Um antigo fóssil do peixe Elpistostege encontrado em Miguasha (Canadá) proporcionou novas ideias sobre como a mão humana evoluiu a partir das barbatanas de peixe. Uma equipe de paleontólogos da Universidade Flinders (Austrália) e da Universidade de Quebec em Rimouski (Canadá) revelou que o espécime de peixe, conforme descrito na revista “Nature”, produziu o elo evolutivo que faltava na transição dos peixes para tetrápodes, à medida que os peixes começaram a deixar habitats como águas rasas para terra firme durante o período devoniano tardio, há 380 milhões de anos.

“Hoje anunciamos na revista ‘Nature’ nossa descoberta de um espécime completo de um peixe parecido com um tetrápode, chamado Elpistostege, que revela novas e extraordinárias informações  sobre a evolução da mão dos vertebrados”, diz John Long, professor de paleontologia da Universidade Flinders. “É a primeira vez que descobrimos inequivocamente dedos presos em uma barbatana com espinhas radiais em qualquer peixe conhecido. Os dígitos articulados na barbatana são como os ossos dos dedos encontrados nas mãos da maioria dos animais.”

“Essa descoberta empurra a origem dos dedos nos vertebrados para o nível dos peixes e nos diz que o padrão para a mão dos vertebrados foi desenvolvido profundamente na evolução, pouco antes de os peixes saírem da água”, acrescentou ele.

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Barbatanas

A evolução dos peixes para tetrápodes – vertebrados quadrúpedes entre os quais se incluem os humanos – foi um dos eventos mais significativos da história da vida.

Os vertebrados (animais com espinha dorsal) conseguiram sair da água e conquistar a terra. Para concluir essa transição, uma das mudanças mais significativas foi a evolução das mãos e dos pés.

A barbatana peitoral de Elpistostege mostra as filas curtas de dedos alinhados na barbatana, uma etapa intermediária entre os peixes e os animais terrestres. Crédito: Brian Choo

Para entender a evolução de uma barbatana de peixe para um membro de tetrápodes, os paleontólogos estudam os fósseis de peixes e tetrápodes com barbatanas de lóbulo do Devoniano Médio e Superior (393 a 359 milhões de anos atrás), conhecidos como “elpistostegalianos”. Estes incluem o Tiktaalik do Ártico canadense, conhecido apenas por amostras incompletas.

Segundo o coautor Richard Cloutier, da Universidade de Quebec em Rimouski, na última década, fósseis que evidenciam a transição peixe-tetrápode ajudaram a entender melhor as transformações anatômicas associadas à respiração, audição e alimentação, à medida que o habitat do planeta mudou da água para a terra.

Intermediário

“A origem dos dedos se refere ao desenvolvimento da capacidade do peixe de suportar seu peso em águas rasas ou para viagens curtas em terra. O aumento do número de ossos pequenos na barbatana permite que mais planos de flexibilidade espalhem seu peso pela barbatana.”

O fóssil também mostrou a estrutura do osso do braço ou úmero, características compartilhadas com os primeiros anfíbios.

“O Elpistostege não é necessariamente nosso ancestral”, afirma Cloutier, “mas é o mais próximo que podemos chegar a um verdadeiro ‘fóssil de transição’, um intermediário entre peixes e tetrápodes.”

O Elpistostege era o maior predador a viver em um habitat raso de marinho para estuarino de Quebec (Canadá), cerca de 380 milhões de anos atrás. Tinha poderosas e afiadas presas na boca, de modo que poderia ter se alimentado de vários dos maiores peixes extintos com barbatana com lobos encontrados fossilizados nos mesmos depósitos.