Conhecer a cultura de outro país é uma atração a mais para um viajante observador. No caso dos do Oriente – tão diferente de nós em tudo – dez minutos no aeroporto internacional de Taipé confirmam essa tese. Monges com túnicas marrons ou alaranjadas, taiwanesas esguias vestidas com os seus trajes típicos e jovens que adotaram a moda oriental da lolita fashion (vestem-se como bonecas) por ali transitam, expondo o rico contraste que habita aquele solo. Mas há muito mais a ser descoberto neste país pressionado desde os primórdios de sua história.

São muitas as Chinas. A continental com 1,3 bilhão de pessoas, considerada a nação que mais cresce economicamente no mundo; a de Hong Kong, que vive sob um regime chinês denominado “Um País, Dois Sistemas”, que prevalecerá até 2047, data limite de sua independência administrativa e econômica; e a de Taiwan (República da China), em Formosa, distante 150 quilômetros do continente, vista como “Província rebelde” pelo governo de Pequim.

Em termos de ARTES cênicas, os CHINESES fizeram tudo antes de todo MUNDO

“Será que uma nação ou povo tem o direito de impor sua vontade a outro? Pode haver justificativa para que uma política baseada na supremacia militar fique ameaçando nos invadir?”, questiona o engenheiro Henri Sen, ao se referir a uma possível invasão de seu país pela República Popular da China. Está em jogo a sobrevivência de um povo que optou por um regime político diverso do vigente na China continental. Enquanto as relações diplomáticas patinam ao sabor de uma decisão bilateral, os 23 milhões de taiwaneses sempre sabem em que pé estão as relações políticas e, lógico, temem que essa ameaça se concretize.

Taipé provoca no visitante ocidental a sensação de entrar numa mescla de culturas. À primeira vista se parece com tantas outras cidades asiáticas: ruas cheias de gente, de motos, bicicletas e uma sobrecarga visual que não faz economia de imagens. Enormes letreiros luminosos, placas e faixas que atravessam as ruas de um lado a outro, em ideogramas chineses, alardeando um produto ou loja. Nesses locais predomina a arquitetura chinesa com seus telhados vermelhos com as pontas viradas para cima.

OUTROS LUGARES estão sendo redesenhados, mas com inspiração ocidental. Alamedas à moda francesa e fervilhantes ao jeito chinês, e gigantescos prédios, como o Tower 101. Com 508 metros de altura, é o edifício mais alto do mundo. Sua silhueta norteia a cidade. Um elevador, considerado o mais rápido existente, leva ao observatório localizado no 89° andar em menos de um minuto. De seus janelões, a cidade é revelada em 360°. Em dias claros, dali pode-se avistar o continente. A distância entre Ocidente e Oriente, porém, é mais evidente ao amanhecer. Enquanto corremos ou nos exercitamos em academias, os chineses se ligam nos

… Contrastes

À esquerda, um bonsai, uma arte praticada há mais de dois mil anos. Acima, sentido horário, a modernidade do Shopping Mitsuki contrasta com a arquitetura tradicional chinesa; a entrada do Parque Nacional de Taroko, onde se situa a garganta de Taroko em mármore que emerge do Rio Liwu, e o monge mostrando tradição nas ruas de Taipé.

delicados movimentos do tai chi chuan (arte marcial chinesa cujos movimentos são inspirados nos dos animais), acompanhados ao som de música suave. Isso pode ser notado em todos os parques da cidade, mas o espetáculo se destaca quando realizado logo cedo nos jardins do Memorial Chiang Kai-shek. Centenas de praticantes fazem uma performance que acalma até quem assiste. A gigantesca obra do Memorial ancora duas construções de rara beleza arquitetônica: o National Concert Hall e o Nacional Theater.

Sensibiliza perceber a paixão dos taiwaneses pelas artes, desde a caligrafia e a cerâmica até o teatro, a dança, a música e a ópera. Aliás, em termos de artes cênicas, os chineses fizeram tudo antes de todo mundo. A ousadia e o espírito inventivo aplicados ao exercício dessas artes podem ser vistos em diferentes locais desta cidade de 2,5 milhões de habitantes.

A ópera não está ligada apenas à dança, mas também às máscaras. Elas se constituem em um de seus elementos mais expressivos e indissociáveis. As apresentações cênicas, o ritual do chá, a Lin Na Tai Historical Home, o National Center for Tradicional Arts, o Museu de Arte Moderna e o Museu Nacional Palácio, provam que não faltam atrações culturais na cidade.Nesse quesito, o Museu Nacional Palácio é nota máxima. Sua arte está em fazer o visitante participar de uma viagem de milhares de anos retratada pela criatividade de artistas de diferentes gerações, particularmente na cerâmica, bronze, jade e porcelana.

Com acervo de quase 700 mil peças, o museu abriga a maior coleção de arte chinesa do mundo, embora o público tenha acesso apenas a 3% de sua coleção. A maior parte dos objetos é originária da Cidade Proibida de Pequim e foi trazida por Chiang Kai-shek, quando ele se refugiou na Ilha de Formosa. A despeito de riquíssimas obras, a “monalisa” do museu é uma pequena acelga esculpida em jade com um grilo sobre as folhas.

Comunicar-se com a população local é difícil, pois poucas pessoas falam uma língua ocidental. Recorrer à mímica, nem pensar. A simbologia muda de país para país e, de repente, o que você está gesticulando é algo totalmente avesso ao que pretendia. Por natureza, os chineses são gentis, mas ainda um muito povo reservado.

Desejava saber se o taiwanês é confucionista, taoista ou budista – se pertence à escola Dju, Tao ou Fu. Para eles, essa pergunta não têm importância. No centro do pensamento filosófico da China antiga estão os “Sábios e as Cem Escolas de Pensamento”, cujas mais notáveis são as escolas confuciana, taoísta, maoísta, dialética e legalista e as que surgiram depois do século 3, a metafísica e a budista.

São ensinamentos éticos que propõem estratégias diferentes de sobrevivência, mas que têm um ponto em comum: a recomendação da humildade. Suas crenças são aceitas sem destruir as raízes de qualquer uma das escolas. Vários templos da cidade atestam esse fato: ostentam altares dedicados a deuses e monges sagrados das três principais religiões.

A AURA DE mistério que cerca a cultura chinesa se manifesta com mais força nos templos. Taipé cultua o passado, como se pode observar no Templo de Longshan, onde os fiéis vão pedir bênçãos e revelações dadas pelos oráculos. É visível como a mística permeia a vida dos habitantes. O templo é também um convite para se admirar a arquitetura religiosa chinesa. Construído em 1738, notabilizou-se por sua história e sofisticada arte.

A arquitetura chinesa segue os princípios do equilíbrio e da simetria. Alguns estudiosos vêem um paralelo entre a linha da arquitetura chinesa e os traços de pincel da sua caligrafia.

O uso de armação estrutural de madeira e paredes de barro cercando a construção em três lados remonta milênios, pois a madeira para os chineses representa vida. A ornamentação em seu interior é primorosa e expõe elementos que incluem a pintura multicolorida, a cerâmica e esculturas em madeira, pedra e argila. O dragão e a fênix estão em quase toda parte. Durante o dia e a noite, acontecem celebrações e cerimônias de oferendas de flores e frutas aos deuses e o som é os das peças de bambu em formato de meia-lua. Elas representam o yin e o yang e são jogadas ao solo para se receber a instrução dos deuses. Entrar em Longshan é compreender um pouco mais a cultura chinesa.

O uso de armação estrutural de madeira e paredes de barro cercando a construção em três lados remonta milênios, pois a madeira para os chineses representa vida. A ornamentação em seu interior é primorosa e expõe elementos que incluem a pintura multicolorida, a cerâmica e esculturas em madeira, pedra e argila. O dragão e a fênix estão em quase toda parte. Durante o dia e a noite, acontecem celebrações e cerimônias de oferendas de flores e frutas aos deuses e o som é os das peças de bambu em formato de meia-lua. Elas representam o yin e o yang e são jogadas ao solo para se receber a instrução dos deuses. Entrar em Longshan é compreender um pouco mais a cultura chinesa.

Alas dedicadas aos peixes e frutos do mar se alinham entre os cereais e bancas que vendem carnes de pato, de galinha e de cobra. É preciso entender que a fartura e a diversidade são essenciais para a culinária chinesa. Os taiwaneses adoram comer. Prova disso é a habitual saudação de “Como vai?”, para eles, “Chih fan le mei?”, que numa tradução livre significa “Você já se alimentou hoje?”

O DIM-SUM (bolinho de arroz cozido em cestas de bambu), a omelete com ostras e o ovo milenar, o pi dam, que é negro, pois ficou enterrado durante meses, estão entre nossas descobertas. O dragão vermelho é uma das frutas mais vistosas. De cor rosachoque ou vermelha e com pétalas de pontas verdes, tem seu interior todo pipocado de minúsculas sementes pretas.

Outra ala do mercado muito concorrida é a da medicina chinesa e das massagens. Visitar uma farmácia é entrar num pequeno museu de ciência natural. Centenas de gavetas e potes de cerâmica guardam produtos animais, vegetais e minerais. Cada um com uma finalidade específica.

O conteúdo de uma receita prescrita por um médico chinês é inusitado para nós. Pode incluir o cinabre e o âmbar para relaxar os músculos, caroço de pêssego e açafrão para melhorar a circulação e a efedrina para induzir a transpiração. Estabelecida há mais de dois milênios, a estrutura teórica da medicina oriental prega que o homem vive entre o céu e a terra, e compreende um universo em miniatura em si mesmo. No pensamento clínico, a enfermidade é apenas uma manifestação de desequilíbrio.

Embora abrigue tantos contrastes entre o moderno e a tradição e tenha costumes, hábitos e cultura tão diferentes dos nossos, Taiwan é uma cidade única. E com muita história para contar. Faz parte de um arquipélago vulcânico e montanhoso formado por 80 ilhas – cuja principal é Formosa.

Para CONHECER melhor essa CIVILIZAÇÃO milenar, é preciso VISITAR os mercados

Separado da China continental por uma faixa de mar de 150 quilômetros, Taiwan teve sua história ligada à China até o século 15. Cobiçado por portugueses, espanhóis e holandeses nos séculos seguintes, as ilhas foram entregues ao Japão em 1895, após a Guerra Sino-Japonesa. Mas

… Símbolos chineses

Na página oposta, no sentido horário, um bordado representando a flor de lótus, símbolo da meditação; fruta do dragão vermelho; o Mercado Noturno de Hwasi. Ao lado, o Festival da Lanterna, no qual se apresentam as danças tradicionais do leão e do dragão. À direita, no alto, a cerâmica tradicional Yingee, comercializada nas ruas.

voltou ao domínio da China no fim da Segunda Guerra (1939-1945).

Quatro anos depois, os comunistas liderados por Mão Tsé-tung venceram os nacionalistas, sob o comando de Chian Kai-shek, que se refugiaram em Formosa: dois milhões de chineses desembarcaram na ilha que, na época, contava com quatro milhões de habitantes. Atualmente, Taiwan mantém relações diplomáticas com cerca de 30 países. O Brasil não é um deles, embora os dois países tenham relações econômicas e culturais.

Considerado um dos tigres asiáticos pela pujança de sua economia, Taiwan deve essa condição à iniciativa do seu governo que, no início dos anos 60,investiu para que as famílias criassem pequenas fábricas em casa, para completar a renda. “A primeira preocupação era matar a fome e a segunda, a educação dos filhos. Essa geração se graduou em escolas norte-americanas e européias e depois voltou para criar grandes empresas”, diz Felix Chang, do Ministério de Relações Exteriores. “A fabriquinha da minha família era de guarda-chuva”, orgulha-se ele.

Serviço

Quem leva: a Receptur, tel. (11) 3259-4066, representante no Brasil da companhia aérea taiwanesa, China Airlines, oferece viagens personalizadas a Taipei. Uma das melhores opções é voar pela LAN de São Paulo-Lima- Los Angeles e de lá, após um stopover na cidade norte-americana, embarcar num dos aviões diários da China Airlines para Taiwan.