O plástico é um problemão para o meio ambiente. Fabricado sobretudo a partir dos poluentes petróleo e gás natural, o material cada vez mais usado pela nossa civilização demora séculos para se decompor na natureza, acumulando-se como lixo nos mais variados cantos. Mas não há dúvida de que possui qualidades incontestáveis: é barato e versátil, pode ser adaptado a um sem-número de finalidades, é ótimo isolante e tem grande resistência mecânica e térmica, além de ser reutilizável e reciclável. Na ponta do lápis, seu uso pode muitas vezes representar vantagem ambiental em relação a outras opções disponíveis.

Os opositores radicais propõem abdicar do plástico em tudo o que for possível, como rejeitar as famigeradas sacolas de supermercado e garrafas PET. Na outra ponta, há quem só veja aspectos positivos do produto e feche os olhos para o resto. Entre os extremos estão os que sugerem o uso mais consciente do plástico. “O problema não está no fato de o plástico não se degradar, está no desperdício”, afirma José Carlos Pinto, professor do Programa de Engenharia Química da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Precisamos criar meios para aumentar o ciclo de vida desse material, reaproveitar, reutilizar e aí reaproveitar mais.”

Paralelamente a essa argumentação, estão surgindo formas de produzir plástico e moldá-lo que reduzem sua pegada de carbono (a medida do seu impacto em termos de emissões de gasesestufa, como o dióxido de carbono), tornando-o menos agressivo ao meio ambiente.

Parceria recente 

O convívio da humanidade com o plástico é recente, mas vem se tornando cada vez mais intenso. Começou em 1909, quando o químico belga Leo Baekeland descobriu as resinas formol-fenólicas,  popularizadas a partir de 1920 com o nome baquelite. Na Segunda Grande Guerra, o material ganhou importância com a fabricação em grande escala de duas de suas variantes, o PVC e o náilon. Mas foi a partir dos anos 1950 que a produção decolou, escorada na crescente exploração de petróleo e nos preços baixos que ele proporcionava.

Em 2012, cerca de 288 milhões de toneladas de plástico foram fabricados no mundo, 2,9% a mais que no ano anterior. O aumento atende sobretudo ao crescente mercado asiático (45% do total, sendo
24% unicamente para a China), enquanto a Europa e os Estados Unidos, cada qual com 20% da produção, têm crescido menos que a média. No mesmo ano, o Brasil produziu cerca de 6,7 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).

Essa superprodução põe em evidência a virtude do plástico que representa um problema ambiental: sua estrutura química é muito estável, o que pode exigir 300 ou até 450 anos para que se degrade. Não
à toa, inúmeros resíduos plásticos estão espalhados pelo planeta, inclusive nos mares. Já se sabia da existência de grandes manchas com plástico nos oceanos Pacífi co e Atlântico, mas as buscas pelo avião da Malaysia Airlines desaparecido em março levaram à descoberta de outra, no Oceano Índico, a oeste da Austrália. Calcula-se que, em média, hoje existam 17.700 fragmentos de plástico por quilômetro quadrado nos mares mundiais. Essa sujeira é um risco sério à vida animal: a cada ano, pelo menos um milhão de aves marinhas e 100 mil tubarões, tartarugas, golfinhos e baleias morrem pela ingestão do material. 

Para alguns, o plástico é uma praga ambiental. Mas é preciso examinar a questão em profundidade. No quadro geral da poluição terrestre, verifi ca-se que, em diversas circunstâncias, ele é uma escolha preferível. Nas indústrias automobilística, aeroespacial e náutica, por exemplo, ele substitui vários materiais (como ferro e alumínio), proporcionando ganho de peso e efi ciência semelhante à do original, o que implica menor consumo de combustível e, portanto, menos poluição. “Hoje, os aviões já têm mais de 50% de plástico”, afi rma Gilmar Lima, diretor-geral da MVC, empresa de plásticos de engenharia sediada em Curitiba (PR). “A própria indústria da construção civil está usando plástico, o que lhe permite reduzir o desperdício.” 

As inovações na área podem mudar a rejeição crônica dos ambientalistas ao material. “Hoje em dia, a tecnologia do plástico caminha na mesma velocidade da tecnologia da informação, e as pesquisas têm feito surgir coisas fantásticas”, observa Lima.

Ecoeficiência 

Entre os investimentos em ecoefi ciência, um dos mais profícuos vai no sentido de usar menos material, como no caso das embalagens das marcas Nivea e Nestlé. A água mineral americana Poland Spring, que usa garrafas Eco-Shape, conseguiu reduzir o volume de material entre 30% e 40%. O recorde de economia deverá ser quebrado este ano com o sistema de moldagem desenvolvido pela Imfl ux, subsidiária da Procter & Gamble. A empresa faz sigilo sobre o projeto, mas o mercado especula sobre uma redução de 75% na espessura das embalagens. 

Outro caminho de pesquisa é o uso de fi bras naturais na elaboração do material, tais como resíduos vegetais ou animais. Dois exemplos nacionais bem-sucedidos são o polietileno verde fabricado pela petroquímica Braskem, originário da cana-de-açúcar, e o “superplástico” desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) pela equipe do professor Alcides Lopes Leão, a partir de resíduos agroindustriais como abacaxi, casca de coco e sisal. 

O uso industrial desses plásticos ainda é limitado em função do seu alto preço e da produção pequena. “Hoje produzimos quilos, mas a demanda será de toneladas”, diz Leão. Segundo Gilmar Lima, porém, não levará muito tempo para esses novos produtos conquistarem seu lugar ao sol. “Em até cinco anos haverá aplicação para grandes volumes”, avalia.

Degradação fácil

Também está avançando a pesquisa de plásticos capazes de se decompor mais facilmente. No Brasil já são desenvolvidos plásticos biodegradáveis a partir de resinas originárias de vegetais como cana-de-açúcar, milho e batata, que se dissolvem em contato com a água ou a terra. Pesquisadores da Escola Politécnica da USP participam de um projeto, em parceria com a empresa Biopol e a Universidade Ryukyus (Japão), para desenvolver um plástico oriundo do caldo, do bagaço da cana e do açúcar decomponível por uma variedade da bactéria B. coagulans. “É um tipo de poliéster, que pode ser usado para produzir fi lmes para embalagens, peças de computador, utensílios, fi os e fi bras para tecidos ou ainda materiais biodegradáveis e biocompatíveis para aplicações em medicina, por exemplo”, diz Reinaldo Giudici, professor da Poli que integra o projeto.

O plástico é por defi nição reciclável, mas até nesse setor surgem novidades. Em maio, a revista Science divulgou que pesquisadores da IBM nos EUA criaram acidentalmente uma variedade que pode ser dissolvida em ácido, um processo após o qual restam seus componentes originais, em condições de serem reusados. Segundo James Hendrick, líder dos pesquisadores, uma peça feita com esse plástico poderá ser facilmente consertada ou reciclada. “Isso nos permitirá economizar muito dinheiro e diminuir o desperdício”, emenda. 

Outra recentíssima inovação, também apresentada pela Science em maio, é um plástico que se autorregenera, desenvolvido na Universidade de Illinois (EUA). Inspirado no sistema circulatório dos animais, o material preenche sozinho rachaduras e buracos, crescendo para corrigir essas lacunas. “Os líquidos que usamos formam um gel rapidamente depois de liberados, para evitar que caiam para fora da área danifi cada”, explica Scott White, professor de engenharia aeroespacial e principal autor do estudo. A novidade promete revolucionar indústrias como a aeroespacial e a automobilística. 

“Não vejo o plástico como problema; vejo-o como solução”, resume Gilmar Lima. “Reprocessá- lo é o problema, assim como em relação a qualquer outro tipo de material. Precisamos de um processo de educação das pessoas para que possamos fazer o tratamento adequado desses materiais. Se isso for feito, não háverá problema algum com eles.”