Acima, panorâmica do Inhotim e algumas de suas obras. Ao lado, da esquerda para a direita, o espelho d’água da Galeria Adriana Varejão; o colorido Penetrável Magic Square #5, de Hélio Oiticica; as estacas de Beam Drop Inhotim, de Chris Burden; e as esferas metálicas de Narcissius Garden, de Yayoi Kusama.

 

O projeto surgiu com jeito mineiro. Foi aos poucos sendo divulgado pelo boca a boca, cresceu, encorpou e atualmente recebe 200 mil visitantes por ano, de todas as nacionalidades. Virou uma instalação de referência no mundo das artes. Localizado a 60 quilômetros de Belo Horizonte, na cidade de Brumadinho, o Inhotim Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico propõe uma quase revolução: mudou a concepção de museu que se tinha até agora, mudou o entendimento – ou a falta dele – que o grande público tem da arte contemporânea e também está ajudando a mudar a comunidade local.

Criado em meio a uma paisagem que reúne 4.500 espécies de plantas e cinco lagos ornamentais, distribuídos por quase 5,5 km2, esse museu a céu aberto conquistou o título oficial de Jardim Botânico em 2011. Do total do terreno, localizado em uma área de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, mais da metade é de vegetação nativa preservada, 1,5 km2 é Reserva Particular do Patrimônio Natural e 1 km2 está aberto à visitação.

Nesse espaço encontram-se, ao ar livre, esculturas e intervenções artísticas em pequena, média, grande e gigantesca escala. Quatro pavilhões – de 1.000 m2 cada um – estão reservados a exposições temporárias, e mais um está em construção. Treze galerias foram projetadas para abrigar obras permanentes dos artistas Tunga, Cildo Meireles, Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica, Neville D’Almeida, Adriana Varejão, Doris Salcedo, Victor Grippo, Matthew Barney, Rivane Neuenschwander, Valeska Soares, Janet Cardiff & George Miller e Doug Aitcken.

 

Elevazione, de Giuseppe Penone.

Inmensa, de Cildo Meireles.

Beehive Bunker, de Chris Burden.

Fuscas da obra Troca-Troca, de Jarbas Lopes

 

O acervo do centro possui 500 obras de 100 artistas. Começou com a coleção particular de Bernardo Paz, empresário do setor siderúrgico, dono da empresa Itaminas, produtora de ferro gusa e reflorestamento, que em 2004 passou a receber visitas agendadas na sua propriedade. Dois anos depois, foi aberto para o público em geral. Há oito anos a proposta apresentada atualmente não estava formulada. Nem mesmo hoje está concluída. “A própria prática leva à concepção do Inhotim. Ainda não chegamos à forma final. Aos poucos vamos consolidando ideias que surgem, principalmente, do contato com os visitantes”, diz Maria Eugenia Salcedo Repolês, coordenadora de Arte e Educação.

Natureza e arte

Essa evolução constante está presente em algumas das novas obras inauguradas em outubro de 2011. A mineira Marilá Dardot montou A Origem da Obra de Arte com 1.500 vasos de cerâmica em forma de letras, produzidos por artesãos da região. A instalação não só permite que o público toque na obra como o convida a “plantar” palavras e frases postas à disposição para a inteiração. Em Elevazione, escultura do italiano Giuseppe Penone, a réplica em bronze de uma castanheira centenária foi apoiada em quatro árvores que a fa- Acima, da esquerda para a direita, De Lama Lâmina, de Mathew Barney; estátua de Edgard de Souza em meio ao parque; ao fundo, Boxhead, de Paul McCarthy. À esquerda, o Sonic Pavillion, de Doug Aitken, que revela sons da Terra. Abaixo, um dos bancos de madeira de Hugo França; e A Bica, de Marepe. rão “crescer”. Num dos pontos mais altos do terreno, o norte-americano Chris Burden construiu o forte Beehive Bunker com tradicionais sacos de cimento da construção civil que, expostos às intempéries, irão se desgastar com o tempo e virarão estrutura de concreto.

Da esquerda para a direita, De Lama Lâmina, de Mathew Barney; estátua de Edgard de Souza em meio ao parque; ao fundo, Boxhead, de Paul McCarthy. À esquerda, o Sonic Pavillion, de Doug Aitken, que revela sons da Terra. Abaixo, um dos bancos de madeira de Hugo França; e A Bica, de Marepe.

 

Outros casos emblemáticos em que as obras de arte interagem com a natureza e se modificam permanentemente são: Narcissus Garden, de Yayoi Kusama, formado por 510 esferas metálicas movidas pelo vento no espelho d’água que ocupa o teto de uma das galerias; e Sound Pavilion, de Doug Aitken, que permite escutar os sons das entranhas da Terra, em tempo real, graças a um poço de 200 metros de profundidade, onde foram colocados microfones de alta sensibilidade.

“O maior diferencial de Inhotim é fazer arte e natureza dialogarem, se envolverem entre si”, arremata Laura Neres, coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental. Além de usar esse diferencial como instrumento para o trabalho, ela e a equipe de educação ambiental contam ainda com uma área especial de 25.000 m2, o Viveiro Educador. O conjunto é composto pelo Jardim dos Sentidos, de plantas medicinais, aromáticas e tóxicas; pelo Bosque da Juçara, que recria a Mata Atlântica; e pela Estufa Equatorial, que reproduz o microclima de uma floresta tropical, onde está exposta uma das joias do jardim botânico: a “flor-cadáver” (Amorphophallus titanum), a maior e mais malcheirosa espécie de flor do mundo.

 

Arte da inclusão

Apesar da estrutura voltada ao conhecimento e à pesquisa, faltam em Inhotim iniciativas de sustentabilidade ecológica, como a coleta seletiva do lixo. “Não adianta fazer algo para ‘inglês ver’; não temos galpão para triagem do lixo reciclável, ainda”, confessa Laura. “Fazemos sensibilização ambiental. Não conscientizamos ninguém, porque as pessoas mesmas é que elaboram isso, esse é um processo interior. A gente só sensibiliza. Quem conhece cuida, se apropria e valoriza.”

Baseada nessa ideologia, a comunidade local, desde o princípio do projeto, vem sendo trazida para participar do museu a céu aberto. Dos 700 funcionários que mantêm a estrutura do local funcionando, 95% são das vizinhanças, mais da metade é de Brumadinho e o restante, da região metropolitana de Belo Horizonte.

Brumadinho possui 33 mil habitantes, segundo o Censo de 2010. Originou-se de um quilombo e se desenvolveu em torno da estação de trem, criada para transportar os minérios das redondezas. A versão mais provável para o nome de Inhotim deriva da possibilidade de as terras terem pertencido a um inglês de nome Tim, que, conforme uso e costume da região, era chamado “Nhô Tim”. Algumas instalações da antiga vila foram mantidas, como a marcenaria que hoje abriga um relógio de sol, obra do argentino Victor Grippo, em que mesas marcam as horas, mostrando a evolução de um trabalho ao longo do dia.

Da esquerda para a direita,estátua sem título, de Edgard de Souza; e detalhe do totem Gui Tuo Bei, de Zhang Huan. Ao lado, parte do painel Abre a Porta, de John Ahearn e Rigoberto Torres. Abaixo, instalação Através, de Cildo Meireles. Na página ao lado, a Galeria Miguel Rio Branco, destinada a fotos e vídeo.

 

Bernardo Paz, fundador e integrante do Conselho de Administração do Instituto Inhotim, acredita que o museu- jardim é uma instalação que ajuda as pessoas a crescer mentalmente. O programa “Inhotim para todos” é um forte empenho nesse sentido, pois leva comunidades carentes para o centro de arte. Diariamente, 400 crianças da periferia visitam o espaço. Por meio da diretoria de Inclusão e Cidadania, criada em 2007, o instituto vai ao encontro da comunidade local, trabalhando ao seu lado em três frentes: revitalização musical, artística e cultural do Vale do Rio Paraopeba; desenvolvimento comunitário, visando à geração de renda; e recuperação e valorização da memória do Vale.

“Inhotim representa também a possibilidade de profissionalização em arte”, destaca Maria Eugenia. Em parceria com o museu britânico Tate Modern, o museu desenvolve atualmente um trabalho de formação contínua. Cerca de 20 jovens de 12 a 16 anos pesquisam sobre arte em dois encontros por semana. Em setembro de 2012, acontecerá o encontro dos dois grupos. Se a arte contemporânea costumava ser pouco atraente aos olhos do grande público, era porque ela ainda não havia encontrado um lugar como Inhotim.

 

“Isso aqui nunca acaba”

“Tudo começou com uma viagem a Acapulco”, conta Bernardo Paz, dono das terras, idealizador do parque e presidente do Conselho de Administração do Instituto Inhotim. “No balneário mexicano, vi um muro enorme. Subi para descobrir o que havia do outro lado e me deparei com um jardim extraordinário. Havia uma orquestra tocando, um lago enorme e um monte de gente dançando. Essa experiência marcou minha vida.”

Em dado momento, o empresário resolveu se afastar das empresas e colocar profissionais à frente da condução dos negócios. Já havia adquirido a fazenda Inhotim e resolveu fazer um jardim. “Tornei-me amigo do paisagista Roberto Burle Marx, que tinha muito bom gosto e era inteligente. O jardim cresceu e eu passei a me interessar por arte. A partir de uma conversa com o artista brasileiro Tunga, percebi que a arte tem de ser política, instrutiva e interativa. E para isso precisava de espaços grandes.” Para Paz, é problemático instalar obras enormes e interativas em museus dentro de cidades. “Intuitivamente, fui construindo os pavilhões e colocando as obras, e trazendo artistas para escolherem onde queriam colocá-las.”

Depois de algum tempo, o empresário conta que, como museu e jardim botânico, passou a achar Inhotim elitista. “Vi que precisava introduzir conhecimento e fui buscar pessoas para ampliar as ações sociais nas artes, no ambiente e na produção de conhecimento. Não sei qual vai ser o próximo passo. Isso aqui não acaba”.

 

Serviço

Aberto das 9h30 às 16h30 de terça a sexta, e das 9h30 às 17h30 aos sábados, domingos e feriados.

Valor da entrada: R$ 20. Crianças de até 5 anos não pagam; estudantes e maiores de 60 anos pagam metade do valor do ingresso.

Opções para alimentação: dois restaurantes, bar, omeleteria, pizzaria, lanchonetes e café.

Endereço: Rua B, 20, Brumadinho (MG), a 60 km de Belo Horizonte. Telefones: (31) 3227-0001 (31) 3223-8224

Portal e endereço eletrônico: www.inhotim.org.br info@inhotim.org.br

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