12/11/2019 - 9:10
A partir de medições precisas de anisotropias de radiação cósmica de fundo (CMB, na sigla em inglês) – ou o rumo para o qual a radiação está se movendo no espaço –, novos dados do satélite Planck, da Agência Espacial Europeia (ESA), indicam que o universo tem curvatura positiva. Se essa informação, abordada por uma equipe internacional de cientistas em artigo na revista “Nature Astronomy”, for confirmada, o atual (e plano) modelo do universo fica em xeque.
Em um universo plano, duas linhas paralelas nunca se encontram. Em um universo curvo, porém, essas duas linhas vão se encontrar. Isso tem desdobramentos importantes na cosmologia, pois sugere que a teoria inflacionária existente, que descreve a evolução do universo após o Big Bang, precisa ser revista.
Experiências anteriores, como a sonda de anisotropia de micro-ondas Wilkinson (WMAP), da Nasa, reforçavam a teoria plana. Já os arquivos Planck Legacy 2018, significativamente mais precisos, revelaram que o universo é “quase plano”, mas ainda é 4% mais curvado do que se pensava.
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Segundo os cientistas, a pista para a curvatura do universo é a maneira como a gravidade curva o caminho da luz, um efeito previsto por Einstein chamado lente gravitacional. Esse efeito gravitacional afeta inclusive a radiação cósmica de fundo. A CMB é a radiação eletromagnética que resta no espaço entre as estrelas e as galáxias, que remonta a cerca de 380 mil anos após o Big Bang, quando os primeiros átomos neutros do universo se formaram.
Cenário incompleto
Os dados do satélite Planck, sobretudo os de 2018, mostram que a CMB está sendo mais fortemente gravitacional do que deveria. A equipe de cientistas considera que uma explicação possível para isso poderia ser a forma do universo.
“Um universo fechado pode fornecer uma explicação física para esse efeito, com os espectros cósmicos de fundo de micro-ondas do Planck agora preferindo uma curvatura positiva a um nível de confiança de mais de 99%”, escreveram eles.
“O cenário cosmológico atual, baseado na inflação, na matéria escura e numa constante cosmológica, parece incapaz de atender a todas as observações”, disse Eleonora Di Valentino, pesquisadora do Centro de Astrofísica Jodrell Bank da Universidade de Manchester (Reino Unido) e principal autora do estudo.
“A sistemática experimental ainda pode desempenhar um papel, e será o dever de futuras experiências examinar as discordâncias atuais”, acrescentou ela. “No momento, no entanto, a ideia de uma cosmologia de concordância está, sem dúvida, sob pressão.”
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