08/06/2020 - 11:22
Segundo um novo estudo realizado por uma equipe internacional de pesquisadores do Caribe, da Europa e da América do Norte, o Caribe foi povoado por várias dispersões populacionais sucessivas originárias do continente americano.
O Caribe foi uma das últimas regiões das Américas a serem colonizadas por humanos. O estudo recente, publicado na revista “Science”, lança uma nova luz sobre como as ilhas foram povoadas milhares de anos atrás.
Usando DNA antigo, uma equipe de arqueólogos e geneticistas liderada por pesquisadores da Universidade de Copenhague (Dinamarca) e do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana (Alemanha) encontrou evidências de pelo menos três dispersões populacionais que trouxeram pessoas para a região.
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“Os novos dados nos dão uma visão fascinante da história inicial das migrações no Caribe. Encontramos evidências de que houve assentamentos e reassentamentos nas ilhas várias vezes, provenientes de diferentes partes do continente americano”, diz Hannes Schroeder, professor associado do Globe Institute, da Universidade de Copenhague, e um dos principais autores do estudo.
Mais dados, mais detalhes
Os pesquisadores analisaram os genomas de 93 pessoas que viveram entre 400 e 3.200 anos atrás nas ilhas do Caribe. Para isso, usaram fragmentos de ossos escavados por arqueólogos caribenhos em 16 sítios arqueológicos da região.
Devido ao clima quente da região, o DNA das amostras não foi muito bem preservado. Mas, usando as chamadas técnicas de enriquecimento direcionado, os pesquisadores conseguiram extrair informações suficientes dos restos mortais.
“Esses métodos nos permitiram aumentar o número de sequências de genoma antigos do Caribe em quase duas ordens de magnitude e, com todos esses dados, podemos desenhar uma imagem muito detalhada da história inicial das migrações do Caribe”, diz Johannes Krause, diretor do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana e outro autor sênior do estudo.
As descobertas dos pesquisadores indicam que houve pelo menos três dispersões populacionais diferentes na região: duas dispersões anteriores no oeste do Caribe, uma das quais parece estar ligada a dispersões populacionais anteriores na América do Norte, e uma terceira e mais recente “onda”, originária da América do Sul.
Conexões através do Mar do Caribe
Embora ainda não esteja totalmente claro como os primeiros colonos chegaram às ilhas, há crescentes evidências arqueológicas indicando que, longe de ser uma barreira, o Mar do Caribe serviu como uma espécie de ‘estrada aquática’ que ligava as ilhas ao continente e entre si.
“Grandes massas de água são tradicionalmente consideradas barreiras para os seres humanos, e as comunidades de antigos caçadores-coletores-pescadores geralmente não são vistas como grandes navegadores. Nossos resultados continuam a desafiar essa visão, pois sugerem que houve uma interação repetida entre as ilhas e o continente”, diz Kathrin Nägele, aluna de doutorado no Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana e uma das primeiras autoras do estudo.
Diversidade biológica e cultural
“Os novos dados apoiam nossas observações anteriores de que os primeiros colonos do Caribe eram biológica e culturalmente diversos, acrescentando resolução a esse período antigo da nossa história”, diz a coautora Yadira Chinique de Armas, professora assistente de bioantropologia da Universidade de Winnipeg (Canadá), que atualmente codirige três escavações em larga escala em Cuba como parte do projeto do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanidades do Canadá (SSHRC).
Os pesquisadores descobriram diferenças genéticas entre os primeiros colonos e os recém-chegados da América do Sul, que, de acordo com evidências arqueológicas, entraram na região há cerca de 2.800 anos.
“Embora os diferentes grupos estivessem presentes no Caribe ao mesmo tempo, encontramos surpreendentemente pouca evidência de mistura entre eles”, acrescenta Cosimo Posth, líder do grupo no Instituto Max Planck de Ciência da História Humana e coautor principal do estudo.
“Os resultados deste estudo fornecem mais uma camada de dados que destaca a natureza diversa e complexa das sociedades caribenhas pré-colombianas e suas conexões com o continente americano antes da invasão colonial”, diz Corinne Hofman, professora de arqueologia da Universidade de Leiden (Holanda) e coautora do estudo.