13/06/2013 - 14:04
A ciência está mudando radicalmente a indústria de cosméticos em todo o mundo. “Mais do que a descoberta de ingredientes novos que integram as novas fórmulas, a grande diferença entre os cosméticos antigos e os atuais é o conhecimento dos mecanismos de ação, o modo como agem e produzem resultados”, explica Emiro Khury, assessor técnico da Associação Brasileira de Cosmetologia.
A década de 90 foi um divisor de águas na história dos cosméticos, marcada pelo lançamento dos produtos anti-idade no mercado. O processo de envelhecimento não pode ser detido, mas é possível estimular a conservação dos tecidos. Segundo Khury, há três linhas de atuação. A primeira é impedir que a pele seja exposta aos raios solares ultravioleta A e B. Para tanto, os principais componentes das fórmulas dos protetores solares são o dióxido de titânio e o óxido de zinco.
A segunda é controlar a presença de radicais livres, produzidos no organismo quando transformamos alimento em energia. O excesso deles destrói estruturas importantes da pele, provocando a formação de novas rugas e intensificando as existentes. Com a finalidade de combater o excesso de radicais livres na pele, os cremes passaram a incorporar substâncias antioxidantes, como vitaminas, polifenóis e o resveratrol.
A terceira linha de pesquisa investiga a aceleração do envelhecimento determinada pela falta de nutrientes essenciais no organismo, em quatro categorias: vitaminas, sais minerais, aminoácidos e ácido graxo essencial (o ácido linoleico). Baseados na reposição de nutrientes, surgiram os cosméticos nutracêuticos (integrando a nutrição com a farmacêutica), especialmente criados para ser ingeridos e produzir resultados de dentro para fora.
Embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não reconheça o termo nutricosmético, sendo apenas uma nomenclatura comercial, os produtos cosmecêuticos agregam suplementos de vitaminas e minerais que estimulam o adequado funcionamento do organismo. É o caso da Innéov, linha de nutracêuticos dos Laboratórios Innéov, formado pela convergência dos gigantes Nestlé e L’Oréal, que desenvolveu a linha Anti-Idade Celular. Segundo a empresa, os produtos ajudam a abrandar o envelhecimento celular do corpo e da pele graças à presença, na sua formulação, da hesperidina, polifenol ativo na casca das frutas cítricas, além de selênio e vitamina C.
Com função semelhante, o Imecap Hair, produzido no Brasil pelo laboratório pernambucano Vidfarma, promete fortalecer os cabelos e estimular o seu crescimento por meio da ingestão de componentes como cromo, selênio, vitaminas B12 (cobalamina) e B6 (cloridrato de piridoxina) e zinco.
Enquanto os cosméticos não alteram as condições fisiológicas da pele, atuando na epiderme (camada superficial), os cosmecêuticos são feitos para agir na derme (camada profunda da pele), por conterem substâncias como os ácidos alfa-hidroxiácidos, vitaminas A (retinol), C, E e outras. Já medicamentos, como o ácido retinoico, modificam a fisiologia da pele e devem ser aprovados pela Anvisa. “Embora os fabricantes falem em ação profunda na pele, nenhum cosmecêutico pode ultrapassar as últimas camadas, sob pena de provocar reações imunológicas no organismo”, esclarece Khury. “Todo produto com ação realmente profunda é classificado como medicamento e aí sua aplicação e seu uso devem ser feitos por médicos, esteticistas e profissionais habilitados.”
Mudança radical
Uma das maiores revoluções da cosmética foi deflagrada em 1995, quando a nanotecnologia entrou na fórmula dos produtos de beleza. A Lancôme, divisão de produtos de luxo da L’Oréal, lançou um creme facial com nanocápsulas de vitamina E para combater o envelhecimento, usando uma fórmula desenvolvida e patenteada pela Universidade de Paris.
Os nanocosméticos apresentam várias vantagens sobre os cosméticos convencionais, como melhor penetração nas camadas internas da pele e uma distribuição homogênea das substâncias. A nanotecnologia incorpora princípios ativos (vitamina C, antioxidantes e estimuladores de colágeno) em partículas muito pequenas, com o tamanho de nanômetros. Assim, eles ultrapassam as barreiras da pele, penetram profundamente e têm a sua ação garantida.
No Brasil, a empresa O Boticário é a pioneira na aplicação de nanotecnologia em cosméticos. Desenvolvida pelo Centro de Pesquisas da Idade O Boticário, a linha Active Dermato lançou no mercado o Nanoserum Elixir, com tripla nanotecnologia, que atua no combate ao envelhecimento nas diferentes camadas da pele.
Outra evolução foi o surgimento de ingredientes naturais, muitos provenientes das florestas da Amazônia, como a castanha-do-pará, o guaraná e a andiroba, utilizados em cremes, loções, óleos, xampus e perfumaria. O trabalho dos químicos passa a ser importante para obtenção dos extratos puros das plantas, de proteínas a baixo custo e criação de novos sistemas de transferência de ativos.
A proteína vegetal injetável já é usada na Europa para amenizar depressões e rugas do rosto, como alternativa ao ácido hialurônico. Por sua vez, os alfa-hidroxiácidos, mais conhecidos como ácidos de frutas, são ministrados pelos dermatologistas para afinar e firmar a pele do rosto. As formulações cosméticas agora incorporam ativos vegetais como o tea-tree (antisséptico), gerânio e olíbano (rejuvenescedores), alecrim (tônico adstringente), camomila e lavanda (calmantes), argila e aloe-vera (hidratante) e ácidos de flores. E, do mar, as algas, os oligoelementos e os sais minerais. A proteína bovina pode ser substituída pela proteína marinha das algas ou a proteína vegetal, proveniente da soja.
A Natura, maior fabricante de cosméticos do Brasil, utiliza somente ativos vegetais e sintéticos em suas formulações, a exemplo do politensor de soja, composto por uma associação de proteínas vegetais oriundas da soja e de um polissacarídeo derivado de fermentação. Outros exemplos são o Natura Chronos Bio-Redutor, produto com uma tripla combinação de ativos vegetais (Pfaffia sp, Trichilia sp e Ptycopetallum sp) que promove a quebra da gordura localizada, reduzindo a celulite; o óleo de café verde, para evitar que as células voltem a acumular gordura; o Elastinol+R, com propriedades rejuvenescedoras ao aumentar a produção de fibras de sustentação da pele; e o complexo antioxidante Natura (CAO), que auxilia o sistema de defesa natural do organismo a combater de forma mais eficiente os radicais livres formados a partir de agressores externos.
Já a fórmula dos produtos antissinais da linha Nivea Visage Q10 conta com ação da coenzima Q10, produzida naturalmente pelo organismo. A substância foi reproduzida pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Beiersdorf AG, na Alemanha, por meio do desenvolvimento de uma estrutura sintética idêntica, que também participa do processo de produção de colágeno e no combate aos radicais livres.
O que vem por aí
O futuro dos cosméticos – que já não usam animais para teste, mas sim voluntários humanos – aponta para uma segmentação crescente com produtos de beleza que deverão ter fórmulas cada vez mais individualizadas. Os cuidados com a estética e a higiene corporal vão mudar. Estão a caminho, por exemplo, escovas ultrassônicas que dispensam o uso de creme dental, cremes faciais e hidratantes liberados por fronhas e lençóis enquanto o usuário dorme tranquilamente e chips implantados sob a pele para trabalhar os músculos e eliminar rugas.
Mudar a cor dos cabelos ou tingir os brancos exigirá apenas a ingestão de uma pílula. Espelhos inteligentes indicarão os tons de maquiagem que combinam com a pele e o formato do rosto. O uso de células-tronco na reparação da pele e na prevenção do envelhecimento será ampliado e disseminado, assim como o de antioxidantes poderosos.
O casamento da cosmética com a farmacêutica resultará em comprimidos que afetam a função biológica da pele, como as pílulas antirrugas que ativarão as células. Nanotecnologia, computação e biologia sintética são áreas que, no futuro, estarão integradas à pesquisa e ao desenvolvimento dos cosméticos. A injeção de nanopartículas magnéticas no rosto poderá ajustar e mudar a aparência da face dos usuários. E nanocolorantes serão capazes de mudar o futuro da coloração, prevenindo que os cabelos fiquem grisalhos.
A designer neozelandesa Lulin Ding criou uma sombra de LED que ilumina – literalmente – o canto dos olhos. O Bare Conductive é a primeira tinta condutora de eletricidade considerada segura para a pele. Essa tecnologia abre caminho para hidratantes e maquiagens que aproveitam a condutividade natural do corpo para criar cosméticos eletrônicos.
A Universidade de Illinois (EUA) está desenvolvendo eletrônicos epidermais, um tipo de tatuagem temporária que adere à pele por 24 horas. Já o Swallowable Parfum, de Lucy McRae e Sheref Mansy, da Universidade Harvard, é um perfume digestivo em forma de cápsula que, depois de ingerido, libera moléculas da fragrância por meio da pele.