07/11/2025 - 15:26
Em 2011, quando ainda não se obtinham muitos recursos para pesquisa e equipamentos adequados, o geólogo e doutor em bioestratigrafia Vladimir de Souza deu início, na Universidade Federal de Roraima (UFRR), ao que seria uma das recentes descobertas mais interessantes para a ciência: foram encontradas pegadas de dinossauros com mais de 100 milhões de anos em Bonfim, no norte do estado, um indicativo de que dinossauros viveram na região.
+ Pegadas de dinossauros com mais de 100 milhões de anos são descobertas na Amazônia
As pegadas ocorrem na Formação Serra do Tucano. Essa formação, que é uma unidade geológica de rochas sedimentares, também coexiste com a Formação Apoterí, representante das rochas vulcânicas. São essas rochas que foram datadas na região de descoberta, mais ou menos, entre 178 a 103 milhões de anos. Dessa forma, é possível estimar a idade da bacia.

Quando se encontra uma pegada, seja ela de qual espécie for, esse material passa por um processo de limpeza, depois se é tirada diversas fotografias para transformar tudo isso em um modelo 3D de alta precisão, a chamada fotogrametria para descrever esse material.
Por conta do posicionamento na coluna estratigráfica, onde a Formação Serra do Tucano está localizada, alguns estudos da Petrobras estimam que a região se formou entre 127 a 103 milhões de anos atrás. Então, essas pegadas, como não se sabe qual estrato elas estão, é atribuído essa mesma idade.
Como as pegadas são identificadas?
Segundo Lucas de Souza Barros, geólogo pela UFRR e mestre em Paleobiologia pela Unipampa, não existe um catálogo comparativo para identificar as pegadas. “Quando vou a campo, identifico elas. E depois que é coletado o modelo 3D, isso é comparado e feito uma extensa revisão bibliográfica. Mais de 100 artigos são utilizados, comparando uma a uma, as que são parecidas, as que têm referência cruzada, e a gente vai chegando ali numa pegada que é mais próxima. Então, esse é um trabalho bem extenso. Não existe um atlas de pegadas”, explicou Lucas à IstoÉ.

De que forma se diferenciam as espécies?
Identificar uma espécie de dinossauro por meio de uma pegada é virtualmente impossível. Os pesquisadores se aproximam até um certo nível taxonômico de um certo grupo de dinossauros. No caso dos terópodes e dos ornitópodes, eles compartilhavam uma característica: pegadas com três dígitos funcionais.
Só que os ornitópodes também poderiam deixar as pegadas dos membros anteriores, da pata da frente. Por tanto, seriam pegadas menores que acompanhariam essas pegadas de três dedos. Então, quando se observa isso, é possível saber que eram ornitópodes. Pelo registro fóssil, se entende que esses seres vivos caminhavam de determinada forma e seriam semibípedes. No caso dos dromaeosauridae, popularmente chamados de raptores, eles deixavam pegadas com apenas dois dígitos funcionais. Então, quando se encontra essas pegadas, é possível saber que era um terópode do grupo dos dromaelsauídeos.
Assim como as pegadas de sauropodes caracterizadas por sua grande pegada, pescoço e cauda alongados e às vezes com cinco garras identificáveis.
Pesquisas continuam
Após a identificação das pegadas, os esforços agora estão voltados para uma terra indígena chamada de Jabuti, onde há diversos afloramentos que serão explorados e estudados. “Esperamos muito que mais pegadas apareçam. Nós já temos a autorização da FUNAI para começar esse trabalho. Identificar uma espécie de dinossauro através de uma pegada é virtualmente impossível”, contou o geólogo.
Apesar de boa parte do extenso trabalho ter sido realizada com equipamentos e recursos próprios, a pesquisa não contou apenas com a colaboração do professor Vladimir. Expedições de campo do geólogo Lucas Souza, com o apoio da Unipampa, campus de São Gabriel, por meio de orientações do professor líder do laboratório de paleobiologia da Unipampa, Felipe Pinheiro, junto ao financiamento do CAPES, possibilitaram a importante descoberta.
