10/12/2020 - 12:12
Os neandertais sepultavam seus mortos ou isso é uma inovação específica do Homo sapiens? Embora houvesse indícios a favor da primeira hipótese, alguns cientistas permaneciam céticos. Pela primeira vez na Europa, no entanto, uma equipe multidisciplinar liderada por pesquisadores do CNRS e do Museu Nacional de História Natural (França) e da Universidade do País Basco (Espanha) demonstrou, usando uma variedade de critérios, que uma criança neandertal foi enterrada, provavelmente cerca de 41 mil anos atrás, no sítio La Ferrassie (Dordonha). Seu estudo foi publicado na revista “Scientific Reports”.
Dezenas de esqueletos de neandertais enterrados foram descobertos na Eurásia, levando alguns cientistas a deduzir que, como nós, os neandertais enterraram seus mortos. Outros especialistas, no entanto, refutavam essa ideia. Eles argumentavam que a maioria dos esqueletos mais bem preservados, encontrados no início do século 20, não foram escavados usando técnicas arqueológicas modernas.
- Doenças de nossos antepassados deflagraram extinção dos neandertais
- Neandertais se esforçaram para se adaptar às mudanças climáticas
A equipe internacional liderada pelos paleoantropólogos Antoine Balzeau (CNRS e Museu Nacional de História Natural) e Asier Gómez-Olivencia (Universidade do País Basco) analisou um esqueleto humano de um dos sítios neandertais mais famosos na França: o abrigo na rocha de La Ferrassie, na Dordonha (centro-oeste da França). Seis esqueletos de neandertais já haviam sido descobertos ali no início do século 20. Entre 1970 e 1973, descobriu-se um sétimo, pertencente a uma criança de cerca de 2 anos. Por quase meio século, as coleções associadas a esse espécime permaneceram inexploradas nos arquivos do Museu de Arqueologia Nacional.
Análise minuciosa
Recentemente, uma equipe multidisciplinar, montada pelos dois pesquisadores, reabriu os cadernos de escavação e revisou o material, revelando 47 novos ossos humanos não identificados durante a escavação e, sem dúvida, pertencentes ao mesmo esqueleto. Os cientistas também realizaram uma análise minuciosa dos ossos: estado de preservação, estudo de proteínas, genética, datação, etc. Eles voltaram a La Ferrassie na esperança de encontrar mais fragmentos do esqueleto. Embora nenhum novo osso tenha sido descoberto, os pesquisadores, usando os cadernos de seus predecessores, conseguiram reconstruir e interpretar a distribuição espacial dos restos humanos e os raros ossos de animais associados.
A equipe mostrou que o esqueleto havia sido enterrado em uma camada sedimentar que se inclinava para oeste (a cabeça, para leste, estava mais alta que a pelve), enquanto as demais camadas estratigráficas do local inclinavam-se para nordeste. Os ossos, relativamente não espalhados, permaneceram em sua posição anatômica. Sua preservação, melhor do que a do bisão e outros herbívoros encontrados no mesmo estrato, indica um rápido sepultamento após a morte. Além disso, o conteúdo dessa camada provou ser anterior ao sedimento circundante.
Por fim, um pequeno osso, identificado como humano pelas proteínas e como neandertal por seu DNA mitocondrial, foi datado diretamente com carbono-14. Com cerca de 41 mil anos, ele é um dos mais recentes vestígios de neandertal datados diretamente.
A nova informação prova que o corpo dessa criança neandertal foi propositadamente depositado em uma cova escavada em uma camada sedimentar há cerca de 41 mil anos. No entanto, novas descobertas serão necessárias para entender a cronologia e a extensão geográfica das práticas de sepultamento dos neandertais.