05/11/2014 - 12:39
Já se sabia que praticar a gratidão amplia as emoções positivas e o otimismo de jovens estudantes, reduz as emoções negativas e aumenta as sensações de conexão e de satisfação com a escola e a vida, fortalecendo a saúde. Mas as pesquisas de psicologia que chegaram a essas conclusões, nos Estados Unidos, envolviam, até agora, apenas alunos de classe média alta no ensino médio ou no superior. Ficava então a dúvida: resultados semelhantes se repetem em crianças mais jovens e de outras classes sociais?
Dois estudos recentes sugerem que a resposta à pergunta é positiva. Um deles, feito na Hofstra University, de Nova York, por uma equipe liderada pelo psicólogo Jeffrey Froh, aplicou um novo currículo de conteúdos sobre gratidão em crianças com idade entre 8 e 11 anos do ensino fundamental, as mais novas a serem testados até hoje na área.
De início, os alunos aprenderam três tipos de lição que despertam a gratidão: alguém faz, de propósito, algo para nos benefi ciar; proporcionar o benefício tem um custo considerável para essa pessoa; o benefício é percebido como importante. Em seguida, os alunos tiveram aulas diárias de meia hora sobre as práticas de “gratidão” durante uma semana. No fi nal, apresentaram evolução sensível na percepção e no estado de espírito relacionado ao sentimento, comprovando a eficácia das aulas.
Outra avaliação, mais espontânea, surgiu por meio da prática de convidar alunos a escreverem notas de agradecimento à associação de pais e mestres após uma apresentação na escola. Aqueles que tiveram aulas de gratidão antes escreveram 80% mais notas do que os demais.
A segunda parte do estudo aplicou o currículo incluindo o ensino de gratidão em uma aula semanal, durante cinco semanas. Os alunos foram testados após o programa terminar e várias vezes a seguir, até cinco meses após a conclusão do curso. Comparados com crianças que não assistiram às aulas, os frequentadores do curso apresentaram um aumento substancial de manifestações de agradecimento, gratidão e emoções positivas no período analisado. O acréscimo, aliás, se mostrou mais acentuado no final, um indício de que os ensinamentos tiveram efeitos duradouros. Froh e sua equipe concluíram que até crianças na primeira fase do ensino fundamental podem aprender a enxergar o mundo e a vida pelo fi ltro da gratidão, um aprendizado que as torna mais sensíveis e felizes.
Colchão protetor
Outro estudo, conduzido pela equipe da psicóloga Mindy Ma, da Nova Southeastern University, na Flórida, concentrouse nos efeitos da gratidão em adolescentes afro-americanos (com idade entre 12 e 14 anos), em escolas urbanas de baixa renda e com desempenho ruim.
Os pesquisadores entrevistaram cerca de 400 alunos de três escolas diferentes para descobrir se os jovens realmente sentiam afeto em resposta às ações que outros fizeram para benefi ciá-los (a chamada “gratidão de afeto moral”) ou se tendiam a se concentrar na apreciação dos aspectos positivos que percebiam na vida e no mundo (a “gratidão de orientação de vida”).
Os resultados mostraram que os mais propensos a se sentir gratos em relação a outras pessoas apresentaram índices maiores no interesse acadêmico, nas notas e no envolvimento extracurricular. Já os que apreciavam os aspectos positivos da vida e do mundo obtiveram, no geral, menor tendência a comportamentos de risco, como consumo de drogas e prática de sexo não seguro.
As relações familiares positivas apareceram associadas aos dois tipos de gratidão. Para os pesquisadores, a gratidão de afeto Moral aparentemente melhora as condições positivas dos alunos, enquanto a gratidão de orientação de vida parece dar-lhes um “colchão protetor” contra tentações comuns para jovens em situação social de risco, suscetíveis à promiscuidade sexual e ao uso de drogas.
Mindy Ma alerta que o estudo não permite determinar se a gratidão foi, efetivamente, a causa dos bons resultados ou vice-versa. Mas assinala que há indícios sólidos de que o sentimento desempenha um papel relevante na proteção de adolescentes em situação de risco social, enriquecendo a atitude mental e lapidando os recursos pessoais e as habilidades para lidar com problemas.