25/02/2021 - 10:08
O especialista em evolução Charles Darwin e outros reconheceram uma estreita relação evolutiva entre humanos, chimpanzés e gorilas com base em suas anatomias comuns, levantando algumas grandes questões: como os humanos se relacionam com outros primatas e exatamente como os primeiros humanos se moviam? A pesquisa de um professor da Texas A&M University (EUA) e outros cientistas pode fornecer algumas respostas. Um artigo sobre esse trabalho foi publicado na revista “Science Advances”.
Thomas Cody Prang, professor assistente de antropologia da Texas A&M University, e seus colegas examinaram os restos mortais do Ardipithecus ramidus (“Ardi”), datado de 4,4 milhões de anos e encontrado na Etiópia. Uma das mãos de Ardi estava excepcionalmente bem preservada.
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Os pesquisadores avaliaram a forma da mão de Ardi e de centenas de outros espécimes de mão representando humanos, primatas e macacos recentes (medidos a partir de ossos em coleções de museus em todo o mundo). O objetivo era fazer comparações sobre o tipo de comportamento locomotor usado pelos primeiros hominíneos (ancestrais humanos fósseis).
Os resultados fornecem pistas sobre como os primeiros humanos começaram a andar eretos e a fazer movimentos semelhantes aos que todos os humanos realizam hoje.
Reflexo da adaptação
“A forma óssea reflete a adaptação a hábitos ou estilos de vida específicos – por exemplo, o movimento de primatas – e ao traçar conexões entre a forma óssea e o comportamento entre as formas vivas, podemos fazer inferências sobre o comportamento de espécies extintas, como Ardi, que não podemos observar diretamente”, disse Prang.
“Além disso”, ele acrescentou, “encontramos evidências de um grande ‘salto’ evolutivo entre o tipo de mão representada por Ardi e todas as mãos hominíneas posteriores, incluindo a da espécie de Lucy (um famoso esqueleto bem preservado de 3,2 milhões de anos encontrado na mesma área na década de 1970). Esse ‘salto evolutivo’ acontece em um momento crítico em que os hominídeos estão desenvolvendo adaptações para uma forma mais humana de andar ereto e surgem as primeiras evidências da fabricação e uso de ferramentas de pedra hominíneas, como marcas de corte em fósseis de animais, são descobertas.”
Segundo Prang, o fato de Ardi representar uma fase anterior da história evolutiva humana é importante porque potencialmente ilumina o tipo de ancestral do qual os humanos e os chimpanzés evoluíram.
Evolução correlata
“Nosso estudo apoia uma ideia clássica proposta pela primeira vez por Charles Darwin em 1871, quando ele não tinha fósseis ou conhecimento de genética, de que o uso das mãos e dos membros superiores para manipulação apareceu nos primeiros parentes humanos em conexão com o andar ereto”, disse ele . “A evolução das mãos e dos pés humanos provavelmente aconteceu de uma forma correlata.”
Como Ardi é uma espécie muito antiga, pode reter características esqueléticas que estavam presentes no último ancestral comum de humanos e chimpanzés. Se isso for verdade, pode ajudar os pesquisadores a colocar a origem da linhagem humana – além do andar ereto – sob uma luz mais clara.
“Isso potencialmente nos traz um passo mais perto de uma explicação de como e por que os humanos desenvolveram nossa forma de andar ereto”, disse Prang.
Ele acrescentou que a grande mudança na anatomia da mão entre Ardi e todos os hominíneos posteriores ocorre em uma época, aproximadamente entre 4,4 e 3,3 milhões de anos atrás, que coincide com a evidência mais antiga da perda de um dedão do pé que agarrava na evolução humana. Isso também coincide com as primeiras ferramentas de pedra conhecidas e fósseis de animais marcados com talhos.
Para Prang, a novidade parece marcar uma grande mudança no estilo de vida e comportamento dos ancestrais humanos dentro desse período. “Propomos que ela envolve a evolução do andar ereto mais avançado, que permitiu que as mãos humanas fossem modificadas pelo processo evolutivo para manipulação manual aprimorada, possivelmente envolvendo ferramentas de pedra”, afirmou.