08/03/2019 - 8:47
Mulheres no poder estão enfim deixando de ser novidade, mas o caso de Jacinda Ardern, líder do Partido Trabalhista da Nova Zelândia e primeira-ministra do país desde outubro de 2017, é bem mais raro: antes dela, apenas uma governante – Benazir Bhutto, do Paquistão – engravidou no cargo.
Hoje com 38 anos, Jacinda havia manifestado, antes de se tornar premiê, intenções de constituir uma família, e no dia seguinte à sua posse foi questionada sobre a conveniência de esse “risco” ocorrer durante seu mandato, com um consequente afastamento temporário do cargo.
A resposta dela já se tornou clássica: “É totalmente inaceitável em 2017 dizer que as mulheres deveriam responder a essa pergunta no local de trabalho. É uma decisão das mulheres escolher quando ter filhos, e ela não deve predeterminar se elas recebem ou não um emprego ou têm oportunidades de emprego.”
O que veio a seguir é conhecido: Jacinda e seu companheiro, o apresentador de TV Clarke Gayford, tiveram uma filha, Neve Te Aroha, nascida em 21 de junho de 2018. A primeira-ministra tirou seis semanas de licença-maternidade, período durante o qual o primeiro-ministro adjunto, Winston Peters, assumiu o cargo – e tudo correu na mais absoluta normalidade.
Quando a pequena Neve tinha três meses de vida, Jacinda fez história como a primeira líder mundial a participar da reunião de uma Assembleia geral das Nações Unidas com seu bebê, ocasião em que fez um discurso na cúpula de paz de Nelson Mandela. A família toda viajou para a ocasião porque Jacinda ainda amamentava a filha e teria que ficar seis dias em Nova York. As despesas da viagem do companheiro – com quem não é casada – foram pagas pelo casal e não saiu do bolso do contribuinte.
“Não sou a primeira mulher multitarefa. Não sou a primeira mulher a trabalhar e ter um bebê – há muitas mulheres que fizeram isso antes”, é outra de suas colocações mais conhecidas. Mais recentemente, em janeiro de 2019, Ardern disse em entrevista à BBC que conduzir um país e ser mãe de primeira viagem era “uma luta, às vezes “, mas que isso está dando a ela uma experiência valiosa e mais próxima de como as mulheres normalmente administram seu trabalho e suas responsabilidades familiares.
Na mesma ocasião, a entrevistadora perguntou se ela era mesmo feminista e se ia pedir Gayford em casamento. Jacinda foi categórica na resposta: “Sim, absolutamente, eu sou absolutamente uma feminista. Mas quero fazê-lo passar pela dor e tortura de ter de agonizar com aquela pergunta [pedido de casamento]. Não o livro disso assim, nem pensar”.