Viajar não é apenas visitar lugares longe de casa; é uma oportunidade para renovar-se e aprender com o diferente

 

Quem não se anima com a ideia de arrumar a bagagem e partir? Nas campanhas de marketing de relacionamento que pululam por aí, por exemplo, as viagens estão entre os prêmios mais frequentes. As praias do Nordeste ou do Caribe, as cosmopolitas Nova York, Londres ou Paris, o deserto do Atacama, a exuberância de Dubai são destinos que atraem o interesse de multidões – e falamos só em uns poucos destinos.

A viagem, o movimento de sair do lar e deixar a rotina de lado, está em nossa herança genética – afinal, nossos antepassados andaram um bocado para, a partir da África, ocupar o resto do planeta, e lendas de todas as culturas contêm relatos de viagens. Mas não é só isso que explica seu fascínio. Em um nível simbólico, ela se relaciona ao nosso próprio progresso como indivíduos.

Embora a filosofia de algumas redes hoteleiras americanas seja oferecer serviços iguais ao redor do mundo, a fim de deixar seus hóspedes “sentir-se em casa”, o grande apelo de uma viagem é exatamente colocar o viajante fora de casa – encarar, 24 horas por dia, o estranho, o desconhecido, a novidade. Abrir-se para o novo, lembremos, é uma condição essencial para aprender e desenvolver-se, e raras ocasiões proporcionam tantas oportunidades de aprendizado quanto uma viagem, na qual incontáveis informações diferentes das habituais chegam aos nossos sentidos.

Existe ainda algo de mágico quando viajamos. O arquétipo da Busca mítica, que nos leva à evolução interior, está nas profundezas de nossa mente, à espera de uma chance para vir à tona. Assim, cenários paradisíacos, românticos ou que estimulam a adrenalina podem até servir como isca, mas seu papel é mesmo secundário.

O que importa é que, como a Busca não pode ser invocada sem que se invoque o crescimento interior, nossas férias se tornam degraus no progresso espiritual. A psique, em seu esforço para completar-se, é indissociável da Busca – e isso explica a excitação que nos invade quando entramos num automóvel, ônibus, trem ou avião rumo ao nosso destino. Na linguagem simbólica do inconsciente, esses veículos e o fato de estarmos neles já apontam para um desejo de transformação.

 

Oportunidades para evoluir

As viagens se desenvolvem em níveis variados da consciência, boa parte dos quais inacessível em estado de vigília. Examine, por exemplo, aquela viagem planejada em detalhes: é como se tudo tivesse de sair perfeito, e eventuais mudanças nos planos equivalessem a, no fundo, não progredir. As férias, assim, não são apenas uma ou algumas semanas de algo diferente; significam a possibilidade de tornar-se alguém diferente.

Com tudo isso, não é difícil entender por que a indústria do turismo movimenta tanto dinheiro no mundo. E esse volume tende a crescer, graças sobretudo à elevação do padrão de vida de muitas pessoas, a preços de passagens mais acessíveis e ao encanto de redutos ainda pouco devastados pelos humanos, como o Pantanal ou as florestas mexicanas.

E não podemos esquecer a internet – essa formidável agregadora de pessoas com os mesmos interesses, que deu novo alento à velha imagem das agências de viagem. Antes, muitos associavam essas agências a “pacotes” que tratavam o cliente como mais um número e o submetiam a maratonas de visitas a pontos turísticos, em prejuízo de interesses mais pessoais. Viagens como essas vão continuar a existir, mas o leque tornou-se bem mais variado e muitas das propostas disponíveis hoje seriam impensáveis décadas atrás.

Quem procurar bem pode, por exemplo, passar uma noite na Pirâmide de Quéops com um curador em sintonia com os antigos deuses egípcios. Ou ter uma aula sobre budismo tibetano antes de uma escalada no Himalaia. Ou ainda ter um encontro ritual com um xamã na selva sul-americana. E tudo isso com uma grande vantagem: o grupo que viaja com você escolheu esse pacote por ter o mesmo tipo de interesse. Como lembra um especialista na área, seus companheiros podem ser tão importantes para sua viagem quanto o objetivo desejado.