24/10/2025 - 17:06
Militares dos EUA atuam na costa da Venezuela sob a justificativa de combate ao narcotráfico. Além de caças, drones, helicópteros e bombardeiros, presença ostensiva foi reforçada agora com porta-aviões.Sob a justificativa oficial de combater o narcotráfico e deter o envio de drogas aos Estados Unidos, o governo do presidente americano Donald Trump mobiliza desde agosto tropas no mar do Caribe, em frente à costa da Venezuela.
A mobilização inclui destróieres com mísseis guiados, caças F-35B, drones MQ-9 Reaper, um grupo de assalto anfíbio com 4,5 mil militares (sendo cerca de 2,2 mil fuzileiros navais), um submarino de propulsão nuclear e um navio de apoio a operações de guerra especial. Isso representa 8% de toda a frota global americana de navios de guerra.
Nas últimas semanas, os Estados Unidos também fizeram demonstrações de força aérea. O 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais, que dá apoio de helicóptero em missões das forças de operações especiais Navy SEALs, Boinas Verdes e Força Delta, parece ter sobrevoado a costa venezuelana.
O Exército americano também posicionou três bombardeiros estratégicos B-52 na região. E ao menos um bombardeiro supersônico B-1B foi visto voando em direção à Venezuela nesta quinta-feira (23/10), segundo sites de rastreamento de tráfego aéreo. Trump, porém, negou que a aeronave tenha realizado o trajeto.
Nesta sexta-feira (24/10), autoridades americanas anunciaram o reforço de um porta-aviões capaz de transportar mais de 75 aeronaves, incluindo destróieres, no que agências de notícias descreveram como uma escalada significativa das tensões.
A embarcação, com mais de 5 mil homens a bordo, se encontra atualmente em um porto na Croácia. Os EUA têm apenas 11 porta-aviões. Batizada de Gerald Ford, ela tem um reator nuclear próprio e um arsenal de mísseis de médio alcance e terra-ar, além de radares sofisticados que podem ajudar a controlar o tráfego aéreo e marítimo.
A ostensiva presença militar americana suscitou dúvidas sobre o real interesse de Trump na região, que tem especulado sobre a possibilidade de atacar a Venezuela e protagonizado embates recorrentes com seu presidente, Nicolás Maduro.
Veja, abaixo, alguns dos momentos-chave da escalada militar dos Estados Unidos sob Trump na região.
Novo tom na Casa Branca
Ao assumir a Casa Branca em janeiro de 2025, Donald Trump revoga a extensão do status de proteção de 600 mil imigrantes venezuelanos nos Estados Unidos, expondo-os ao risco de deportação. Seu secretário de Estado, Marco Rubio, afirma que a Venezuela é “governada por uma organização do narcotráfico”.
Maduro é designado chefe de organização terrorista estrangeira
Em julho, os EUA expedem nova licença autorizando a americana Chevron a extrair petróleo venezuelano após um acordo para troca de prisioneiros. No mesmo mês, Washington designa o “Cartel de los Soles”, supostamente encabeçado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro e formado por militares associados ao narcotráfico, como uma organização terrorista estrangeira.
Cabeça a prêmio
Em agosto, Washington anuncia um prêmio de 50 milhões de dólares por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro por “violar leis antinarcóticos” e liderar um “Estado narcoterrorista” vinculado a cartéis de cocaína.
Pentágono autorizado a usar força militar contra cartéis de droga na América Latina
Também em agosto, jornais americanos noticiam que Trump assinou uma ordem secreta autorizando o Pentágono a usar força militar contra cartéis de drogas enquadrados como organizações terroristas.
Congelamento de bens
Em 12 de agosto, o regime de Maduro prende 13 supostos integrantes de “células terroristas” ligadas à oposição e as acusa de planejar um atentado na capital, Caracas. Eles acabariam sendo soltos cerca de duas semanas depois. Antes disso, em 13 de agosto, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, anuncia o congelamento de mais de 700 milhões de dólares em ativos ligados a Maduro.
EUA deslocam tropas para perto da Venezuela
Em 18 de agosto, Washington anuncia o envio de três destróieres e um grupo de navios de desembarque com 4,5 mil soldados (incluindo 2,2 mil fuzileiros navais) em direção à costa venezuelana. A justificativa: “Enfrentar as ameaças dos cartéis latino-americanos de drogas”.
Maduro reage prometendo mobilizar 4,5 milhões de milicianos em todo o país – observadores independentes estimam que o número real não passe de 300 mil – e intensifica os controles de fronteira.
Uma semana depois, em 25 de agosto, um cruzeiro com mísseis guiados e um submarino de propulsão nuclear se juntam à missão americana no Mar do Caribe. Em resposta, Maduro anuncia a mobilização de drones e barcos ao longo da costa venezuelana.
Primeiro ataque no Mar do Caribe
Em 2 de setembro, os EUA divulgam um vídeo que mostra a destruição, em “águas internacionais”, de uma embarcação supostamente carregada de drogas e ligada ao cartel de drogas venezuelano Tren de Aragua, também classificado por Washington como organização terrorista. Onze pessoas morreram.
Trump não descarta ataques em solo venezuelano
“Vamos ver o que acontece”, diz Trump ao ser perguntado, em 14 de setembro, se atacaria alvos em solo venezuelano.
No dia anterior, caças F-35 americanos haviam chegado a Porto Rico. O ministro venezuelano da Defesa, Vladimir Padrino, ameaça retaliar países da região que servirem de base americana para ataques contra Caracas. Em 2 de outubro, Padrino denuncia o que chamou de “assédio militar” por caças que estariam sobrevoando próximo da costa venezuelana.
Novos ataques no Mar do Caribe
Em 3 de outubro, o secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, anuncia que os EUA bombardearam um barco em águas internacionais próximo à Venezuela, e que quatro “narcoterroristas foram mortos”.
De 2 de setembro até 24 de outubro, dez embarcações – nove barcos e um semi-submersível – foram alvo dos militares americanos, com um saldo total de 43 mortos, de diferentes nacionalidades, sendo oito delas no Mar do Caribe. Em nenhum dos casos as autoridades americanas divulgaram evidências de que elas de fato transportavam drogas. Especialistas consideram as execuções sumárias ilegais, mesmo que tenham como alvo traficantes confirmados.
Nobel da Paz para opositora venezuelana
Em 10 de outubro, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado é premiada com o Nobel da Paz e dedica a láurea a Trump. Maduro reage dias depois com o fechamento das embaixadas da Venezuela na Noruega e na Austrália.
Trump autoriza operações da CIA contra a Venezuela
Em 15 de outubro, reportagens na imprensa americana revelam que Trump autorizou operações secretas da CIA na Venezuela. A informação foi posteriormente confirmada pelo próprio Trump, que declarou cogitar também ataques terrestres contra cartéis de drogas do país.
“Vamos atingi-los de forma muito dura quando eles vierem por terra”, disse em 22 de outubro. “Estamos totalmente preparados para fazer isso, e provavelmente vamos voltar ao Congresso e explicar exatamente o que estamos fazendo quando chegarmos ao país [Venezuela].”
No dia seguinte, Trump afirmou que não vai “necessariamente pedir [ao Congresso americano] uma declaração de guerra” para autorizar operações militares contra supostos traficantes, e sugeriu que pretende atacar o país em breve.
Maduro diz que Venezuela tem 5 mil mísseis antiaéreos russos
Reagindo às ameaças de Trump, Maduro afirmou em 22 de outubro que o país conta com “mais de 5 mil” mísseis antiaéreos russos Igla-S – arma concebida para abater aviões a baixa altitude.
No dia seguinte, porém, adotou um tom mais conciliatório, após Trump confirmar que autorizou operações secretas da CIA na Venezuela: “Paz, sim; paz, sim, para sempre; paz para sempre. Sem guerra maluca, por favor!”, disse, em inglês, durante um encontro com sindicalistas leais a Caracas.
Já nesta quinta-feira, porém, o ministério das Relações Exteriores de Trinidad e Tobago, que divide parte de sua costa com a Venezuela, anunciou que receberá um navio de guerra e um grupo de fuzileiros navais americanos para realizar exercícios militares no final de outubro.
Brasil reage: “Não podemos aceitar intervenção externa”
Sem citar diretamente a Venezuela ou Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta sexta-feira (24/10) a atuação dos militares americanos na região, afirmando que o combate ao narcotráfico precisa ser feito dentro da lei e com respeito à soberania de outros países.
“Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer”, declarou. “Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ser difícil viver.”
Já Celso Amorim, assessor especial de Lula, foi mais direto: “Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso provocaria um enorme ressentimento”, afirmou à agência de notícias AP. “Isso poderia inflamar a América do Sul e levar à radicalização da política em todo o continente.”
Além de Lula, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também tem criticado a ação americana no Mar do Caribe, qualificando os ataques como “execuções extrajudiciais”.
Governo Trump avalia atacar pontos de produção de cocaína na Venezuela
Os planos foram noticiados nesta sexta-feira (24/10) pela emissora CNN, que cita três emissários da Casa Branca. O martelo da decisão, porém, ainda não teria sido batido.
ra (AFP, AP, ots)
