Restos mortais foram entregues após Israel anunciar que limitará a entrada de ajuda humanitária a Gaza e Trump ameaçar usar de violência contra o grupo militante palestino, caso ele não se desarme.O Hamas entregou nesta terça-feira (1410) mais quatro corpos de reféns mortos depois que Israel anunciou que irá limitar a entrada de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e de o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçar usar de violência contra o grupo militante palestino caso ele não se desarme.

Um dia após Trump discursar em Jerusalém, promovendo seu plano para encerrar a guerra, os combatentes ressurgentes do Hamas executaram homens nas ruas, e Israel informou às Nações Unidas que permitirá a entrada de apenas a metade do número de caminhões com ajuda acordado noacordo de cessar-fogo da semana passada.

Autoridades israelenses disseram que Israel decidiu restringir a ajuda e adiar os planos de abrir a passagem da fronteira sul com o Egito, porque o Hamas violou o acordo de cessar-fogo ao não entregar todos os corpos daqueles reféns que morreram após serem capturados na invasão de Israel pelo Hamas em outubro de 2023.

Horas depois, o Hamas informou aos mediadores que transferiria quatro corpos para Israel. Mais tarde, as autoridades israelenses afirmaram que a Cruz Vermelha havia recebido quatro caixões do Hamas e estava a caminho para entregar os restos mortais às forças israelenses.

Se suas identidades forem confirmadas, o número total de reféns mortos entregues pelo Hamas a Israel desde o início deste cessar-fogo chegará a oito, deixando 20 ainda na Faixa de Gaza.

O governo israelense garantiu que “todas as famílias dos reféns” foram informadas e “estamos com elas neste momento difícil”.

“Continuaremos atualizando as informações com dados confiáveis, conforme necessário”, concluiu o comunicado.

Os quatro corpos devolvidos na noite de segunda-feira foram identificados como sendo os de Bipin Joshi, um estudante nepalês de 24 anos sequestrado do Kibutz Kissufim; Guy Illouz, de 26 anos, sequestrado no festival de música Nova, palco do pior massacre (mais de 370 mortos) cometido em 7 de outubro; Daniel Peretz, capitão de um veículo blindado de transporte de pessoal capturado em seu tanque aos 22 anos; e Yossi Sharabi, morto em um ataque aéreo israelense em Gaza após ser sequestrado aos 53 anos do Kibutz Be’eri.

Em troca da devolução dos corpos, Israel enviou os restos mortais de 45 palestinos do território de volta para Gaza.

Trump: “Se não se desarmarem, nós os desarmamos”

O ataque israelense de dois anos deixou grande parte da Faixa de Gaza em ruínas. Na terça-feira, o Hamas afirmou que Israel estava matando pessoas em Gaza e violando o cessar-fogo. Trump sugeriu que o Hamas estava renegando sua promessa de devolver os mortos e ameaçou o grupo com violência.

“Se eles não se desarmarem, nós os desarmamos”, disse Trump a repórteres em Washington após retornar de sua viagem de fim de semana ao Oriente Médio. “E isso acontecerá de forma rápida e talvez violenta.”

O Hamas – considerado uma organização terrorista por alguns países – rapidamente recuperou as ruas das áreas urbanas de Gaza após a retirada parcial das tropas israelenses na semana passada.

Em um vídeo divulgado na noite de segunda-feira, combatentes do Hamas arrastaram sete homens com as mãos amarradas nas costas para uma praça da Cidade de Gaza, forçaram-nos a se ajoelhar e atiraram neles pelas costas, enquanto dezenas de curiosos assistiam.

Uma fonte do Hamas confirmou que o vídeo foi filmado na segunda-feira e que combatentes do Hamas participaram das execuções. A agência de notícias Reuters conseguiu confirmar a localização por meio de características geográficas visíveis.

Na segunda-feira, Trump proclamou o “amanhecer histórico de um novo Oriente Médio” ao parlamento israelense, enquanto Israel e o Hamas estavam trocando os últimos 20 reféns israelenses vivos em Gaza por quase 2 mil detidos e prisioneiros palestinos.

Obstáculos à paz permanente

Moradores de Gaza disseram que os combatentes do Hamas estavam cada vez mais visíveis na terça-feira, posicionando-se ao longo das rotas necessárias para a entrega de ajuda.

Autoridades de segurança palestinas disseram que dezenas de pessoas foram mortas em confrontos entre combatentes do Hamas e rivais nos últimos dias.

Enquanto isso, Israel, usando drones aéreos, matou cinco palestinos enquanto eles iam verificar casas em um subúrbio a leste da Cidade de Gaza, e um ataque aéreo israelense matou uma pessoa e feriu outra perto de Khan Younis, disseram autoridades de saúde de Gaza.

O Hamas acusou Israel de violar o cessar-fogo. O Exército israelense afirmou ter atirado contra pessoas que cruzaram as linhas de trégua e se aproximaram de suas forças após ignorar os apelos para recuar.

Uma cúpula coorganizada por Trump no Egito na segunda-feira terminou sem nenhum anúncio público de progresso significativo no estabelecimento de uma força militar internacional para Gaza, ou de um novo órgão de governo.

Fome continua em Gaza

A Cidade de Gaza e áreas vizinhas estão sofrendo com a fome que aflige mais de meio milhão de palestinos, mas caminhões de ajuda humanitária ainda não foram autorizados a entrar em Gaza na taxa máxima prevista de centenas por dia. Planos ainda não foram implementados para abrir a passagem para o Egito e permitir a saída de alguns moradores de Gaza, inicialmente para evacuar os feridos para tratamento médico.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a guerra não pode terminar até que o Hamas entregue suas armas e ceda o controle de Gaza, uma exigência que os combatentes rejeitaram.

Fontes do Hamas afirmaram que o grupo não toleraria mais violações da ordem em Gaza e teria como alvo colaboradores, saqueadores armados e traficantes de drogas. O grupo, embora bastante enfraquecido após dois anos de bombardeios israelenses e incursões terrestres, vem se reafirmando gradualmente desde que o cessar-fogo entrou em vigor.

Centenas de trabalhadores foram mobilizados para começar a remover os escombros das rotas necessárias para acessar moradias danificadas ou destruídas e para consertar encanamentos de água quebrados. A limpeza de estradas e a segurança também serão necessárias para aumentar a entrega de ajuda humanitária.

O cessar-fogo pôs fim a dois anos de guerra devastadora em Gaza, desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de 2023, no qual homens armados liderados pelo Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas e levaram 251 reféns para Gaza, de acordo com dados israelenses. O Exército israelense matou pelo menos 67 mil pessoas em Gaza, de acordo com autoridades de saúde locais, e milhares de outras pessoas podem ter morrido sob os escombros. O Serviço de Defesa Civil de Gaza disse que 250 corpos foram recuperados desde o início da trégua.

md (Reuters, EFE, AFP)