30/06/2020 - 13:26
A modelagem do impacto do asteroide Chicxulub há 66 milhões de anos mostra que ele criou um mundo em grande parte inadequado para a vida dos dinossauros.
Acredita-se que o asteroide, que atingiu a Terra na costa do Yucatán (México) no final do período Cretáceo, seja a causa do desaparecimento de todas as espécies de dinossauros, exceto aquelas que se tornaram pássaros. No entanto, alguns pesquisadores sugeriram que dezenas de milhares de anos de grandes erupções vulcânicas podem ter sido a causa real do evento de extinção, que também matou quase 75% da vida na Terra.
Agora, uma equipe de pesquisa do Imperial College London, da Universidade de Bristol e da University College London (Reino Unido) mostrou que apenas o impacto do asteroide poderia ter criado condições desfavoráveis para os dinossauros em todo o mundo.
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Os cientistas mostram ainda que o vulcanismo maciço também pode ter ajudado a vida a se recuperar do choque do asteroide no longo prazo. Os resultados obtidos foram publicados na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)”.
Força suficiente
O pesquisador principal, dr. Alessandro Chiarenza, que conduziu esse trabalho enquanto estudava para seu doutorado no Departamento de Ciências e Engenharia da Terra do Imperial College London, disse: “Mostramos que o asteroide causou um inverno de impacto por décadas e que esses efeitos ambientais dizimaram ambientes adequados para os dinossauros. Por outro lado, os efeitos das intensas erupções vulcânicas não foram fortes o suficiente para perturbar substancialmente os ecossistemas globais. (…) Nosso estudo confirma, pela primeira vez quantitativamente, que a única explicação plausível para a extinção é o impacto no inverno que erradicou habitats de dinossauros em todo o mundo”.
O choque do asteroide teria liberado partículas e gases na atmosfera, bloqueando o Sol por anos e causando invernos permanentes. As erupções vulcânicas também produziram partículas e gases com efeitos bloqueadores do Sol e, por volta da época da extinção em massa, havia dezenas de milhares de anos de erupções nos Basaltos do Decã (Deccan Traps), na Índia atual.
Para determinar qual fator, o asteroide ou o vulcanismo, tinha mais poder de mudar o clima, os pesquisadores tradicionalmente usam marcadores geológicos do clima e poderosos modelos matemáticos. No novo artigo, a equipe combinou esses métodos com informações sobre de que tipos de fatores ambientais, como chuva e temperatura, cada espécie de dinossauro precisava para prosperar.
Os cientistas conseguiram mapear onde essas condições ainda existiriam em um mundo após um choque de asteroide ou um vulcanismo maciço. Eles descobriram que apenas a colisão de um asteroide destruiria todos os habitats em potencial dos dinossauros, enquanto o vulcanismo deixaria algumas regiões viáveis ao redor do equador.
Dimensão ecológica
O principal coautor do estudo, dr. Alex Farnsworth, da Universidade de Bristol, disse: “Em vez de apenas usarmos o registro geológico para modelar o efeito no clima que o asteroide ou o vulcanismo poderia ter causado em todo o mundo, impulsionamos essa abordagem um passo adiante, adicionando uma dimensão ecológica ao estudo para revelar como essas flutuações climáticas afetaram gravemente os ecossistemas”.
O coautor dr. Philip Mannion, do University College London, acrescentou: “Neste estudo, adicionamos uma abordagem de modelagem aos principais dados geológicos e climáticos que mostram o efeito devastador do impacto do asteroide nos habitats globais. Essencialmente, ele produz uma tela azul de morte para dinossauros”.
Embora os vulcões liberem gases e partículas bloqueadores do Sol, eles também liberam dióxido de carbono, um gás de efeito estufa. No curto prazo após uma erupção, os bloqueadores do sol têm um efeito maior, causando um “inverno vulcânico”. No entanto, no longo prazo, essas partículas e gases desaparecem da atmosfera, enquanto o dióxido de carbono permanece ao redor e se acumula, aquecendo o planeta.
Após o drástico inverno global inicial causado pelo asteroide, o modelo da equipe sugere que, em longo prazo, o aquecimento vulcânico poderia ter ajudado a restaurar muitos habitats, ajudando a nova vida que evoluiu após o desastre prosperar.
Chiarenza afirmou: “Fornecemos novas evidências para sugerir que as erupções vulcânicas ocorridas ao mesmo tempo podem ter reduzido os efeitos no ambiente causados pelo impacto, principalmente para acelerar o aumento das temperaturas após o inverno de impacto. Esse aquecimento induzido pelos vulcões ajudou a impulsionar a sobrevivência e a recuperação dos animais e plantas que superaram a extinção, com muitos grupos se expandindo em consequência imediata, incluindo pássaros e mamíferos”.