15/01/2021 - 16:15
Cientistas da Universidade do Estado de Washington (EUA) identificaram pela primeira vez a presença de uma planta diferente do tabaco em recipientes de drogas dos antigos maias. Os pesquisadores detectaram tarragon mexicano, ou yauhtli (Tagetes lucida), em resíduos retirados de 14 vasos de cerâmica maia em miniatura. O estudo a esse respeito foi publicado na revista “Scientific Reports”.
Originariamente enterrados há mais de mil anos na península mexicana de Yucatán, os vasos também contêm vestígios químicos presentes em dois tipos de tabaco seco e curado, Nicotiana tabacum e N. rustica. A equipe de pesquisa, liderada pelo pós-doutorando em antropologia da Universidade do Estado de Washington (WSU) Mario Zimmermann, acredita que o tarragon mexicano foi misturado ao tabaco para tornar o fumo mais agradável.
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A descoberta do conteúdo dos recipientes mostra um quadro mais claro das práticas de uso de drogas dos antigos maias. A pesquisa também abre caminho para estudos futuros que investiguem outros tipos de plantas psicoativas e não psicoativas que foram fumadas, mastigadas ou inaladas entre os maias e outras sociedades pré-colombianas.
Métodos de análise inovadores
“Embora tenha sido estabelecido que o tabaco era comumente usado nas Américas antes e depois do contato com europeus, as evidências de outras plantas utilizadas para fins medicinais ou religiosos permaneceram amplamente inexploradas”, disse Zimmermann. “Os métodos de análise desenvolvidos em colaboração entre o Departamento de Antropologia e o Instituto de Química Biológica nos dão a capacidade de investigar o uso de drogas no mundo antigo como nunca antes.”
O trabalho de Zimmermann e seus colegas foi possibilitado pela pesquisa financiada pela National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, que levou a um novo método de análise baseado na metabolômica (estudo científico que visa identificar e quantificar o conjunto de metabólitos – o metaboloma – produzidos e/ou modificados por um organismo). Esse método pode detectar milhares de compostos vegetais ou metabólitos em resíduos coletados de recipientes, canos, tigelas e outros artefatos arqueológicos. Os compostos podem então ser usados para identificar quais plantas foram consumidas.
Anteriormente, a identificação de resíduos de plantas antigas dependia da detecção de um número limitado de biomarcadores, como nicotina, anabasina, cotinina e cafeína.
“O problema com isso é que, embora a presença de um biomarcador como a nicotina mostre que o tabaco foi fumado, não informa o que mais foi consumido ou armazenado no artefato”, disse David Gang, professor do Instituto de Química Biológica da WSU e coautor do estudo. “Nossa abordagem não apenas diz que você encontrou a planta na qual está interessado, mas também pode dizer o que mais estava sendo consumido.”
Vasos escassos
Zimmermann ajudou a desenterrar dois dos vasos cerimoniais que foram usados para a análise na primavera de 2012. Na época, ele trabalhava em uma escavação dirigida pelo Instituto Nacional de Antropologia e História do México (Inam) nos arredores de Mérida. No local, um empreiteiro havia descoberto evidências de um sítio arqueológico maia enquanto limpava terras para um novo conjunto habitacional.
Zimmermann e uma equipe de arqueólogos usaram equipamento GPS para dividir a área em uma grade semelhante a um tabuleiro de xadrez. Eles então abriram caminho através da selva densa em busca de pequenos montes e outros sinais reveladores de edifícios antigos onde os restos mortais de pessoas importantes como xamãs às vezes são encontrados.
“Quando você encontra algo realmente interessante, como um recipiente intacto, isso lhe dá uma sensação de alegria”, disse Zimmermann. “Normalmente, você tem sorte se encontrar uma conta de jade. Existem literalmente toneladas de fragmentos de cerâmica, mas os vasos completos são escassos e oferecem muito potencial de pesquisa interessante.”
Em busca de outros recipientes
Segundo Zimmermann, a equipe de pesquisa da WSU está atualmente em negociações com várias instituições no México para obter acesso a recipientes mais antigos da região que ela possa analisar em busca de resíduos vegetais. Outro projeto que eles estão desenvolvendo atualmente envolve examinar resíduos orgânicos preservados na placa dentária de restos humanos antigos.
“Estamos expandindo as fronteiras da ciência arqueológica para que possamos investigar melhor as relações de tempo profundas que as pessoas tiveram com uma ampla gama de plantas psicoativas, que foram (e continuam a ser) consumidas por humanos em todo o mundo”, disse Shannon Tushingham, professora de antropologia na WSU e coautora do estudo. “Existem muitas maneiras engenhosas pelas quais as pessoas administram, usam, manipulam e preparam plantas nativas e misturas de plantas. Os arqueólogos estão apenas começando a arranhar a superfície de como essas práticas eram antigas.”