26/02/2020 - 6:53
Mais de um ano depois de a sonda Mars InSight, da Nasa, pousar em uma cratera cheia de seixos no equador marciano, o Planeta Vermelho agora está revelando seus segredos meteorológicos: ondas de gravidade, redemoinhos de poeira em turbilhão na superfície e um constante e baixo rumor em infrassom, de acordo com uma equipe internacional de pesquisadores. Suas descobertas foram apresentadas na revista “Nature Geoscience”.
“Este é um território totalmente novo que estamos explorando”, disse Don Banfield, da Universidade Cornell (EUA), principal pesquisador e líder científico do Auxiliary Payload Sensor Suite (APSS), aparelho a bordo da InSight. Banfield é o principal autor do artigo publicado recentemente.
Enquanto outros cientistas que estudam a sonda marciana estacionária exploram o que está abaixo da superfície do planeta, a equipe da APSS acompanha a meteorologia acima.
LEIA TAMBÉM: Sonda da ESA mostra o intrigante cenário do polo norte de Marte
Marte experimenta fortes flutuações diárias de pressão e temperatura, “mais fortes do que na Terra”, disse Banfield. “A atmosfera é tão fina que pode esquentar e esfriar muito mais rapidamente do que na Terra.”
Mudanças diárias
Cerca de um mês após o pouso, a InSight enfrentou uma grande tempestade de poeira, um evento global periódico em Marte que pode mudar drasticamente o clima do planeta. Os cientistas também observaram mudanças diárias nos ventos controlados pelo congelamento e degelo sazonais do dióxido de carbono nas calotas polares.
A nave possui um sismômetro para detectar os terremotos de Marte; sensores para medir a pressão do vento e do ar; um magnetômetro para medir as forças magnéticas do planeta; e uma sonda projetada para medir a temperatura marciana.
Banfield e a equipe de meteorologia ficaram surpresos ao saber que seus sensores detectaram ondas de gravidade, que são oscilações de flutuabilidade de parcelas de ar. Na Terra, tais ondas podem criar fileiras lineares de Morning Glory clouds (“nuvens Glória da Manhã”) em forma de rolo – nuvens brancas e inchadas que se parecem com rolos de geleia. “Ainda estamos trabalhando para entender o que essas ondas podem nos ensinar sobre Marte”, disse Banfield.
Os pesquisadores observaram oscilações de pressão abaixo de 10 Hertz, encontradas pelos sensores da sonda. É um estrondo baixo abaixo do que o ouvido humano pode detectar, na categoria de infrassom.
Sinais misteriosos
“Esperávamos que o infrassom existisse, mas esta é a primeira medição direta”, disse Banfield. “Ainda é um mistério o que exatamente causa os sinais que ouvimos, mas continuaremos estudando.”
Durante o dia marciano, a equipe da APSS encontrou vórtices convectivos, mais conhecidos como dust devils (“diabos de poeira”) – pequenos redemoinhos que se transformam em pequenos tornados, formados pela convecção do ar, em dias quentes, sem ventos e de muito sol. A Terra também possui redemoinhos formados a partir de poeira e, às vezes, até de neve. Banfield disse que isso pode ser a causa do pó constante de Marte.
“Vimos a assinatura de pressão de milhares de diabos de poeira e tentamos tirar fotos na hora certa do dia”, disse Banfield. “Não capturamos absolutamente nenhum diabo de poeira na câmera. Outros pousos fotografaram mais facilmente o diabo de poeira, por isso é surpreendente que nem sequer capturemos uma imagem de um.”