20/11/2020 - 18:06
Pessoas que são dogmáticas sobre suas visões buscam menos informações e fazem julgamentos menos precisos como resultado, mesmo em questões simples não relacionadas à política, de acordo com um estudo conduzido por pesquisadores do University College London (UCL, do Reino Unido) e do Instituto Max Planck de Cibernética Biológica (Alemanha). Um artigo sobre o trabalho foi publicado na revista “PNAS”.
Os pesquisadores dizem que suas descobertas apontam para diferenças nos padrões de pensamento que levam as pessoas a ter opiniões rígidas.
O primeiro autor, Lion Schulz, aluno de doutorado no Instituto Max Planck que iniciou a pesquisa enquanto estava no UCL, disse: “Curiosamente, parece que as pessoas dogmáticas estão menos interessadas em informações que podem mudar suas ideias. No entanto, não estava claro se isso ocorre porque uma opinião específica é de grande importância para elas ou se estão em jogo processos mais fundamentais que transcendem opiniões específicas”.
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Pessoas dogmáticas são caracterizadas por uma crença de que sua visão de mundo reflete uma verdade absoluta e frequentemente resistem a mudar de ideia, por exemplo, quando se trata de questões partidárias. Essa tendência pode ter impactos sociais ao polarizar os debates políticos, científicos e religiosos. No entanto, os impulsionadores cognitivos do dogmatismo ainda são mal compreendidos.
Tomada de decisão simples
Para investigar isso, os pesquisadores pediram a mais de 700 pessoas que realizassem uma tarefa simples de tomada de decisão. Os participantes viam duas caixas com pontos piscando e tinham de decidir qual caixa continha mais pontos. De maneira crítica, depois que os participantes faziam uma escolha inicial, os pesquisadores davam a eles a chance de ver outra versão mais clara das caixas. Eles então tomavam uma decisão final.
Schulz explicou: “Isso reflete muitas situações da vida real – por exemplo, quando ouvimos um boato, mas não temos certeza se é verdade. Nós o compartilhamos ou verificamos uma fonte confiável de antemão?”
O primeiro autor conjunto, dr. Max Rollwage, do Wellcome Center for Human Neuroimaging na UCL e do Max Planck UCL Center for Computational Psychiatry & Aging Research, afirmou: “Usando tarefas simples, conseguimos minimizar as influências motivacionais ou sociais e identificar os fatores de alteração no processamento de evidências que contribuem para crenças dogmáticas.”
A tarefa foi seguida por um conjunto abrangente de questionários que permitiu aos pesquisadores medir a orientação política dos participantes e os níveis de dogmatismo.
Precisão menor
Indivíduos dogmáticos e moderados não diferiram em sua precisão ou confiança em suas decisões. No entanto, os pesquisadores descobriram que os participantes mais dogmáticos eram mais propensos a recusar as informações adicionais úteis.
As diferenças entre participantes mais e menos dogmáticos eram especialmente grandes quando os participantes tinham pouca confiança em uma decisão. O autor sênior, dr. Steve Fleming (do Wellcome Center for Human Neuroimaging da UCL, Max Planck UCL Center for Computational Psychiatry & Aging Research e UCL Experimental Psychology), disse: “Trabalhos anteriores descobriram que há uma ligação estreita entre o quão confiantes nos sentimos e se ou não buscamos novas informações. No estudo atual, descobrimos que essa ligação era mais fraca em indivíduos mais dogmáticos”.
Em geral, a busca reduzida foi prejudicial, com pessoas mais dogmáticas sendo menos precisas em seus julgamentos finais.
O dr. Fleming acrescentou: “É impressionante podermos detectar ligações entre o dogmatismo sobre questões como política e a busca de informações em um simples jogo online. Isso nos diz que o dogmatismo do mundo real não é apenas uma característica de grupos ou opiniões específicas, mas pode estar associado a processos cognitivos mais fundamentais”.
Verificação adicional
O estudo destaca que simplesmente ter informações corretivas disponíveis não significa necessariamente que as pessoas irão consumi-las.
Schulz disse: “Isso é particularmente relevante hoje. Nunca fomos tão livres para decidir se temos evidências suficientes sobre algo ou se devemos buscar mais informações de uma fonte confiável antes de acreditar. Também é importante ressaltar que as diferenças entre pessoas mais e menos dogmáticas eram sutis, e não sabemos ainda como elas se manifestariam ao considerar informações do mundo real, como notícias sobre partidos políticos. No final, é uma história de advertência, se nos consideramos dogmáticos ou não: quando não tivermos certeza, poderá ser sensato verificar as informações novamente”.
Os pesquisadores estão agora tentando desvendar os algoritmos cognitivos subjacentes que levam as pessoas a buscar mais informações em situações de incerteza.