09/05/2014 - 15:25
Nos últimos quatro anos,1.200 trabalhadores morreram nas obras da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Na Europa, fala-se em boicote. Se nada mudar, estima-se que a tragédia trabalhista alcance 4 mil mortos.
Faltam oito anos, mas a Copa do Catar já é uma tragédia, segundo a imprensa e organizações europeias. O último relatório da International Trade Union Confederation (ITUC), organização sindical global, aponta que 1.200 operários morreram em obras de infraestrutura no país árabe de 2010 até março de 2013, por doenças e acidentes. A maioria são imigrantes do Nepal, da Índia e do Paquistão vivendo em condições desumanas.
A ITUC reforçou o alerta de que se nenhuma medida for tomada para melhorar a situação dos trabalhadores, o índice de fatalidades pode chegar a quatro mil antes do início do evento. Ao que tudo indica, apesar da pressão internacional, o governo não tomou nenhuma medida. Na Europa, já há campanhas pedindo o boicote à Copa no Catar.
Numa pesquisa com 210 operários imigrantes da construção civil, entre 2012 e 2013, a Anistia Internacional constatou uma série de irregularidades: funcionários trabalhando 12 horas por dia, sete dias por semana, inclusive no verão escaldante (que chega a 50º C), salários atrasados, falta de equipamentos de segurança (como capacetes) e péssimos alojamentos. Rico em petróleo, o Catar tem 1,7 milhões de habitantes e 1,3 milhões de trabalhadores estrangeiros.
Durante o estudo, os pesquisadores testemunharam o gerente de uma construtora se referindo aos operários como “animais”. Vários trabalhadores alegaram ser “tratados como gado”. Muitos foram encontrados em moradias precárias, expostos à água de esgoto, sem saneamento, sem ventilação e em quartos superlotados – fatores indutores de doenças respiratórias, cardíacas e até de suicídios.
Trabalho escravo
A labuta dos imigrantes foi considerada “análoga ao trabalho escravo” por organizações de direitos humanos. No modelo de contratação conhecido como kafala, o migrante precisa ter um patrocinadorno país onde vai trabalhar. Normalmente, quem banca a imigração é o próprio empregador. Dessa forma, o operário já chega ao país com uma dívida contraída, o que muitas vezes vira chantagem.
Desde o anúncio da primeira Copa no Oriente Médio houve controvérsias. Denúncias de corrupção na eleição do paíssede, passagem do torneio para o inverno para evitar ao calor e a morte de milhares de trabalhadores já conspiram para tornar a Copa do Catar um fi asco antes da bola rolar em campo.