19/10/2025 - 15:42
País recebeu mais de US$ 740 milhões dos EUA em 2023, verba usada principalmente no combate ao tráfico de drogas. Tensão na região aumentou com ataques militares americanos a embarcações.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (19/10) que seu país deixará de apoiar financeiramente a Colômbia, acusando o governante do país, Gustavo Petro, de não combater o narcotráfico e de ser um “traficante”.
A Colômbia é o país da América do Sul que mais recebe verbas de Washington, segundo os dados mais recentes do governo americano, com mais de 740 milhões de dólares (cerca de R$ 4 bilhões) pagos em 2023. Metade desta verba é destinada ao combate do tráfico de drogas, enquanto o restante é gasto em programas humanitários e de alimentos.
“A partir de hoje, estes pagamentos ou qualquer outra forma de pagamentos ou ajudas não serão mais efetuados”, escreveu Trump na sua rede Truth Social, sem especificar de que ajudas se tratava.
Trump acusou Petro de “não fazer nada para impedir” a produção de drogas e de ser um “barão da droga que incentiva fortemente a produção maciça de entorpecentes”, aconselhando-o a combater o tráfico se não quiser que os EUA façam o trabalho por ele. “E isso não será feito de um jeito legal”, advertiu o americano.
O presidente colombiano, que é de esquerda e tem protagonizado embates com Trump, rechaçou as acusações. “O principal inimigo do narcotráfico na Colômbia, no século 21, foi aquele que descobriu as relações com o poder político da Colômbia. Esse inimigo fui eu”, escreveu Petro na rede social X. “Recomendo a Trump que olhe bem para a Colômbia e determine onde estão os narcotraficantes e onde estão os democratas.”
Tensões na América Latina
O mais recente ataque de Trump contra Petro suscita preocupação com um possível conflito em expansão na América Latina protagonizado pela Casa Branca, que já aumentou a pressão sobre a vizinha Venezuela e seu líder, Nicolás Maduro.
Navios de guerra, caças e drones americanos estão posicionados na região para o que Washington descreveu como um “conflito armado” com cartéis de drogas. Trump também autorizou operações secretas dentro da Venezuela.
Diferentemente da Venezuela, a Colômbia é uma aliada de longa data dos EUA na região. Até setembro, o país estava entre os 20 principais parceiros dos EUA no combate ao tráfico de drogas, o que lhe permitia receber vultosas somas de Washington. Mas a Casa Branca revogou esse status, alegando uma “produção recorde” de cocaína e “tentativas fracassadas” de negociações com “grupos narcoterroristas”.
Horas depois do anúncio de Trump neste domingo, o secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, informou que as forças americanas haviam abatido na sexta-feira (17/10) uma embarcação associada ao ELN, grupo armado colombiano em conflito com o governo Petro, que carregava “quantidades substanciais de droga”.
Ataques americanos do tipo na região deixaram ao menos 32 mortos desde o início de setembro.
Também no domingo, Petro acusou o governo americano de assassinar um pescador colombiano que não tinha elos com o narcotráfico. “Os EUA invadiram nosso território nacional, dispararam um míssil para matar um humilde pescador, e destruíram sua família, seus filhos”, afirmou nas redes sociais, acrescentando que tomou providências para encaminhar o caso a cortes internacionais e americanas.
A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína, com um recorde de 2,6 mil toneladas em 2023 – 53% a mais que no ano anterior, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Mergulhado numa guerra civil há mais de meio século entre guerrilheiros, narcotraficantes e forças governamentais, a Colômbia agora atravessa uma nova onda de violência em áreas onde o governo passou anos combatendo grupos armados que lucram o tráfico.
Petro tentou relançar as negociações de paz com a maioria desses grupos, seis anos depois do acordo histórico de desarmamento das FARC, mas boa parte fracassou ou está num impasse.
ra (Lusa, AP, Reuters)