16/04/2020 - 15:31
Um sifonóforo (classe de invertebrados marinhos) de comprimento estimado em 50 metros – aparentemente o animal mais longo já registrado – foi descoberto durante uma expedição científica de um mês explorando os desfiladeiros submarinos perto de Ningaloo (litoral noroeste da Austrália). Além disso, até 30 novas espécies subaquáticas foram avistadas por pesquisadores do Western Australian Museum a bordo do Falkor, navio de pesquisa da organização oceanográfica americana Schmidt Ocean Institute.
A descoberta do sifonóforo gelatinoso maciço com tentáculos – uma colônia flutuante de pequenos zooides (organismos componentes de uma entidade coletiva maior, ou animais coloniais) individuais que se clonam milhares de vezes em corpos especializados posteriormente unidos para trabalhar em equipe – foi apenas um dos achados únicos entre alguns dos peixes e invertebrados marinhos de águas profundas registrados na Austrália Ocidental.
Cientistas do Western Australian Museum, liderados pela cientista-chefe Nerida Wilson, juntaram-se a pesquisadores da Universidade Curtin, da Geoscience Australia e do Scripps Institution of Oceanography na exploração dos cânions de Ningaloo, no Oceano Índico. Usando um robô subaquático, o ROV SuBastian, eles realizaram 20 mergulhos em profundidades de até 4.500 metros em 181 horas de exploração.
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Visão inesperada
Durante a expedição, os cientistas coletaram os primeiros hidroides (colônia de animais que se parece com medusas de cabeça para baixo) gigantes na Austrália, descobriram grandes comunidades de esponjas-de-vidro no Cape Range Canyon e observaram pela primeira vez na Austrália Ocidental a lula-polvo, um pepino-do-mar de cauda longa e vários outros moluscos, cracas e lagostas. Algumas das espécies coletadas serão exibidas no Western Australian Museum.
Segundo Wilson, a descoberta do sifonóforo superlongo ocorreu quando muitos pesquisadores a bordo menos esperavam. O veículo de pesquisa mergulhou até 4.439 metros, mas o sifonóforo só foi descoberto quando o veículo retornava à superfície a cerca de 630 metros.
“A maioria dos cientistas havia saído da sala de controle”, disse Wilson. “A notícia logo se espalhou e as pessoas entraram na sala de controle para compartilhar a emoção. Foi incrível ver esse organismo enorme se espalhar como um OVNI em espiral, pairando na coluna de água. Não podíamos acreditar no que estávamos vendo.”
Os sifonóforos, como as águas-vivas, alimentam-se balançando tentáculos na água. Pequenos crustáceos e peixes azarados o suficiente para nadar nessa cortina de tentáculos são paralisados e enrolados até o corpo da colônia. “Suspeitamos que essas áreas de profundidade fossem diversas, mas ficamos impressionados com o significado do que vimos”, disse Wilson.
Proteção de ecossistemas
A expedição faz parte da iniciativa de um ano do Schmidt Ocean Institute na Austrália e no Pacífico para realizar várias expedições de ciência e engenharia com equipes de cientistas e pesquisadores de todo o mundo. Usando o robô subaquático (ROV) SuBastian, capaz de mergulhar até 4.500 metros de profundidade, os cientistas podem explorar pela primeira vez os desfiladeiros e recifes de coral em toda a Austrália. As filmagens e amostras coletadas dos oceanos que cercam a Austrália terão implicações importantes para a sustentabilidade e proteção desses ecossistemas subaquáticos – e para habitats similares em todo o mundo que estão em perigo por causa do aumento da temperatura do oceano e de outras ameaças ambientais.
Propriedade e operado pelo Schmidt Ocean Institute, uma organização filantrópica sem fins lucrativos criada por Eric e Wendy Schmidt em 2009, o Falkor é o único navio de pesquisa filantrópica marítima em atividade durante todo o ano no mundo. O navio e o ROV que o equipa são disponibilizados gratuitamente para a comunidade científica internacional, e os cientistas concordam em disponibilizar publicamente suas descobertas. Os dados de coleta para essas amostras serão disponibilizados ao público.
A respeito da área recém-investigada, Wilson disse: “Embora seja uma área protegida, na verdade não temos ideia do que mora lá. Realmente queríamos revelar a incrível biodiversidade que existe ali”. Segundo ela, os pesquisadores levarão meses ou anos para terem certeza de que os organismos que descobriram são novos para a ciência. “Definitivamente estávamos procurando e esperando novas espécies. Essas águas eram inexploradas demais para não render tais tesouros”, disse ela.