01/03/2012 - 0:00
Um ícone londrino, remodelado
Com exceção de alguns poucos exemplares usados para fins turísticos, desde 2005 não se viam nas ruas de Londres os famosos Routemasters, os ônibus vermelhos de dois andares (double-deckers), emblemáticos da cidade tanto quanto o Big Ben ou o Palácio de Buckingham. Poluidores e de manutenção cara, os velhos modelos foram substituídos por coletivos articulados fabricados na Alemanha, apelidados pela população de “ônibus entortáveis”. É lógico que os populares Routemasters continuaram na memória local, o que certamente rendeu dividendos ao atual prefeito londrino, Boris Johnson, quando prometeu, em sua campanha eleitoral de 2008, que os recolocaria em circulação, numa versão modernizada e amigável ao meio ambiente. Em dezembro de 2011, Johnson começou a cumprir a promessa e apresentou em Trafalgar Square o primeiro lote de oito novos double-deckers.
Os modelos novos não são exatamente zero- quilômetro. Desde fevereiro do ano passado serviam numa rota-teste entre a estação ferroviária de Victoria e a de Hackney, no leste de Londres. Aprovados, ganharam espaço nos meses que precedem a Olimpíada, evento que atrairá turistas de muitos países e telas de tevê de todo o mundo, em junho. Se todo o experimento for bem-sucedido, Johnson e sua equipe planejam colocar centenas de double-deckers em circulação e mandar para a aposentadoria boa parte dos rivais alemães.
Os Routemasters originais entraram em circulação em Londres em 1956 e foram fabricados até 1968. No auge, mais de 2.700 estiveram em atividade. Os novos sucessores, fabricados na Irlanda do Norte pela empresa Wrightbus (com a participação do Heatherwick Studio no design), têm plenas condições de agradar aos usuários: são elegantes, confortáveis, panorâmicos e mantêm a tradição da plataforma de embarque sempre aberta na porta traseira, o que facilita o ingresso e a saída dos passageiros.
Apresentação para a imprensa na Trafalgar Square
Híbridos, funcionam com diesel e eletricidade, percorrendo 4,2 quilômetros com um litro de combustível. Não parece muito, mas, segundo a prefeitura londrina, isso representa uma redução de 57% do que a frota de ônibus da cidade emite de óxido nitroso (gás do efeito estufa) e dióxido de nitrogênio. Ainda segundo as autoridades, a tecnologia empregada também evita que 230 mil toneladas de gás carbônico sejam despejadas no ar anualmente. Um antídoto à poluição.
O novo ônibus certamente vai reavivar o charme britânico dos Routemasters, mas a iniciativa de produzi-lo está longe de ser unanimidade. Políticos do Partido Trabalhista, rival do Partido Conservador de Boris Johnson, afirmam que os londrinos estão pagando caro por um projeto de pura vaidade do prefeito. Eles lembram que cada veículo custa US$ 2 milhões e que o motorista para dirigi-lo representa mais US$ 120 mil por ano, num momento em que os preços dos combustíveis e das tarifas sobem e o país vive grandes dificuldades financeiras.
No evento de lançamento dos veículos, Johnson rebateu as críticas e aproveitou, como bom eurocético, para dar um cutucão na União Europeia. “As pessoas que rejeitam esse ônibus têm de responder a uma pergunta muito simples: querem um ônibus mais limpo e mais verde, construído na Grã-Bretanha, que proporciona empregos britânicos, ou querem voltar a um ônibus alemão que não é adequado para as ruas de nossa cidade?” Com a palavra, os usuários.
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