08/02/2021 - 8:56
Os genes que determinam a forma do perfil facial de uma pessoa foram descobertos por uma equipe internacional de pesquisadores. Eles identificaram 32 regiões genéticas que influenciam as características faciais, como nariz, lábios, mandíbula e formato da sobrancelha. Nove dessas regiões foram descobertas inteiramente novas, enquanto as outras validaram genes com evidências anteriores limitadas.
A análise de dados de mais de 6 mil voluntários em toda a América Latina foi publicada na revista “Science Advances”.
A equipe, liderada pela Universidade de Aix-Marseille (França), University College de Londres (UCL, no Reino Unido) e The Open University (Reino Unido), descobriu que um dos genes parece ter sido herdado dos denisovanos, um grupo extinto de humanos que viveram dezenas de milhares de anos atrás.
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A equipe descobriu que o gene TBX15, que contribui para o formato dos lábios, estava ligado a dados genéticos encontrados no povo denisovano, fornecendo uma pista da origem do gene. Os denisovanos viveram na Ásia Central. Outros estudos sugerem que eles cruzaram com humanos modernos, já que parte de seu DNA vive em ilhéus do Pacífico e povos indígenas das Américas.
Adaptação a ambientes
O coautor correspondente dr. Kaustubh Adhikari (UCL Genetics, Evolution & Environment e The Open University) disse: “Os genes de formato de rosto que encontramos podem ter sido o produto da evolução à medida que os humanos antigos evoluíram para se adaptar a seus ambientes. Possivelmente, a versão do gene que determina a forma dos lábios que estava presente nos denisovanos teria ajudado na distribuição da gordura corporal para torná-los mais adequados para os climas frios da Ásia Central. Ela então foi transmitida aos humanos modernos quando os dois grupos se encontraram e cruzaram”.
O coprimeiro autor dr. Pierre Faux (Universidade de Aix-Marseille) afirmou: “Até onde sabemos, esta é a primeira vez que uma versão de um gene herdado de humanos antigos está associada a uma característica facial em humanos modernos. Nesse caso, só foi possível porque fomos além da pesquisa eurocêntrica. Os europeus modernos não carregam nenhum DNA dos denisovanos, mas os nativos americanos, sim.”
A coautora Betty Bonfante (Universidade de Aix-Marseille) acrescentou: “É um dos poucos estudos que procuram genes que afetam o rosto em uma população não europeia, e o primeiro a focar apenas no perfil.”
Percepções biomédicas básicas
Os pesquisadores só conseguiram analisar dados genéticos complexos de milhares de pessoas ao mesmo tempo nas últimas duas décadas. Neste período, o mapeamento do genoma humano permitiu o uso de estudos de associação de todo o genoma para encontrar correlações entre características e genes. O presente estudo comparou as informações genéticas dos participantes do estudo com características do formato do rosto. Isso foi feito a partir da quantificação de 59 medidas (distâncias, ângulos e proporções entre pontos definidos) de fotos dos rostos dos participantes de perfil.
O coautor correspondente professor Andres Ruiz-Linares (UCL Genetics, Evolution & Environment, Universidade de Aix-Marseille e Universidade Fudan, da China) declarou: “Pesquisas como essa podem fornecer percepções biomédicas básicas e nos ajudar a entender como os humanos evoluíram”.
Os resultados dessa pesquisa podem ajudar a compreender os processos de desenvolvimento que determinam as características faciais. Isso ajudará os pesquisadores a estudar doenças genéticas que levam a anormalidades faciais.
Os resultados também contribuem para o entendimento da evolução da aparência facial em humanos e outras espécies. Um dos genes recém-descobertos encontrados nesse estudo é o VPS13B, que influencia o formato do nariz. Os pesquisadores também descobriram que esse gene afeta a estrutura do nariz em camundongos. Isso indica uma base genética amplamente compartilhada entre espécies de mamíferos com relações distantes.