13/09/2019 - 16:45
Sagitário A*, o enorme buraco negro no centro da Via Láctea, está ingerindo gás e poeira interestelar em quantidades descomunais, e os cientistas ainda não entendem o porquê. A pesquisa que descreve o caso foi publicada anteontem (11 de setembro) na revista “Astrophysical Journal Letters”.
“Nunca vimos algo assim nos 24 anos em que estudamos o buraco negro supermassivo”, disse Andrea Ghez, professora de física e astronomia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e coautora sênior da pesquisa. “Geralmente é um buraco negro calmo e relaxado em sua dieta. Não sabemos o que está motivando esse grande banquete.”
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A equipe internacional de pesquisadores analisou mais de 13 mil observações do buraco negro de 133 noites desde 2003. As imagens foram coletadas pelo Observatório W.M. Keck, no Havaí, e pelo Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile. A equipe descobriu que, em 13 de maio, a área do lado de fora do horizonte de eventos do buraco negro (o ponto em que, quando a matéria entra, não pode mais escapar) era duas vezes mais brilhante que o recorde anterior.
Eles também observaram grandes mudanças em outras duas noites este ano. As três destacadas foram “sem precedentes”, afirmou Ghez.
O brilho observado é causado pela radiação do gás e da poeira engolidos pelo buraco negro. As descobertas levaram os cientistas a se perguntar se esse foi um evento singular extraordinário ou um precursor de um aumento significativo da atividade.
Nova fase ou evento excepcional
“A grande questão é se o buraco negro está entrando em uma nova fase – por exemplo, se a torneira foi aumentada e a taxa de gás que cai no ‘dreno’ do buraco negro aumentou por um longo período – ou se acabamos de ver os fogos de artifício de algumas gotas incomuns de gás caindo”, disse Mark Morris, professor de física e astronomia da UCLA e coautor sênior do artigo.
Uma hipótese sobre o aumento da atividade é que, quando uma estrela chamada S0-2 se aproximou mais do buraco negro durante o verão de 2018, lançou uma grande quantidade de gás que atingiu o buraco negro este ano.
Outra alternativa envolve um objeto estranho denominado G2 (provavelmente um par de estrelas binárias), que se aproximou mais do buraco negro em 2014. É possível que o Sagitário A* possa ter arrancado a camada externa do G2, disse Ghez. Isso poderia ajudar a explicar o aumento do brilho do lado de fora do buraco negro.
Morris observa ainda que o brilho pode corresponder ao desaparecimento de grandes asteroides atraídos para o buraco negro.
Sagitário A* (ou, abreviadamente, Sgr A*) está a cerca de 26 mil anos-luz de distância e não representa perigo para nosso planeta. Segundo Tuan Do, cientista da UCLA que liderou a pesquisa, a radiação teria de ser 10 bilhões de vezes mais brilhante do que o que os astrônomos detectaram para afetar a vida na Terra.