24/09/2019 - 12:31
A ostra Saccostrea, espécie presente sobretudo na área do Indo-Pacífico (região geográfica que compreende o Oceano Índico e a porção ocidental e tropical do Oceano Pacífico), chegou em 2017 à região de Cananeia, no litoral sul de São Paulo, e está se disseminando rapidamente.
A área, que abriga as Reservas Extrativista do Taquari e de Desenvolvimento Sustentável de Itapinhapima, é reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em função da alta diversidade biológica. Ela também conta com o reconhecimento da Convenção Internacional das Zonas Úmidas e é parte do Mosaico de Áreas Protegidas do Lagamar.
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“A ostra Saccostrea começou a aparecer em pequenas quantidades, em 2017, mas agora está se espalhando muito rapidamente porque se reproduz por larva”, afirma Marília Cunha Lignon, professora do curso de Engenharia de Pesca do Câmpus Experimental da Unesp, em Registro (SP). “Então, são milhares de larvas lançadas no estuário de Cananeia, a cada fase de reprodução da espécie. Controlar essa expansão é bastante complicado.”
Lignon informa ainda que não se sabe quais são as ameaças, tanto biológicas quanto de biodiversidade, que essa espécie exótica de ostra pode trazer para a região. “Não conseguimos ainda avaliar se ela pode colocar em risco as espécies nativas”, observa. “Por isso, é muito importante avançarmos nos estudos para conhecermos um pouco mais sobre a Saccostrea, porque a presença dela na região está aumentando. Em julho desse ano, quando fizemos o monitoramento das parcelas permanentes em mangue, observamos que estava muito espalhada nas áreas. Não podemos perder mais tempo. Precisamos conhecer melhor a espécie e como é o comportamento dela em nossa zona costeira.”
Visitas e entrevistas
O mapeamento da ocorrência dessa ostra exótica tem sido feito por meio de visitas às áreas e entrevistas com gestores de unidades de conservação, pescadores tradicionais e monitores ambientais, que estão freqüentemente em contato com os manguezais e costões rochosos.
A mais recente atividade dessa pesquisa foi realizada durante a Semana de Conservação dos Manguezais de Cananeia. Ela envolveu alunos do curso de graduação em Engenharia de Pesca da Unesp, câmpus Registro, matriculados em disciplina optativa ministrada por Marília Cunha Lignon, a Fundação Florestal, gestores das unidades de conservação, biólogos do município e pescadores tradicionais. Foram coletados na ocasião 50 quilos de ostras Saccostrea. Cada exemplar recolhido terá sua largura, comprimento e altura medidos pelos estudantes da disciplina optativa de Lignon.
“O objetivo é conhecer a espécie e a dinâmica dela no ambiente. Um conhecimento que será compartilhado com a Fundação Florestal e com os gestores das unidades de conservação para que seja possível pensarmos juntos estratégias de manejo e controle da espécie, porque essa ostra pode competir com a nativa Crassostrea, já que se fixa na raiz do mangue vermelho, o lugar de desenvolvimento da ostra local”, explica Lignon. Ela acrescenta que serão realizados trabalhos para apresentação em congressos científicos.
Da teoria à prática
“Acho fundamental colocar o aluno de graduação de Engenharia de Pesca em contato com os pescadores locais porque se valoriza o trabalho e o conhecimento prático que os pescadores têm do ambiente”, diz a professora. “O contato dos alunos com as equipes de gestão das unidades de conservação costeira também faz com que percebam na prática a importância do apoio de engenheiros de pesca para auxiliar no manejo de espécies costeiras. Quando tiramos o aluno de sala de aula, das questões mais teóricas, e o levamos para a prática, ele aprende muito mais rapidamente e de forma muito mais estimulante”, conclui Lignon.
“O trabalho de equipe entre a Unesp, a Fundação Florestal, a prefeitura de Cananeia e monitores ambientais na ação contra a ostra exótica só confirma a preocupação de todos com o bom funcionamento do ecossistema manguezal”, afirma Wanilton Polachini Batista, aluno de Engenharia de Pesca da Unesp, câmpus Registro. “Cada aluno que participou da atividade pôde observar as características dessa espécie exótica e os efeitos dela dentro do estuário que serve de berçário e abrigo para milhares de espécies.”