O céu visível através da estrutura (no alto) e o golfe virtual na Zona de Interação são atrações da nova cabine.

Acima, visão da estrutura da cabine;

A era da aviação comercial glamourosa, com empresas preocupadas em exibir requinte, elegância e tratamento vip ao passageiro, está cada vez mais distante, tanto aqui como no Exterior. Mas nada impede que, no futuro, o cliente volte a ser protagonista nos voos. Num exercício conceitual de como será viajar de avião na metade deste século (baseado na pesquisa Passenger 2050, realizada com 10 mil pessoas de todo o mundo), a fabricante europeia Airbus lançou, em junho, a proposta de uma cabine aérea capaz de subverter tudo que já se viu nessa área.

A revolução começa pela estrutura biônica da cabine, imitando a eficiência dos ossos das aves no voo, muito leves, mas capazes de oferecer força quando necessário. Feita de vidro e de materiais compostos, a membrana de biopolímero que a reveste controlará a quantidade de luz natural, a umidade e a temperatura no interior da aeronave e poderá se tornar transprente, propiciando vistas panorâmicas do céu, das nuvens, das estrelas ou da superfície lá embaixo. Além disso, por ter peso menor, diminuirá o consumo de combustível.

Ainda no item sustentabilidade, a cabine será 100% reciclável. Materiais autolimpantes, feitos de fibras vegetais, reduzirão desperdícios e gastos com manutenção. Painéis solares e captação do calor corporal dos passageiros produzirão parte da energia despendida.

Avião-foguete

A European Aeronautic Defence and Space Company (Eads), grupo empresarial europeu do qual a Airbus é subsidiária, divulgou em junho um novo projeto de ligação intercontinental super-rápido: uma aeronave hipersônica que voaria a 32 mil metros do solo, em vez dos 11 mil metros habituais.

Criado em parceria com uma empresa japonesa, o Zehst (abreviação em inglês para “Transporte Hipersônico de Emissão Zero”) é um ônibus espacial reduzido. Pode levar entre 50 e 100 passageiros à velocidade máxima de 4.800 km/h. Comparado ao Concorde (o supersônico anglofrancês aposentado em 2003), o Zehst voaria com o dobro da velocidade e a uma altitude média duas vezes maior. Uma viagem de Londres a Tóquio seria feita em apenas 150 minutos; entre Nova York e Paris, bastariam 90 minutos. Mas esse ganho de tempo será reservado a poucos: cada passagem Nova York-Paris custaria R$ 13,6 mil.

Barulhento demais, o Concorde foi impedido de pousar nos aeroportos dos Estados Unidos por muitos anos. Por isso, os projetistas do Zehst planejam equipá-lo com turborreatores silenciosos, movidos a biocombustível. Para atingir a altitude de cruzeiro, a aeronave usaria motores de foguete abastecidos com oxigênio ou hidrogênio líquido.

Para a Airbus, a atual divisão entre classes – primeira, executiva e econômica – dará lugar a áreas específicas, conforme os objetivos do passageiro. Uma delas, a Zona de Tecnologia Inteligente, contempla a expectativa de que o número de obesos no mundo aumentará até 2050. Poltronas “inteligentes” se adaptarão ao corpo das pessoas, propiciando níveis diferentes de espaço e conforto. Tecnologias de comunicação, holografia e som direcional permitirão aos passageiros atividades como fazer uma reunião de negócios virtual ou ler, uma história de ninar para os filhos em casa.

Já a Zona Vitalizante foi concebida de olho sobretudo nas mulheres que trabalham e nos turistas de terceira idade, outros grupos de usuários que crescerão até a metade do século. Concentrada em saúde e relaxamento, ela também terá poltronas amoldáveis e oferecerá massagem, vitaminas e drinques. O passageiro pode ser bafejado por aromas como a brisa marinha ou o cheiro de pinheiros, enquanto sons repousantes, sombras holográficas e um calor agradável o induzirão a um sono reparador.

A Zona de Interação busca satisfazer o desejo de um terço dos participantes da pesquisa Passenger 2050, de ter no voo a experiência de um dia de férias enquanto desfruta de todos os avanços tecnológicos domésticos. Barras de apoio como as que existem hoje em alguns A380 (o maior avião do mundo, também da Airbus) serão comuns. Redutos privativos possibilitarão reuniões de negócios, palestras ou refeições românticas. Paredes virtuais oferecerão aos mais atléticos cenários para praticar esportes como golfe, tênis ou beisebol. Tudo com o apoio de conectividade total e projeções holográficas adaptadas às necessidades individuais.

Poltronas que se amoldam ao corpo.

Muitas das tecnologias da cabine do futuro já estão sendo desenvolvidas. Ao apresentar a ideia, Charles Champion, vice-presidente-executivo de Engenharia da empresa, afirmou: “Nossa pesquisa mostra que os passageiros de 2050 esperam uma experiência de viagem perfeita e se preocupam com o meio ambiente. A Cabine Conceito é desenhada com isso em mente. Seja qual for a experiência de voo escolhida, o passageiro sairá da cabine sentindose revitalizado e enriquecido.” A Airbus não mencionou nada sobre o preço das passagens. Mas não há dúvida de que esse voo será inesquecível.