01/04/2010 - 0:00
Miguel Nicolelis em frente ao IIN-ELS.
Município a cerca de 20 quilômetros de Natal, Macaíba tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do País: 0,67, segundo a Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte. Exatamente por conta disso, sedia, com a capital potiguar, centros de pesquisa, de saúde e de educação científica que integram o Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).
Macaíba foi escolhida a dedo para a construção de um dos mais importantes polos de referência em pesquisa em neurociência do mundo. Primeiro, devido à parceria do instituto com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), cujos estudos em primatologia ajudariam nas pesquisas do IINN-ELS. Mas o principal motivo da escolha é o baixo índice de desenvolvimento do Nordeste em relação ao resto do País. O objetivo do instituto é mostrar como um polo científico de ponta pode impulsionar a melhora de um local, reduzindo o desequilíbrio socioeconômico.
Também há o desejo de descentralizar a produção e a disseminação do conhecimento científico das áreas mais ricas e oferecer educação qualificada a jovens de escolas públicas das regiões mais pobres. “A descentralização da produção científica e sua promoção denotam a crença de que o potencial humano se encontra em qualquer lugar – basta criar condições e oportunidades para ele florescer”, afirma Neiva Paraschiva, diretora de relações institucionais da Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (Aaspad), responsável pela gestão do IINN-ELS.
O instituto foi ideia dos neurocientistas Cláudio Mello, Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro, que estavam nos Estados Unidos. Nicolelis e Ribeiro vieram ao Brasil para implantar o instituto, com o objetivo de valorizar o potencial científico brasileiro e utilizar a ciência como agente de transformação social.
O IINN foi lançado oficialmente no I Simpósio Internacional de Neurociência de Natal, em março de 2004. Um mês depois foi criada a Aasdap, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), para fazer a gestão do instituto e implantar outros projetos científicos e sociais no País. “Desde o início, a ideia era que o IINN fosse a primeira dentre outras iniciativas semelhantes no Brasil”, diz Neiva.
Primeira unidade do IINN, o Centro de Estudo e Pesquisa Prof. César Timo-Iaria foi inaugurado em 2005, em Natal. Dois anos depois, Lily Safra fez uma doação ao instituto que foi crucial para ele decolar. A partir daí, o nome do local mudou para Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra.
um atendimento no Centro de Saúde Anita Garibaldi, em Macaíba.
O IINN-ELS desenvolve vários projetos para promover o progresso científico, econômico e social das áreas em que atua. Todos estão vinculados a atividades sociais e educacionais. Os pontos fortes são o ensino de ciência aos jovens e a atenção primária às mulheres, principalmente àquelas com gestação de risco.
Fundada em 2007, a Escola Alfredo J. Monteverde, com unidades em Natal e Macaíba, procura estimular o aprendizado científico de alunos de escola pública de 11 a 17 anos. Ela promove encontros presenciais dos jovens duas vezes por semana, fora do horário de aula, em oficinas na instituição. Os temas das reuniões provêm de diversos campos, como tecnologia, matemática, química e identidade sócio-histórico-cultural.
Nas atividades, os estudantes são estimulados a questionar e compreender a transformação da ciência, dos meios de comunicação e da tecnologia. “É importante despertar, cada vez mais, o espírito pesquisador e dar oportunidade e condição de aprendizado aos jovens”, afirma Neiva.
A educação científica promovida pelo instituto é baseada, sobretudo, na arte de “brincar”. No vídeo institucional das Aasdap, Nicolelis diz que o cientista é aquele que “brinca” a vida toda para viabilizar uma ideia que teve. A pedagogia aplicada na escola também dá autonomia para os jovens aprenderem por si mesmos, independentemente das tarefas pedidas pelas instituições de ensino.
No início do programa, os estudantes ganham camisetas. Há também ajuda para o acesso dos jovens às oficinas. Em Natal, a prefeitura oferece transporte para quem mora longe; em Macaíba, apoio: todos desfrutam desse serviço. Não por acaso, mais de mil alunos estão inscritos no programa e mais de três mil já passaram por ele.
crianças na oficina da Escola Alfredo J. Monteverde.
Há três anos essa iniciativa mostra resultados positivos. Segundo Neiva, os jovens exibem melhora em pontos como desinibição ao conversar, compreensão de instruções, formulação de questões e ideias próprias para resolução de problemas e consciência da ligação direta da qualidade do trabalho com o envolvimento que se tem com ele. Todo ano, a escola também promove o evento “Mostra de Ciência e Tecnologia”, no qual são apresentadosos trabalhos dos alunos.
O Centro de Saúde Anita Garibaldi, criado em 2008, em Macaíba, tem como destaques o serviço de assistência multidisciplinar perinatal às mulheres com gravidez de risco e os cuidados dedicados às crianças com problemas neurológicos. O centro busca ser um catalisador do desenvolvimento da região, atuando em parceria com a Faculdade de Medicina da UFRN, a fim de oferecer um sistema de educação médica continuada.
Para ampliar o atendimento e melhorar a condição de vida da comunidade, estão sendo construídos 25 laboratórios de pesquisa e uma escola de ensino regular, Lygia Maria, em Macaíba. A ideia da escola é integrar o serviço do centro de saúde à educação regular. Após fazer o pré-natal e dar à luz, a mãe garante uma vaga a seu filho na escola, independentemente do estado de saúde da criança.
o Centro de Estudo e Pesquisa Prof. César Timo-Iaria, a primeira unidade do IIN-ELS.
Para ampliar o atendimento e melhorar a condição de vida da comunidade, estão sendo construídos 25 laboratórios de pesquisa e uma escola de ensino regular, Lygia Maria, em Macaíba. A ideia da escola é integrar o serviço do centro de saúde à educação regular. Após fazer o pré-natal e dar à luz, a mãe garante uma vaga a seu filho na escola, independentemente do estado de saúde da criança.