22/05/2020 - 16:01
O arroz sempre foi o alimento mais importante da Ásia e do mundo. Cerca de metade da população do planeta usa o arroz como sua principal fonte de alimento. A origem, propagação, evolução e adaptação ecológica do arroz cultivado constituem ainda uma das questões mais importantes pendentes para arqueólogos, biólogos e cientistas agrícolas do mundo.
Nos últimos anos, estudos de arqueobotânica e biologia molecular mostraram que o arroz originariamente cultivado foi domesticado como arroz japônica ou sinica (Oryza sativa japonica) na região inferior do vale do rio Yangtze, na China, há 10 mil anos, e depois se espalhou pelo Japão, sul e sudeste da Ásia. Há cerca de 5 mil a 4 mil anos, o arroz japônica cultivado se espalhou para o sul da Ásia, hibridado com o arroz selvagem nativo, e gradualmente formou o arroz índica (Oryza sativa indica), que se tornou a principal cultura do sul da Ásia atualmente.
No entanto, nos últimos anos, as pesquisas sobre a origem e a propagação do arroz concentraram-se principalmente no leste, no sudeste e no sul da Ásia. Atualmente, ainda sabemos muito pouco sobre quando e como o arroz se espalhou pelo oeste da Ásia, pela Europa e pela África.
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A região da Ásia Central, como um nó importante na antiga Rota da Seda, não pode ser ignorada, porque é a “encruzilhada” da civilização mundial. Portanto, estudar o tempo e o local do surgimento do arroz na Ásia Central pode nos ajudar a restaurar o processo de disseminação da agricultura do arroz e adicionar uma parte importante para a pesquisa de globalização das primeiras culturas.
Intercâmbio de civilizações
Recentemente, o grupo de pesquisa de Li Xiaoqiang no Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia (IVPP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS) e outros pesquisadores da Faculdade de Patrimônio Cultural, da Universidade do Noroeste (ambas da China) e do Instituto de Arqueologia da Academia de Ciências do Uzbequistão relataram suas últimas pesquisas sobre os resíduos agrícolas encontrados no sítio de Khalchayan, no sudeste do Uzbequistão. O estudo foi publicado na revista “Science China: Earth Science”.
Os pesquisadores investigaram 11 locais na margem norte do Amu Darya (um dos rios que abasteciam o Mar de Aral), da Idade do Bronze ao período árabe, e descobriram restos de arroz carbonizado no sítio de Khalchayan. Com arqueobotânica, método cronológico e outros registros arqueológicos locais, os pesquisadores fornecem uma nova evidência física para a propagação do arroz para o oeste da Ásia e o intercâmbio de civilizações orientais e ocidentais ao longo da antiga Rota da Seda.
Os resultados da datação do material mostraram que o arroz encontrado no local é de cerca de 1.714 a 1.756 anos atrás, coincidindo com o período do Império Kushan (Cuchana). Além dos resíduos de arroz, foram recuperados no local trigo carbonizado, cevada, ervilha, milho, uvas, linho e outras culturas. Essas culturas têm origem na Ásia Ocidental e na Ásia Oriental, que ilustra um sistema agrícola diversificado e complexo feito em oásis. Como o cultivo de arroz requer muito calor e água, seria difícil cultivar trigo e milho em regiões áridas nos primeiros tempos.
Integração da dieta
Estudos morfológicos mostram que os resíduos de arroz carbonizado são arroz japônica, e sua morfologia é semelhante à de restos encontrados em alguns locais no sul da China e no noroeste da Índia durante o mesmo período. Isso indica a possibilidade de que o arroz chegou à Ásia Central a partir do sul do continente asiático.
Enquanto isso, quando o arroz apareceu na Ásia Central, o Império Kushan já se havia estabelecido no noroeste da Índia e conquistara grande parte das partes central e sul da Ásia. A expansão imperial e a agitação política podem ter alimentado ainda mais a dispersão das culturas pela Ásia Central. O surgimento do arroz também pode indicar o início da integração da dieta baseada no arroz com o sistema de dieta local à base de trigo na Ásia Central e, por fim, formar o sistema de dieta centro-asiática de hoje, com massa cozida (naan), arroz pilaf e churrasco.
O arroz encontrado em Khalchayan é o primeiro arroz bem estudado na Ásia Central. É também um dos poucos exemplos de arroz antigo cultivado encontrados fora do leste, do sul e do sudeste da Ásia. Tem um grande valor para entender melhor o processo de intercâmbio das primeiras atividades agrícolas na rota do sul do Himalaia e também fornece uma nova evidência para explicar como o arroz se espalhou ainda mais para o oeste, para o Irã, a Europa e África, regiões contemporâneas de cultivo de arroz.