Nunca devemos permitir que o comportamento dos outros destrua a nossa tranquilidade mental. É bem difícil para todos nós permanecer mentalmente calmos e frear a língua quando alguém nos irrita. Mas nenhum ser humano pode se permitir dizer a todos os que o perturbam como deveriam se comportar. Uma correção de comportamento não solicitada explicitamente cria um grande ressentimento, e ninguém deveria tentar impor a sua vontade ou as suas ideias sobre aqueles que o cercam sem que eles o tenham solicitado claramente.

Um dos enganos cometidos com frequência por aqueles que iniciam um caminho espiritual é o de querer mudar o mundo inteiro por conta do entusiasmo que experimentam na sua busca de Deus. Tais pessoas tentam promover uma revolução espiritual em suas próprias casas e buscam de todos os modos converter o cônjuge e os filhos para as suas ideias.

Mudança pelo exemplo

É maravilhoso cultivar um entusiasmo do gênero, mas, infelizmente, essa atitude cria inevitavelmente muito antagonismo. Paramahansa Yogananda, grande sábio indiano do século 20, costumava dizer a seus discípulos: “Primeiro muda a ti mesmo, reforma a ti mesmo e reformarás dez mil.” É preciso lembrar sempre que, a menos que a pessoa esteja procurando um guia, ouvir alguém dizer o que devemos fazer não nos dá nenhum prazer.

Ninguém gosta de receber conselhos que o forçam a agir de um certo modo. Quando a pessoa estiver pronta para receber um conselho, ela o solicitará, de preferência a alguém que vive com ela, alguém que ela ama ou admira, e só quando tiver a chance de observar que mudanças benéficas aconteceram na vida desse alguém.

Essa colocação é muito importante, porque quem deseja ser guiado quer que a mensagem que lhe chega seja uma mensagem válida e verificável. Isso significa que quem dá um conselho deve primeiro mostrar que esse mesmo conselho já foi recebido e vivido por ele com resultados positivos.

Seja, em primeiro lugar, um exemplo de como você gostaria que os outros fossem. Se você for sujeito à ira e a dar respostas duras, se você pune e bate nos seus filhos sem nenhum motivo, se você é nervoso e se agita facilmente, grita ou fala de maneira pouco gentil, a primeira coisa a fazer é: mudar a si mesmo. Esta é a melhor maneira de mudar aqueles que vivem ao seu redor. Mudar a si mesmo não é fácil, mas não é impossível.

Sabedoria e compreensão

Os esforços de um ser humano deveriam tender a fazer de si mesmo um indivíduo respeitado e apontado como exemplo, uma pessoa cuja palavra possui um peso e um valor. Alguém que fala com verdadeira sabedoria e compreensão, e nunca com raiva, nervosismo, ciúme ou desejo de dar o troco a aquele que, conscientemente ou não, o feriu de algum modo.

Na Índia, um importante comerciante me procurou e disse: “Estou realmente desencorajado e agitado. Estou tendo problemas tanto com minha mulher quanto com os meus empregados. Cada vez que falo com eles não consigo evitar usar um tom duro. Como posso sair dessa situação?”

“Você quer a verdade ou prefere que eu lhe diga aquilo que você gostaria de ouvir?”, perguntei-lhe.

“Quero que me diga a verdade”, sentenciou o comerciante. “Muito bem”, respondi, “você deve começar consigo mesmo. Você tem a reputação de ser um tirano em casa e com os seus empregados. Como resultado, eles lhe obedecem porque você mantém o chicote suspenso sobre suas cabeças, e não porque lhe amam e respeitam. Agindo dessa forma, você nunca conseguirá obter deles o trabalho ou a colaboração que gostaria de obter. Você deve aprender a deixar rolar, deve deixar de ser assim tão tenso.”

Tempo para relaxar

A cada dia, tenha um tempo para se relaxar. Reserve um tempo para pensar em Deus. Faça de conta que a sua vida acabará dentro de instantes, ou que o seu corpo já está morto (esta é uma experiência muito interessante).

De repente, você sentirá que as suas responsabilidades já não são suas. Perceberá o quanto é mais importante pensar um pouco mais no seu futuro com Deus.

Finalmente, lhe disse: “Se você quiser, enquanto eu estiver aqui, poderá vir aqui todas as tardes para fazer um pouco de satsang (costume indiano durante o qual o professor ou o mestre fala de modo extemporâneo sobre temas espirituais) e de meditação conosco.” O comerciante aceitou o convite e passou a frequentar nosso grupo todos os dias.

Dois anos depois, quando voltei à Índia, um dos seus empregados me disse: “Hoje, ele é um homem diferente, muito mais calmo e paciente conosco. Existe agora muito mais paz e harmonia entre nós, e por isso conseguimos produzir bem mais, porque não vivemos tensos e nervosos o tempo todo.”

Tomar a iniciativa

Esse é um maravilhoso exemplo de como Deus pode instaurar a paz e a harmonia em nós e fora de nós. Enquanto você permanecer tenso e nervoso, o seu cônjuge e os seus filhos reagirão e se comportarão de maneira idêntica. Não pode ser de outro modo. Se você deseja que o clima na sua casa seja diferente, você deve tomar a iniciativa.

Não espere, no entanto, que as coisas mudem da noite para o dia. Isso acontece muito raramente. A mudança é um processo lento e natural. Mesmo se, aparentemente, nenhum resultado aparece, não desanime, não perca a coragem e evite se autocrucificar por um aparente fracasso.

Yogananda afirmava: “Deus deu a cada ser humano um dom abençoado: a privacidade do seu pensamento. Nela, todo ser humano pode viver e criar em silêncio uma compreensão e uma amizade com Deus, e isso não deixará de se refletir durante toda a sua vida, nas suas relações com a família, com aqueles que o cercam, com o mundo inteiro. Mesmo se aqueles que vivem com você não mudarem de modo perceptível, as mudanças que aconteceram com você lhe tornarão menos vulnerável ao mau comportamento dos outros.”

O significado divino das relações humanas

A escritora Louise Hay, no livro Cure o Seu Corpo (Heal Your Body), formula uma pergunta importante: “É melhor viver mal e ter razão ou viver bem e estar errado?”

Deus nos deu diversas formas de relações humanas por uma razão muito simples: nós aprendemos uns com os outros. Cada um é, de certa forma, nosso mestre, nosso professor. As crianças, por exemplo, nos ensinam a ser infinitamente pacientes e a superar o nosso egoísmo e os nossos interesses para poder modelar suas vidas de modo correto. Ao mesmo tempo, nós somos os mestres delas, pois compete a nós a responsabilidade de guiá-las e educá-las de modo que um dia possam se lançar da melhor maneira possível na sua vida autossuficiente.

Mola propulsora

Paramahansa Yogananda e seu guru Sri Yukteswar foram dois importantes mestres espirituais da primeira metade do século 20. Ambos ensinavam não haver diferença entre a ciência do comportamento e a ciência da religião. Preconizavam a reforma de si mesmo como mola propulsora da reforma do mundo.

Ao viver todas essas relações humanas, adquirimos uma purificação e uma expansão do nosso amor. Só o amor pode produzir mudanças nos outros.

Se você se aproxima de uma criança, do seu cônjuge ou de qualquer outra pessoa com uma infinita consciência de compreensão e amor, não importa o que essa pessoa diga ou faça, é inevitável que, no acerto final de contas, a vitória seja sua. Mas cabe a você desenvolver a paciência e persistir na prova. Insira na sua própria vida as qualidades que você gostaria de ver nos outros, de modo que elas se tornem um exemplo vivente.

Yogananda disse: “Como viver, que grande ciência! Meu mestre, Swami Sri Yukteswar, me falou um dia: ‘Aprenda a se comportar de maneira oportuna.’ A ciência do comportamento é a ciência da religião. Quando você tiver realmente aprendido a se comportar do modo correto, poderá conhecer Deus. Nesse momento você pensará e se comportará de tal maneira que, a todo instante, terá consciência de possuir uma alma divina e não apenas um corpo mortal. A fome da alma é continuamente saciada com o néctar da Presença Divina. Vocês não são seres mortais, vocês são seres espirituais e, portanto, devem aprender a viver como Deus. Isso só pode ser feito quando a pessoa insere a religião na sua vida cotidiana. A religião não deve ser entendida como um compromisso dominical para ser esquecido durante o resto da semana.”

Buscadores da verdade

O mesmo Yogananda, falando sobre as profissões de fé, observou: “Não me interessam aqueles que seguem a Igreja de maneira tradicional. Se assim fosse, teria dezenas de milhares de discípulos em todo o mundo. No meio da multidão, procuro os buscadores da verdade, aquelas almas intensamente inflamadas pelo desejo de conhecer Deus.” E ele certamente não pretendia dizer que queria fazer de cada aluno um monge.

Ele também costumava afirmar: “Faz do teu coração um eremitério no qual você possa se retirar em silêncio para adorar Deus.” Nesse eremitério, o primeiro lugar deve ser reservado para Deus.

A vida alcançará então um valor notável, e as relações com os outros se tornarão experiências gratificantes. Você amará as suas crianças, o seu marido ou a sua mulher com o grande amor, a grande compreensão e compaixão de Deus.

Deus reforça os laços entre os seres humanos e libera as suas relações terrenas dos limites impostos pelo apego egoísta, que tende a diminuir e a pôr limites ao próprio amor. Nada sufoca mais o amor do que o apego possessivo: “Você tem de fazer isso porque você me pertence e, assim sendo, eu tenho o direito de lhe tratar dessa maneira.” Esse é, quase sempre, um jeito certo de condenar à morte uma relação humana.

Respeito mútuo

Na minha opinião, antes que duas pessoas pudessem se casar, seria muito útil que fossem obrigadas pela lei a frequentar uma escola onde tivessem a possibilidade de aprender a arte do comportamento correto. Quando uma pessoa está espiritual e e psicologicamente educada para reconhecer a natureza humana e a arte das relações com os outros, ela está potencialmente pronta para criar uma família serena, harmoniosa e espiritual. Uma alma encarnada numa família como essa encontraria todos os pressupostos para fazer florescer, em si mesma, os dons que lhe foram atribuídos pela divindade.

As relações entre os seres humanos entram em falência quando desaparece o respeito de um pelo outro. O marido não tem mais respeito pela mulher, a mulher pelo marido, as crianças para com os pais e os pais para com os filhos. Quando falta a amizade, as relações humanas se deterioram rapidamente. Sem amizade, o amor entre marido e mulher, entre pais e filhos, é logo destruído. A amizade dá à pessoa a oportunidade de exprimir a si mesma e a sua verdadeira identidade.

Manter a amizade

Quando existe uma completa compreensão e comunicação entre duas almas, ali existe verdadeira amizade e amor. Quando as pessoas aprendem a manter a amizade, o respeito e o cuidado nas suas relações matrimoniais e naquelas fora do matrimônio, nunca chegam ao ponto de abusar dos outros ou de se ressentir quando sofrem um tal abuso.

A tudo isso você pode replicar: “Sim, é tudo muito bonito e seria ótimo se minha mulher (ou meu marido) começasse a praticá-lo.” Mas por que a iniciativa não deve partir de você? Comece a fazer a sua parte e deixe o resto nas mãos de Deus. E assim voltamos ao discurso do início: “Se você deseja mudar os outros… comece primeiro por mudar a si mesmo.”

* Mário Rizzi, webmaster, é o coordenador do Projeto Caduceo (www.procaduceo.org), interessante site italiano dedicado à diagnose médica holística – uma abordagem diagnóstica integrada que permite descobrir as causas profundas das doenças e determinar as terapias mais oportunas.