28/02/2019 - 11:39
Escarlatina, coqueluche, gota e desnutrição soam como uma realidade distante das ruas poluídas da Londres do início do século passado. Comuns em meados do século 19, antes das maravilhas do saneamento básico, dos programas de vacinação e da ciência moderna, essas doenças estão voltando ao cotidiano no Reino Unido.
Um levantamento entre os dados do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, feito pelo Partido Trabalhista, a atual oposição do governo de Theresa May (Partido Conservador), revelou um aumento de 52% das “doenças vitorianas” (era da Rainha Vitória, de junho de 1837 a janeiro de 1901) desde 2010/2011.
Os casos de escarlatina dispararam 208% na última década, saltando de 429 casos em 2010/11 para 1.321 em 2017/18 na rede pública de saúde. Esta doença bacteriana foi uma das principais causas de morte entre crianças no início do século 20. Pode surgir de uma infecção na garganta tendo sintomas como dor de garganta e de cabeça, febre, inchaço dos gânglios linfáticos e erupções cutâneas característica de cor rosa-avermelhada.
Já a coqueluche, que quase desapareceu no Reino Unido durante a década de 1950 graças aos programas de vacinação, voltaram aos registros de internações hospitalares. Seu aumento no mesmo período alcançou 59%. Trata-se de uma infecção bacteriana altamente contagiosa dos pulmões e das vias respiratórias, levando a crises de tosse repetitiva por longos períodos.
A gota também experimentou um crescimento de 38% (de 4.935 casos em 2010/11 para 6,824 em 2017/18). Esta é uma forma dolorosa de artrite que envolve o acúmulo de ácido úrico e a formação de cristais ao redor das articulações, dificultando os movimentos do corpo. No século 19, a gota foi o resultado de uma dieta glutona, no entanto, agora é mais associada a comida rápida e bebidas calóricas.
Ainda engrossam as descobertas, o fato de que a expectativa de vida, embora em aumento em todo o Reino Unido, vem diminuindo em algumas comunidades mais pobres. As internações hospitalares por desnutrição subiram 54%, passando de 531 em 2010/11 para 819.
Essa regressão na saúde, segundo o comunicado oficial do Partido Trabalhista, que realizou o levantamento de forma independente, tem suas origens nos grandes cortes nos serviços de saúde, serviços sociais e outros serviços públicos feitos pelo atual governo conservador.
“A maldita verdade é que a austeridade está tornando nossa sociedade mais doente, o que significa que os pobres morrem mais jovens. (…) Pelo segundo ano consecutivo, nossas taxas de mortalidade infantil pioraram. Isso quer dizer que alguns dos bebês mais vulneráveis [do Reino Unido] têm menos chances de sobreviver do que os bebês na Europa Ocidental”, afirma no comunicado Jonathan Ashworth, membro do Ministério da Saúde e Assistência Social do Partido Trabalhista.