22/03/2021 - 10:28
Exposição em Berlim traz fotos de Robert Conrad, um fotógrafo da Alemanha Oriental que documentou o lento desaparecimento da estrutura de concreto que simbolizou a Guerra Fria.Por que Robert Conrad tirou tantas fotos da queda do Muro de Berlim? Da estrutura de concreto que foi quase completamente demolida entre 1989 e 1990, ele conseguiu capturar cerca de 5 mil imagens em apenas alguns meses. O muro foi “um tópico formativo e sombrio por toda a minha vida”, explica o fotógrafo nascido na Alemanha Oriental em 1962.
Uma seleção de suas fotos históricas está em exibição até o dia 18 de abril como parte de uma exposição ao ar livre batizada de O desaparecimento do Muro. A mostra pode ser conferida na praça Steinplatz, em Berlim, local onde fica a Universidade Técnica, onde Conrad estudou história da arte e arquitetura.
Sob a ditadura da Alemanha Oriental, Conrad não tinha autorização para cursar uma universidade por razões políticas. Mas isso não o impediu de, secretamente, tirar fotos da imensa barreira que dividia a cidade. Quando o Muro de Berlim inesperadamente caiu, em 9 de novembro de 1989, ele estava, portanto, “um tanto quanto treinado para tal projeto fotográfico”, lembra.
Talentoso e autodidata, o fotógrafo diletante capturou imagens de casas decadentes e documentou a demolição de ruas inteiras na Alemanha Oriental com sua câmera. Greifswald, sua cidade natal, no Mar Báltico, também foi afetada, assim como as cidades do lado ocidental.
Conrad se mudou para Berlim Oriental em 1986, três anos antes da queda do Muro. Ele ansiava por uma vida na Alemanha Ocidental e chegou a se candidatar para deixar o país. Seu pedido foi aprovado para fevereiro de 1990. Àquela altura, porém, o Muro já estava aberto havia três meses.
Escondidas em arquivos
As fotos de Conrad documentam como o Muro de Berlim foi desaparecendo aos poucos da paisagem urbana: um buraco no muro, uma torre de vigia tombada ou uma estação de metrô por décadas abandonada, onde nenhum trem parava. Ele também fotografou outras áreas ao longo dos 150 quilômetros de fortificações de fronteira. “Chegou um momento em que havia milhares de fotos”, diz ele sobre o material que levou décadas para ser catalogado.
Foi só depois da virada do milênio que sua coleção particular foi saindo lentamente do esquecimento, em parte graças ao Memorial do Muro de Berlim e ao Escritório de Registros da Stasi, que reconheceu o valor das fotografias e as comprou de Robert Conrad.
O cronista do Muro é particularmente grato por projetos como esse da exposição ao ar livre, tornada possível graças a uma cooperação entre a Sociedade Robert Havemann e o bairro de Charlottenburg-Wilmersdorf, em Berlim. Com entrada gratuita, a mostra é particularmente apreciada durante este período de restrições aos museus.
'Estilo frio e sombrio'
A principal preocupação de Conrad sempre foi “mostrar essa monstruosidade em uma série infinita de fotos”. Como historiador de arquitetura, ele sempre se interessou pela história da estrutura, referida pelo regime da Alemanha Oriental como “muro de proteção antifascista”. Na realidade, porém, seu único propósito era literalmente bloquear o caminho para a liberdade dos alemães orientais.
E, no entanto, como fotógrafo, Conrad nunca hesitou em “capturar as qualidades visuais da arquitetura com uma certa ambição estética” ao olhar para o Muro. Conrad não esconde um certo fascínio por esse colosso arquitetônico da Guerra Fria. Apesar de desaprová-lo pessoalmente, de um ponto de vista profissional ele se sentia atraído por esse “estilo sombrio e frio”.
Mesmo assim, o fotógrafo descreve a estrutura que separou os alemães orientais e ocidentais por 28 anos como “arquitetura em sua forma mais violenta”.
Quando o Muro caiu, Conrad fotografou os desdobramentos desse acontecimento histórico por motivações meramente particulares. Hoje, as fotos estão disponíveis para todos. O Desaparecimento do Muro, com textos em alemão e inglês, foi concebido como uma exposição itinerante que deverá sair em turnê a partir de Berlim.