11/10/2025 - 16:14
Conscientes do crescente impacto ambiental da indústria moveleira, consumidores mais jovens lideram o interesse por peças duráveis e reutilizáveis.Cada móvel do apartamento de Daniel Santos em Berlim tem uma história. Há a escrivaninha que o levou aos antigos subúrbios soviéticos da cidade, a estrutura da cama que ele carregou com a ajuda de cinco amigos, e a cômoda de quase um século que ele restaurou com cola e pregos.
Santos diz que é “louco” pensar que o antigo móvel amarelo-pálido que comprou de um neto se desfazendo dos bens da família “sobreviveu até agora”. “Na verdade, há alguns dias, enviei fotos dele no meu quarto e ele ficou feliz em ver que a cômoda continua viva,” contou à DW.
Santos faz parte de uma geração mais jovem cada vez mais consciente da enorme pegada de carbono produzida pela indústria de móveis. Por isso, preferem comprar peças usadas e não querem adquirir itens que serão descartados pouco tempo depois.
Pesquisadores estimam que, globalmente, pelo menos 51 milhões de toneladas de móveis são consumidos todos os anos. Mais de 95% são descartados. Essa alta taxa de compra e descarte é consequência do “fast furniture”. Primo do “fast fashion”, o termo é usado para se referir à compra de móveis baratos e produzidos em massa, feitos para conveniência e não durabilidade.
Nos últimos anos, o estilo sempre mutável deste mercado incentiva as pessoas a jogarem fora os móveis antes do fim de sua vida útil. No Reino Unido, por exemplo, um estudo identificou que consumidores britânicos redecoram suas casas a cada um a cinco anos.
“Para se manterem na moda, recorrem a móveis baratos e descartáveis que podem ser facilmente substituídos quando a tendência de decoração muda,” escreveram os autores.
Além disso, os itens geralmente não são feitos para serem recicláveis. Um único sofá pode conter tecidos, espumas plásticas, compensado, papelão e molas metálicas. Tudo é unido com laminados, resinas e colas, o que torna a reciclagem mais difícil.
Nos Estados Unidos, só em 2018, foram geradas 12,1 milhões de toneladas de resíduos de móveis, com menos de 0,5% recicladas. Isso representa um aumento quase seis vezes maior em relação aos níveis da década de 1960.
A ascensão do fast furniture
A designer de móveis de Chicago, CoCo Ree Lemery, diz que a explosão do fast furniture é parcialmente impulsionada por materiais novos e baratos. A estante Billy da marca sueca Ikea é um exemplo clássico, diz ela.
Quando apareceu pela primeira vez no catálogo da empresa em 1979, tinha acabamento em madeira. Segundo Lemery, desde então, foi redesenhada com materiais mais simples. Hoje, a empresa afirma vender uma nova estante deste modelo a cada cinco segundos.
Lemery diz que a influência das marcas de fast fashion no design de decoração também foi um fator importante no crescimento do mercado de móveis baratos. Varejistas europeias de roupas lançaram divisões de artigos para o lar, por exemplo, apostando em tendências sazonais, como mesas rústicas para o outono ou cadeiras de veludo para o inverno, lembra a especialista.
Estas tendências de compra mostram uma ênfase maior em móveis baratos e da moda, afirma Lemery. “Então muitos designers, fabricantes e grandes empresas estão seguindo esses dados.”
Florestas sob pressão
Com o aumento da demanda por móveis baratos, há maior pressão sobre a cadeia de suprimentos e os recursos naturais. A Ikea é uma das maiores consumidoras de madeira do mundo, usando cerca de 0,5% do total colhido para fins industriais a cada ano, segundo a empresa.
O grupo ambientalista Greenpeace acusou a marca de derrubar florestas em montanhas da Romênia, que, segundo a ONG, deveriam ser protegidas por seu alto valor de biodiversidade.
À DW, a gigante de móveis disse que revisou o relatório do Greenpeace e defendeu que “a madeira usada nos produtos Ikea dessas florestas está em conformidade com as leis aplicáveis” e com os padrões do Forest Stewardship Council (FSC), uma ONG global que certifica a produção de madeira.
“Madeira de florestas antigas protegidas é estritamente proibida em nossa cadeia de suprimentos,” disse um porta-voz da empresa. “Mesmo assim, pedimos ao FSC Romênia que considere a necessidade de proteção adicional após nossa revisão.”
Geração Z impulsiona compras de segunda mão
Por outro lado, as gigantes do flat-pack, empresas que dominam o mercado de móveis desmontáveis, e varejistas de fast fashion podem estar perdendo influência entre os consumidores que compram itens de mobília pela primeira vez.
Segundo pesquisa do site de e-commerce Capital One Shopping, mais de um bilhão de pessoas visitam o Facebook Marketplace todos os meses. Estima-se que 491 milhões compram itens usados por meio deste canal.
Já um relatório de tendências da plataforma Pinterest revelou que buscas por “cozinhas de segunda mão” dispararam 1.012% e “decoração de segunda mão” 283%, com usuários da Geração Z representando metade da base do site.
Deana McDonagh, professora de design industrial na Universidade de Illinois, diz que os consumidores mais jovens estão recorrendo às compras de segunda mão por vários motivos: sustentabilidade, mudanças frequentes, orçamentos apertados, transporte limitado e também pela conexão emocional que formam com os itens adquiridos.
“Com esses móveis antigos, essas cadeiras velhas, você precisa investir em renová-los,” disse McDonagh, o que os torna parte da história de quem usa. Em Berlim, Santos se identifica com essa ideia, e garante que jamais jogaria fora a cômoda que restaurou.
Defensores da sustentabilidade dizem que o reaproveitamento é um dos antídotos mais claros contra os impactos ambientais do fast furniture. “Quanto mais você consegue obter dentro da sua bolha, melhor você está fazendo para o mundo,” disse Lemery.