14/08/2020 - 11:55
“A obesidade predispõe as crianças e adolescentes obesos a terem complicações da covid-19 e é fato que a obesidade é crescente entre esse público”, afirma o professor Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida, do Departamento de Medicina (DMed) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O docente coordena o grupo de pesquisa Centro de Investigação em Nutrologia e Saúde (Cinus), que fez uma revisão clínica recente sobre a relação entre a obesidade infantil e as complicações da covid-19. O artigo foi publicado no periódico “Jornal de Pediatria”, renomada revista internacional na área.
O principal objetivo do trabalho foi identificar fatores que contribuem para o aumento da suscetibilidade e gravidade da covid-19 em crianças e adolescentes obesos e suas consequências para a saúde. O professor da UFSCar aponta que a obesidade é uma comorbidade de alta prevalência nos casos graves de covid-19 em crianças e adolescentes. De acordo com ele, o excesso de tecido adiposo, déficit de massa magra, resistência à insulina, dislipidemia (colesterol elevado no sangue), hipertensão, níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias e a baixa ingestão de nutrientes essenciais são fatores que comprometem o funcionamento de órgãos e sistemas dos indivíduos obesos.
Nogueira-de-Almeida afirma que, somados a esses fatores, também há prejuízos dos sistemas imunológico, cardiovascular, respiratório e urinário e modificação da microbiota intestinal. Os prejuízos desse quadro podem causar complicações nos casos de infecção pelo novo coronavírus. “Essas alterações orgânicas advindas da obesidade podem potencializar a necessidade de assistência ventilatória, risco de tromboembolismo, redução da taxa de filtração glomerular, alterações na resposta imune inata e adaptativa e perpetuação da resposta inflamatória crônica”, acrescenta o professor da UFSCar.
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Avaliação nutricional necessária
Além das medidas protetivas já preconizadas no combate à covid-19, o docente destaca a necessidade dos profissionais da saúde realizarem avaliação nutricional para diagnóstico do excesso de peso e o rastreamento de comorbidades associadas à obesidade para garantir a efetividade do tratamento contra a covid-19. “É preciso que os profissionais da saúde dosem os níveis de imunonutrientes para avaliar a necessidade de suplementação, deem orientações às famílias e determinem, quando necessário, o encaminhamento a unidades hospitalares aptas ao atendimento de crianças e adolescentes obesos”, defende.
Os resultados do trabalho realizado pelo Cinus foram publicados no artigo “Covid-19 e obesidade na infância e adolescência: uma revisão clínica”. O Cinus é um Diretório de Pesquisa alocado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na UFSCar, e inclui professores e estudantes da instituição e da Universidade de São Paulo (USP).