Um novo estudo americano divulgado ontem reforça o tom sombrio em relação à mudança climática. Segundo o relatório oficial anual, o 29° consecutivo publicado pela American Meteorological Society e compilado pelo governo dos EUA, os gases do efeito estufa atingiram em 2018 os níveis mais altos já registrados. A influência da presença do dióxido de carbono (CO2) e de outros gases do grupo na atmosfera é agora quase 43% mais intensa do que em 1990.

A medição abrange 60 anos de coleta de dados modernos e 800 mil anos de dados em núcleo de gelo. Mais de 470 cientistas em 60 países participaram da pesquisa, condensada em um trabalho de 325 páginas.

Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), órgão do governo americano para assuntos sobre meteorologia, oceanos, atmosfera e clima, o relatório “descobriu que os principais indicadores da mudança climática continuam refletindo tendências consistentes com o aquecimento do planeta”.

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O ano passado foi o quarto mais quente desde a segunda metade do século 19. As temperaturas se apresentaram 0,3 °C a 0,4 °C acima da média entre 1981 e 2010. Apenas 2015, 2016 e 2017 foram mais quentes. Os níveis do mar foram os mais altos já registrados. As temperaturas da superfície do mar não bateram recorde, mas ficaram perto disso.

A concentração média anual global de dióxido de carbono (CO2) foi de 407,4 partes por milhão (ppm), 2,4 ppm acima do índice de 2017.

 

Perdas constantes

A extensão do gelo marinho do Ártico e da Antártida quase atingiu seu ponto mínimo. As geleiras seguiram derretendo e perdendo massa pelo 30º ano consecutivo.

Ocorreu um número recorde de ciclones de categoria 5 (máxima) nos trópicos: 11. O supertufão Mangkhut matou 160 pessoas e causou danos de US$ 6 bilhões no oeste do Pacífico. A tempestade tropical Son-Tinh matou 170 pessoas no Vietnã e no Laos.

O recorde mundial de chuva para o período de três dias foi conquistado pelo distrito de Iduki, na Índia: 710,2 milímetros. O novo recorde americano de precipitação pluviométrica em um único dia ficou com Waipā Gardens, na ilha de Kauai (Havaí): 1.262 milímetros.

O número de eventos climáticos e climáticos nos EUA que causaram mais de US$ 1 bilhão em danos chegou a 14, o quarto maior desde o início dos registros, em 1980. Quarta tempestade mais forte a atingir o país até hoje, o furacão Michael matou mais de 30 pessoas e provocou danos calculados entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões.

 

Calor recorde

A Europa viveu em 2018 seu segundo ano mais quente desde pelo menos 1950. Vários países estabeleceram novos recordes de temperatura ou chegaram perto deles, como França, Grécia, Itália, Bósnia e Herzegovina, Croácia e Sérvia. No fim de julho e início de agosto, a França passou por uma onda de calor com temperaturas acima de 40 °C .

O México registrou seu terceiro ano mais quente em 48 anos. O Alasca viveu seu segundo mais quente em 94 anos. A Austrália teve seu terceiro ano mais quente desde 1910.

No Brasil, a Região Sudeste viveu seu verão mais seco desde 2003. “As condições extremas de seca provocaram incêndios florestais, que afetaram os campos de cultivo e as áreas protegidas”, escreveram os autores do relatório. Já a estiagem registrada no Nordeste desde 2012 teve menos intensidade.

O centro e o sul dos Andes peruanos viveram sete eventos extremos de queda de neve. Com isso, a região teve seu inverno mais chuvoso em 19 anos.