Paul Byia é o chefe de Estado mais velho do mundo, no poder há 43 anos, com um histórico de repressão à oposição. Se reeleito para um oitavo mandato, poderá liderar o país até os 99 anos.A maioria dos 8 milhões de camaroneses aptos a votar na eleição presidencial deste domingo (12/10) conheceram apenas um governante em toda a sua vida. Paul Biya, de 92 anos, é o chefe de Estado mais velho do mundo, no poder há 43 anos. Se for reeleito, como indicam as projeções, poderá ocupar o cargo por mais sete anos – até os 99.

Biya enfrenta 11 adversários, incluindo o ex-porta voz de seu governo Issa Tchiroma Bakary, de 79 anos, que renunciou em junho após 20 anos ao lado do presidente. Bakary se tornou a principal força da oposição depois que o candidato Maurice Kamto, que então desempenhava esse papel, foi impedido de concorrer.

Kamto ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2018, mas sua candidatura foi vetada este ano pelo Conselho Constitucional. Grupos de direitos humanos, incluindo a Human Rights Watch, alertam para como a medida minou a credibilidade do processo eleitoral.

Nesta campanha, Bakary mobilizou multidões exigindo o fim do longo mandato de Biya e obteve o apoio de partidos da oposição e de grupos civis. No entanto, analistas avaliam que o presidente, no poder desde 1982, provavelmente será reeleito, dado seu controle da máquina estatal e uma oposição fragmentada. O resultado das urnas é esperado para daqui a 15 dias.

“Nada é certo; vamos esperar até sabermos o nome do candidato eleito”, disse o presidente a repórteres depois de votar, perto do palácio presidencial.

“Não devemos ser ingênuos. Sabemos muito bem que o sistema governante dispõe de amplos meios para obter resultados a seu favor”, rebateu o cientista político camaronês Stephane Akoa, à AFP.

O analista avalia que a campanha nos últimos dias foi “muito mais animada” do que normalmente é nessa fase, o que ainda pode trazer surpresas.

Voto jovem

O governo de Biya tem sido alvo de um movimento sem precedentes no país pedindo que ele deixe o poder. A própria filha do presidente, a rapper Brenda Biya, de 27 anos, fez campanha no TikTok para retirá-lo do poder, por ter feito “muita gente sofrer”.

Também das redes sociais, ela revelou ser gay e estar em um relacionamento com uma brasileira. Em Camarões, relações entre pessoas do mesmo sexo é crime, sob penas de até cinco anos de prisão e multa.

O presidente manteve seu habitual perfil discreto durante a campanha. Ele fez apenas uma aparição pública desde maio, na última terça-feira (07/10), em aparente boa forma, durante um comício sem público expressivo.

Enquanto isso, seus rivais investiram pesado em eventos públicos. Bakary atraiu nas última semanas a atenção de muitos jovens eleitores do país da África Central, onde metade da população tem menos de 20 anos.

Entre as principais queixas dos camaroneses, estão o alto custo de vida, da falta de água potável, de cuidados de saúde e de educação de qualidade. Mas essas frustrações permanecem confinadas às redes sociais, por enquanto.

“Há um sinal positivo de mudança, mas talvez não seja forte o suficiente para levar os jovens às ruas, como vimos em Madagascar, Tunísia e outros lugares”, avalia Akoa.

Histórico

Os críticos de Biya esperam pela alternância de poder após décadas de estagnação econômica e tensões na nação de 30 milhões de habitantes, produtora de petróleo e cacau. A votação ocorre sob a sombra de um conflito entre forças separatistas e o governo que assola as regiões de língua inglesa desde 2016.

Camarões é a economia mais diversificada da África Central, com abundância de recursos naturais e agrícolas. No entanto, cerca de 40% da população vive abaixo da linha da pobreza, de acordo com dados do Banco Mundial para 2024, e o desemprego é de 35% nas principais cidades.

O presidente camaronês está no poder desde 1982, quando depôs e mandou ao exílio seu então mentor, o ex-presidente Ahmadou Ahidjo. Desde então, ele comanda o país com mão de ferro, tendo eliminado uma emenda constitucional que limitava a permanência no poder de um presidente a dois mandatos.

Neste ano, o governo autorizou 55 mil observadores locais e internacionais para monitorar a votação, incluindo representantes da União Africana. O Conselho Constitucional tem até 26 de outubro para anunciar os resultados finais.

Mas várias grupos têm se articulado para compilar os resultados de forma independente, em plataformas na internet, o que tem suscitado críticas por parte do governo de tentarem desacreditar o sistema.

sf (AP, RT, AFP)