01/12/2007 - 0:00
Depois de ajudar a ciência a ler o genoma humano, Venter já acena com a possibilidade de o homem escrever códigos genéticos.
O cientista americano Craig Venter, do Venter Institute de San Diego (Califórnia), anunciou em outubro a criação do primeiro cromossomo sintético. “Este é um passo muito importante para a engenharia genética”, disse. “Logo, além de lermos os códigos genéticos, poderemos também escrevê-los. Isso nos dará possibilidades que não tínhamos antes.
Usando produtos químicos feitos em laboratório, a equipe de 20 cientistas formada por Venter e liderada por Hamilton Smith (ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 1978) “fabricou” um cromossomo com 381 genes e 580 mil bases nitrogenadas. No experimento, retirou-se um quinto do código genético da bactéria Mycoplasma genitalium. A seguir, o cromossomo alterado foi reconstruído sinteticamente. Os cientistas batizaram-no de Mycoplasma laboratorium. Esse material genético foi implantado em outra célula bacteriana, gerando uma nova espécie. Venter acredita que a mesma técnica funcionará com cromossomos formados artificialmente.
Por enquanto, ainda não foi criada uma forma de vida totalmente artificial. No caso do experimento, os organismos já eram vivos, apenas o DNA era sintético. Mas isso já é o primeiro passo.
A ÉTICA ENVOLVIDA nessas criações já provoca debates. Para Pat Mooney, diretor da organização de bioética canadense ETC, esse desenvolvimento da genética gerará discussões sobre os riscos envolvidos: “O que significaria criar novas formas de vida dentro de um tubo de ensaio?”, pergunta. Ele diz ainda que Venter criou um “chassi” do qual será possível construir qualquer organismo. “Isso seria uma contribuição para a humanidade, como as novas drogas, ou uma ameaça, como as armas biológicas.”
“Não tememos a responsabilidade de um assunto tão importante”, afirma Venter. “Estamos lidando com novos modos de melhorar a vida. Nesse assunto tão relevante, não tem como satisfazer a todos.”
Venter acredita no potencial da engenharia genética. A longo prazo, ele espera que ela possa abrir caminho para fontes alternativas de energia. Novas bactérias poderiam ajudar na limpeza do excesso de dióxido de carbono, principal gás causador do efeito estufa, ou na produção de combustíveis como o butano e o propano, feitos a partir do açúcar.