações de quarta-feira no Egito, que também contaram com a presença do primeiro-ministro do Catar, xeique Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, e do principal conselheiro de Netanyahu, Ron Dermer.

O acordo sobre a primeira fase do plano do presidente dos EUA, Donald Trump, para Gaza deve ser assinado ao meio-dia (horário local) desta quinta-feira no Egito, disse uma pessoa familiarizada com os detalhes do acordo à agência de notícias Reuters e que acrescentou que um cessar-fogo deve entrar em vigor assim que o acordo for assinado.