28/11/2019 - 9:27
O mistério do desaparecimento dos neandertais pode ser explicado pela soma de determinados fatores: pequenas populações, consanguinidade e flutuações demográficas aleatórias. Essa é a conclusão de um estudo publicado ontem (27 de novembro) por Krist Vaesen, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven (Holanda), e colegas na revista “PLoS ONE”.
Segundo a teoria atualmente dominante, os neandertais desapareceram cerca de 40 mil anos atrás, época aproximada em que o Homo sapiens começou a migrar para o Oriente Próximo e a Europa. No entanto, o papel dos humanos modernos na extinção dos neandertais é discutido. “O que costumávamos saber ou pensar que sabíamos era que éramos superiores”, disse Vaesen.
Neste estudo, os autores usaram modelagem populacional para explorar se as populações neandertais poderiam ter desaparecido sem fatores externos, como a competição dos seres humanos modernos.
LEIA TAMBÉM: Doenças de nossos antepassados deflagraram extinção dos neandertais
“Uma coisa que sabemos sobre a população neandertal é que ela era muito pequena”, afirmou Vaesen. “Estimativas sugerem que havia apenas de 5 mil a 70 mil neandertais em um dado momento, espalhados pela Eurásia em faixas ainda menores e isoladas.”
Usando dados de populações existentes de caçadores-coletores como parâmetros, os autores desenvolveram modelos populacionais para populações neandertais simuladas de vários tamanhos iniciais (50, 100, 500, 1.000 ou 5.000 indivíduos). Eles então simularam para as populações modelo os efeitos da consanguinidade, os efeitos de Allee (em que o tamanho reduzido da população afeta negativamente a aptidão dos indivíduos) e as flutuações demográficas anuais aleatórias em nascimentos, mortes e proporção de sexo, para verificar se esses fatores poderiam causar um evento de extinção por um período de 10.000 anos.
Conjunção de fatores
Os modelos populacionais mostram que é improvável que a consanguinidade tenha levado à extinção (isso ocorreu apenas na menor população modelo). No entanto, os efeitos Allee relacionados à reprodução em que 25% ou menos das fêmeas neandertais deram à luz dentro de um determinado ano – algo comum em populações de caçadores-coletores existentes –poderiam ter causado a extinção em populações de até 1.000 indivíduos. Em conjunto com as flutuações demográficas, os efeitos Allee mais a consanguinidade poderiam ter causado a extinção em todos os tamanhos populacionais modelados nos 10 mil anos considerados.
Os modelos populacionais são limitados por seus parâmetros, baseados em caçadores-coletores humanos modernos, e excluem o impacto do efeito Allee nas taxas de sobrevivência. Também é possível que os humanos modernos tenham impactado as populações neandertais de maneiras que reforçaram os efeitos da endogamia e Allee, mas não se refletem nos modelos.
Vaesen considera que os seres humanos poderiam ter piorado as coisas. Segundo ele, “a mera presença do Homo sapiens na Europa e no Oriente Próximo apenas tornou muito mais difícil para os neandertais migrarem entre subpopulações”, impedindo qualquer tentativa das subpopulações de encontrar e acasalar ocasionalmente.
No entanto, mostrando que apenas as questões demográficas poderiam levar à extinção dos neandertais, os autores observam que esses modelos podem servir como uma “hipótese nula” para futuras teorias concorrentes – incluindo o impacto dos humanos modernos nos neandertais. “Os neandertais desapareceram por nossa causa? Não, sugere este estudo”, concluem seus autores. “O desaparecimento da espécie pode ter sido devido apenas a um golpe de má sorte demográfica.”