30/10/2025 - 10:37
Um dia após Putin anunciar sucesso de novo drone submarino atômico, Trump afirma que testes de armas nucleares deverão ser retomados nos EUA imediatamente devido aos programas de outros países.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (30/10) ter instruído o Departamento de Defesa a começar imediatamente a testar armas nucleares para se manter em “pé de igualdade” com outros países.
O anúncio de Trump, que faz referência direta à Rússia e à China, foi feito pouco antes de um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, e pouco depois de o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ter anunciado um teste bem-sucedido de um novo drone submarino movido a energia atômica e com capacidade nuclear, chamado de Poseidon.
A postagem de Trump não deixa claro se ele se referia a testes de ogivas nucleares ou a testes de sistemas de armas capazes de transportar essas ogivas.
O uso de armas nucleares para dissuasão, algo comum durante a Guerra Fria, voltou a ganhar destaque com a guerra na Ucrânia, após a Rússia ter repetidamente ameaçado tanto os EUA quanto a Europa.
Em 1996, o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT) proibiu explosões nucleares por todos os países, em todos os lugares. Ele foi assinado pela Rússia em 1996 e ratificado em 2000. Os Estados Unidos assinaram o tratado em 1996, mas não o ratificaram. Em 2023, Putin revogou formalmente a ratificação do CTBT pela Rússia, alinhando seu país à situação dos Estados Unidos.
Declarações imprecisas
Trump afirmou que os Estados Unidos possuem mais armas nucleares do que qualquer outro país, seguidos pela Rússia e, “num terceiro lugar muito distante”, pela China, mas que os chineses estarão “no mesmo nível em cinco anos”.
O número exato de ogivas nucleares que cada país possui é secreto. Acredita-se que a Rússia tenha 5.580 ogivas nucleares, de acordo com a Associação de Controle de Armas, com sede em Washington, enquanto os EUA têm 5.225. Os dois países têm, juntos, quase 90% das ogivas atômicas do mundo.
O arsenal nuclear americano é mantido pelo Departamento de Energia e pela Administração Nacional de Segurança Nuclear, uma agência semiautônoma dentro dele – e não pelo Departamento de Defesa, que Trump chama de Departamento da Guerra e que diz ter instruído a testar armas nucleares.
O Departamento de Energia supervisiona os testes de armas nucleares desde sua criação, em 1977. Antes disso, duas outras agências – e não o Departamento de Defesa – realizaram testes.
Quando os testes nucleares pararam?
O último teste nuclear dos EUA foi em 1992. Chamado Divider, ele ocorreu em 23 de setembro daquele ano no campo de testes de Nevada, um extenso complexo a cerca de 100 quilômetros de Las Vegas.
A China e a França realizaram seus últimos testes nucleares em 1996, e a antiga União Soviética, em 1990.
Desde o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares foram realizados dez testes nucleares. A Índia realizou dois em 1998, o Paquistão, também dois em 1998, e a Coreia do Norte realizou testes em 2006, 2009, 2013, 2016 (duas vezes) e 2017, de acordo com as Nações Unidas. Nenhum desses três países assinou o CTBT.
Por que os testes pararam?
Os Estados Unidos pararam seus testes nucleares por uma série de motivos. Um deles foi o colapso da União Soviética e o consequente fim da Guerra Fria.
Além disso, os EUA têm décadas de dados obtidos com os testes, o que lhes permite usar técnicas de modelagem para determinar se uma arma detonaria com sucesso.
O fim da Guerra Fria também abriu caminho para o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares, que os EUA assinaram em 1996 – sem jamais ratificá-lo.
A preocupação com o impacto dos testes na saúde humana e no meio ambiente também influenciou a decisão de pará-los.
O impacto dos testes ocidentais no Pacífico e dos testes soviéticos no Cazaquistão e no Ártico foi significativo tanto para o meio ambientequanto para a população dessas regiões. Ativistas afirmam que milhões de pessoas no Pacífico e no Cazaquistão tiveram suas terras contaminadas por testes nucleares e enfrentam problemas de saúde há décadas.
Outro argumento pelo fim dos testes era que, com isso, as tensões entre Moscou e Washington poderiam ser reduzidas.
Para que reiniciar os testes nucleares?
A declaração de Trump não deixa claro o objetivo de reiniciar testes de armas nucleares e diz apenas que isso ocorreria devido aos programas de testes de outros países. Os dois motivos para realizar um teste nuclear seriam coletar informações sobre a arma testada ou enviar um sinal a outros países.
Especialistas em não proliferação de armas nucleares alertaram que novos testes dos EUA possivelmente serviriam como pontapé inicial para outras potências nucleares iniciarem seus próprios testes em larga escala.
“Reiniciar o programa de testes nucleares dos EUA poderia ser uma das ações políticas de maior consequência do governo Trump – um teste dos EUA poderia desencadear uma cadeia de eventos descontrolada, com outros países possivelmente respondendo com seus próprios testes nucleares, desestabilizando a segurança global e acelerando uma nova corrida armamentista”, alertaram especialistas num artigo em fevereiro na revista Boletim dos Cientistas Atômicos.
“O objetivo de realizar um teste nuclear acelerado só pode ser político, não científico. Isso daria à Rússia, à China e a outras potências nucleares carta branca para reiniciar seus próprios programas de testes nucleares, essencialmente sem consequências políticas e econômicas.”
O Kremlin salientou que a proibição global de testes nucleares permanece em vigor, mas advertiu que, se algum país retomar os testes nucleares, a Rússia fará o mesmo.
Onde seriam feitos os testes dos EUA?
Qualquer futuro teste dos EUA provavelmente ocorreria no estado de Nevada, no antigo campo de testes, mas muito trabalho provavelmente precisaria ser feito nesse local para prepará-lo, visto que já se passaram mais de 30 anos desde o último teste.
Em média, 20 mil pessoas estavam no local para organizar e preparar os testes. Essa capacidade diminuiu nas décadas seguintes.
Quando os testes nucleares começaram?
Os Estados Unidos inauguraram a era nuclear em julho de 1945 com o teste chamado de Trinity, no qual ocorreu a detonação de uma bomba atômica de 20 quilotons em Alamogordo, Novo México.
Em seguida, os EUA lançaram bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, para forçar o Japão a se render na Segunda Guerra Mundial.
Os primeiros testes americanos foram atmosféricos, mas depois foram transferidos para o subsolo para limitar a precipitação radioativa.
A União Soviética atemorizou o Ocidente ao detonar sua primeira bomba nuclear apenas quatro anos depois, em agosto de 1949.
Nas cinco décadas entre 1945 e o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares, em 1996, mais de 2 mil testes nucleares foram realizados, sendo pouco mais de mil deles pelos Estados Unidos e 715 pela União Soviética, de acordo com as Nações Unidas. O Reino Unido realizou 45 testes, a França, 210, e a China, 45.
