Novos estudos sobre “Cidades e Economia Circular dos Alimentos”, da Fundação Ellen MacArthur, destacam que, na cidade de São Paulo, um redesenho inspirado nos princípios de uma economia circular poderia construir um sistema alimentar mais benéfico para o meio ambiente, para a população e a economia locais.

Substituindo o sistema de alimentos atual, que é linear e causa danos à saúde humana e ao meio ambiente, além de gerar grandes desperdícios, a cidade poderia captar algo em torno de R$ 500 milhões anualmente, poderia evitar 342.000 toneladas de emissões de gases de efeito estufa por ano  e deixaria de consumir 46 milhões m3 de água doce a cada ano.

O relatório Cidades e Economia Circular dos Alimentos, lançado pela Ellen MacArthur Foundation no encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos (em janeiro deste ano), apontou os fatores ocultos da produção industrial de alimentos que hoje impedem que pessoas ao redor do mundo tenham uma dieta realmente saudável. De acordo com o relatório, o uso excessivo de fertilizantes, esgoto sem tratamento, e o uso excessivo de antibióticos na criação de animais poderiam levar a 5 milhões de mortes por ano globalmente até 2050.

Os novos estudos divulgados hoje demonstram como essa visão se desdobraria em quatro cidades de perfis distintos – Bruxelas (Bélgica), Guelph (Canadá), Porto (Portugal) e São Paulo (Brasil). Eles reconhecem o importante (e comumente subestimado) papel das cidades nessa transformação, dado que 80% dos alimentos serão consumidos nelas até 2050.

Alimentos saudáveis e acessíveis
O sistema regional de alimentos na capital paulista, que se desenvolveu de maneira predominantemente linear, sofre com a existência de “desertos alimentares” – onde uma população vulnerável tem acesso limitado a alimentos saudáveis -, e com a degradação dos sistemas naturais com práticas agrícolas convencionais aplicando agrotóxicos.

No cenário descrito, agricultores familiares desempenham um papel central na regeneração das áreas verdes da capital e região metropolitana através da produção de alimentos, e participam das dinâmicas de mercado da capital. Com produção mais local e distribuída, os alimentos saudáveis se tornam mais acessíveis para todos e os desertos alimentares urbanos deixam de existir.

A economia da cidade também se beneficia com esse cenário, já que a oferta ampliada de ingredientes diversos e nutritivos abastece os cardápios dos 23 mil restaurantes da cidade e reforça sua posição como uma capital gastronômica. Os resíduos orgânicos, por sua vez, são capturados e aproveitados em uma bioeconomia próspera, retornando nutrientes valiosos para apoiar a agricultura regenerativa e gerando importantes economias com custos de aterro evitados.

No novo contexto proposto, alimentos são produzidos de maneira a regenerar recursos naturais, resíduos são eliminados através de melhor redistribuição e uso de coprodutos, e alimentos saudáveis são produzidos sem depender de práticas nocivas.

Além dos estudos das cidades-foco, foi lançado um guia de análise para apoiar outras cidades ao redor do mundo que se inspirarem a redesenhar seu sistema alimentar com base na economia circular e capturar seus benefícios.

O relatório foi produzido como parte do Project Mainstream, uma iniciativa global liderada por CEOs, criada pela Ellen MacArthur Foundation e o Fórum Econômico Mundial, que ajuda a escalar inovações de economia circular nos negócios. Escrito com apoio analítico da SYSTEMIQ, o estudo foi possível graças aos parceiros filantrópicos Calouste Gulbenkian Foundation, apostadores da People’s Postcode Lottery (GB) e Porticus, em colaboração com os principais parceiros Intesa Sanpaolo e Intesa Sanpaolo Innovation Center, e parceiros chave Danone, Sitra, Suez, Tetra Pak e Veolia.