22/12/2020 - 13:20
A descoberta de dezenas de novos acampamentos do Exército romano na atual Espanha graças à tecnologia de sensoriamento remoto revelou mais sobre um dos conflitos mais infames do império. O estudo foi publicado na revista “Geosciences”.
A análise dos 66 acampamentos mostra que o Exército de Roma tinha uma presença maior na região do que se pensava durante a batalha de 200 anos para conquistar a Península Ibérica.
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Os acampamentos eram usados para treinamento e abrigo. A descoberta dessas instalações em diferentes tamanhos permitiu que especialistas mapeassem como os soldados atacavam grupos locais a partir de diferentes direções e aprendessem mais sobre a presença militar romana na margem norte da bacia do rio Douro. Ela é ocupada hoje pelas províncias de León, Palência e Burgos e a região autônoma da Cantábria.
Traços frágeis e sutis
Os especialistas analisaram fotografias aéreas e imagens de satélite, criaram modelos tridimensionais do terreno a partir de dados Lidar e usaram drones para criar mapas detalhados dos locais. Isso incluiu recursos do Instituto Geográfico Nacional Espanhol (IGN) e geoportais como o Google Earth ou o Bing Maps. A localização exata permitiu que o trabalho de campo ocorresse.
Essas ocupações temporárias geralmente deixam traços frágeis e sutis na superfície. As valas ou as muralhas de terra e pedra que protegem essas fortificações foram preenchidas e niveladas. A combinação de diferentes imagens de sensoriamento remoto e trabalho de campo mostra a forma do perímetro dos acampamentos militares romanos temporários. Eles geralmente lembravam um retângulo, como uma carta de jogo.
Esses novos locais estão localizados no sopé da Cordilheira Cantábrica, onde o conflito entre romanos e nativos se concentrou no final do século 1 a.C. Isso sugere que os soldados cruzaram as terras baixas e altas, usando os cumes das montanhas para ficar fora do local e dar a si próprios mais proteção.
O fato de haver tantos acampamentos militares na região mostra o imenso apoio logístico que permitiu aos soldados conquistarem a área. Os locais foram usados para ajudar no movimento para locais remotos e para auxiliar os soldados a permanecer na área durante os meses frios de inverno. Alguns dos campos podem ter abrigado soldados por semanas ou meses.
Recursos naturais
O objetivo da ocupação era expandir o império e poder explorar recursos naturais como estanho e ouro.
A pesquisa foi realizada pelos pesquisadores espanhóis Andrés Menéndez Blanco, Jesús García Sánchez, do Instituto de Arqueologia de Mérida, José Manuel Costa-García e Víctor Vicente García, da Universidade de Santiago de Compostela, David González-Álvarez, do Instituto de Ciências do Patrimônio, Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha, e pelo pesquisador português João Fonte, da Universidade de Exeter (Reino Unido).
O dr. Fonte disse: “Identificamos muitos locais porque usamos diferentes tipos de sensoriamento remoto. A varredura a laser aerotransportada deu bons resultados para alguns sítios em locais mais remotos porque mostrou muito bem as terraplenagens. A fotografia aérea funcionou melhor em áreas de planície para a detecção de marcas de corte”.
Ele prosseguiu: “Os restos são dos acampamentos temporários que o Exército romano montou ao se deslocar em território hostil ou ao realizar manobras em torno de suas bases permanentes. Eles revelam a intensa atividade romana na entrada da Cordilheira Cantábrica durante a última fase da conquista romana da Hispânia”.
Catalogação e documentação
Há uma importante concentração de 25 sítios ao longo dos vales do norte de Palência e Burgos, bem como do sul da Cantábria. Na província de León, até 41 sítios foram documentados em diferentes vales. Eles variam de pequenos fortes de algumas centenas de metros quadrados a grandes recintos fortificados de 15 hectares.
A maioria desses locais militares romanos estava localizada nas proximidades de importantes cidades romanas posteriores. Um exemplo é Sasamón. Essa aldeia em Burgos fica nas proximidades de onde o imperador Augusto estabeleceu o seu acampamento enquanto esteve na frente de batalha.
A pesquisa continuará para que os especialistas possam examinar as relações que os romanos estabeleceram com as comunidades locais, chamadas Vaccaei, Turmogi, Cantabri, Astures e Callaeci, segundo fontes gregas e latinas.
A equipe está desenvolvendo um projeto de catalogação e documentação de todos os acampamentos romanos da província de León por meio de drones, a fim de compreender melhor as suas estruturas ou a evolução do seu estado de conservação. Os trabalhos também continuam em Burgos e em Sasamón, incluindo um estudo do povoado Cerro de Castarreño e sua conquista no século 1 a.C.