O mais abrangente estudo sobre os efeitos do aquecimento global na biodiversidade terrestre revelou, como se poderia imaginar, uma perspectiva sombria. Se os governos do mundo nada fizerem de produtivo em relação ao problema, uma em cada seis espécies existentes no planeta, ou cerca de 16% do total, deixará de existir no fim do século, afirma Mark Urban, professor de ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Connecticut (Estados Unidos). Esse seria o resultado de uma elevação de 4,3°C nas temperaturas médias da Terra até 2100, pelos cálculos do biólogo.

O trabalho de Urban, publicado no fim de abril na revista Science, é uma criteriosa meta-análise de 131 estudos realizados sobre o tema desde a década de 1990. O pesquisador ressalva que os números obtidos podem mudar para pior, já que a biodiversidade de alguns continentes, como a Ásia, foi pouco estudada – até hoje, apenas quatro trabalhos foram realizados nesse sentido. “O número de extinções pode ser duas ou três vezes maior”, alerta o biólogo evolutivo John J. Wiens, da Universidade do Arizona (EUA).


Pinguim-imperador, outra das espécies na lista dos ameaçados.

Mesmo assim, o quadro é suficientemente alarmante pelo impacto que essas extinções causariam nos ecossistemas e nas pessoas. Ele vem como um reforço negativo à destruição provocada nos últimos 40 anos por fatores como sobrepesca, desmatamento e poluição, que extinguiram 50% dos animais do planeta. “Se você olha pela janela e conta seis espécies e pensa que uma daquelas potencialmente desaparecerá, isso é bem sério”, afirma Urban. “Essas perdas afetariam nossa economia, nossas culturas, nossa segurança alimentar, nossa saúde.”

Uma alternativa de adaptação para as espécies é migrar para regiões vizinhas mais adequadas às suas necessidades, e isso tem ocorrido bastante. Um estudo divulgado em 2003 por dois pesquisadores americanos, Camille Parmesan, da Universidade do Texas, e Gary Yohe, da Wesleyan University, abordando mais de 1.700 espécies de plantas e animais, revelou que, em média, seu limite de habitat avançou seis quilômetros por década rumo aos polos.


Sapo-dourado, mais uma das espécies na lista dos ameaçados.

O pika, um pequeno mamífero semelhante ao hamster que vive nas montanhas do oeste dos EUA, está se mudando para altitudes cada vez mais elevadas. Mas essas opções inexistem, por exemplo, para o urso-polar, cada vez mais ameaçado pelo derretimento do gelo marinho, o que o força a nadar distâncias cada vez maiores para buscar alimento. O mesmo problema afeta ainda as focas-aneladas, que descansam sob o gelo marinho e acasalam-se em cima dele.

O estudo de Urban menciona a América do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia como as áreas mais vulneráveis, por contarem com um alto número de espécies endêmicas, não encontradas em outros lugares do planeta. Como há espécies endêmicas em áreas relativamente pequenas dos dois países da Oceania, a migração não será uma alternativa para esses animais e vegetais.

Um caso emblemático nesse sentido é o Hemibelideus lemuroides, o gambá-branco-lemuroide do nordeste da Austrália, que, submetido a temperaturas mais altas do que as habituais, pode morrer em algumas horas.

Como a maioria dessas extinções é um processo demorado, é bem possível que trabalhos de preservação de determinadas espécies mais ameaçadas permitam a elas adaptar-se a um mundo mais quente. Urban não joga a toalha: “Ainda temos tempo. Extinções podem levar um longo tempo. Há processos que poderiam ser importantes na mediação desses efeitos, como a evolução, mas precisamos começar muito rapidamente para entender esses riscos de uma forma muito mais sofisticada”.

Ele acredita que os governos vão estabelecer metas agressivas de redução de emissões de carbono e, assim, evitar um aquecimento tão acentuado. “Estou falando sobre predições de riscos de extinção”, observa. “Isso não significa que esses riscos tenham de ser concretizados.”


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