31/10/2025 - 14:21
Passagem da tempestade devastadora pelo Caribe reacende debate sobre impacto do aquecimento global na intensidade e frequência dos furacões.Em meio a um dos eventos climáticos mais destrutivos da temporada, o 53º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico da Reserva da Força Aérea dos EUA, popularmente conhecido como “caçadores de furacões”, conseguiu penetrar no olho do furacão Melissa para coletar dados e capturar imagens impressionantes que revelam a magnitude do fenômeno.
De acordo com dados do Centro Nacional de Furacões, divulgados pela emissora americana ABC News, o olho do Melissa se estendeu por aproximadamente 18 quilômetros e tinha uma forma perfeitamente definida, como mostram as imagens compartilhadas nas redes sociais.
As gravações mostram um anel de nuvens densas girando em alta velocidade ao redor de um núcleo de aparente calma, uma cena hipnotizante que mascara a violência que a tempestade desencadeia além desse ponto.
No entanto, a missão não foi livre de perigos. Segundo a ABC News, a equipe enfrentou “forças mais intensas que o normal” durante o voo na manhã desta terça-feira (28/10), o que os obrigou a retornar à sua base de operações em Curaçao para uma inspeção de segurança.
Uma situação semelhante ocorreu nesta segunda-feira, quando outro voo “deixou a tempestade mais cedo” após encontrar forte turbulência.
Apesar desses contratempos, a Força Aérea conseguiu realizar diversas incursões bem-sucedidas no olho do furacão ao longo da segunda-feira, coletando dados vitais para o Centro Nacional de Furacões e documentando o poder extraordinário da tempestade.
Melissa se tornou “a tempestade do século” para a Jamaica, de acordo com Anne-Claire Fontan, especialista em ciclones tropicais da Organização Meteorológica Mundial.
Desde que o furacão Sandy, de categoria 1, atingiu a Jamaica em 2012, a ilha não havia enfrentado um fenômeno semelhante e jamais havia sido atingida diretamente por uma tempestade de categoria 5. O Melissa atingiu a costa nesta terça-feira na cidade de Black River, em Saint Elizabeth, sudoeste da Jamaica, como um furacão de categoria 5 – a mais alta na escala Saffir-Simpson – com ventos sustentados de 298 quilômetros por hora, segundo a ABC News.
O primeiro-ministro jamaicano, Andrew Holness, declarou o país como “zona de desastre” e, após sobrevoar a área afetada, afirmou que as imagens de destruição estavam por toda parte.
No total, o furacão Melissa deixou pelo menos 32 mortos em sua passagem pelo Caribe, de acordo com a última contagem: 23 no Haiti, 4 na Jamaica, 4 no Panamá e 1 na República Dominicana. O Haiti foi o país mais atingido em termos de vítimas, principalmente devido à inundação do rio La Digue em Petit-Goâve, que causou a morte de pelo menos 20 pessoas, incluindo dez crianças.
A tempestade continuou sua trajetória devastadora em direção a Cuba, onde atingiu a costa na quarta-feira como um furacão de categoria 3. Embora ainda não haja relatos oficiais de mortes, os danos materiais foram extensos.
Mudanças climáticas intensificam furacões
Mas por trás do espetáculo visual e da destruição, há um alerta científico cada vez mais claro. De acordo com um novo estudo do Imperial College London, as mudanças climáticas causadas pelo homem tornaram uma tempestade como o furacão Melissa até quatro vezes mais provável e aumentaram sua intensidade em 7%.
Em um mundo sem o aquecimento global, um furacão dessa magnitude atingiria a Jamaica apenas uma vez a cada 8.000 anos. Hoje, a frequência estimada é de uma vez a cada 1.700 anos.
“As mudanças climáticas causadas pelo homem claramente tornaram o Melissa mais forte e mais destrutivo”, disse o climatologista Ralf Toumi.
Sua colega, Emily Theokritoff, ressaltou a dimensão ética do desastre. “Pequenos estados insulares em desenvolvimento têm pouca responsabilidade pela crise climática, mas sofrem algumas de suas piores consequências.”
rc (Reuters, DPA, EFE, ots)
