06/07/2015 - 16:36
Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) enfim se rendeu às evidências e admitiu, num estudo divulgado em abril, que o processo de fratura hidráulica, mais conhecido como fracking, pode ter relação com a ocorrência de terremotos no país nos últimos sete anos. Elemento fundamental na extração de gás e óleo do xisto (veja matéria sobre o tema na edição 491 de PLANETA, de setembro de 2013), o fracking está por trás do aumento da produção norte-americana de hidrocarbonetos, que derrubou os preços internacionais do petróleo nos últimos tempos.
Segundo o USGS, 14 áreas, distribuídas por oito estados – Alabama, Arkansas, Colorado, Kansas, Novo México, Ohio, Oklahoma e Texas – sentiram os abalos causados por essa atividade humana. Para os seus pesquisadores, o aumento na atividade sísmica foi causado sobretudo não pelo fracking em si (no qual grandes volumes de água, areia e substâncias químicas são despejados sob alta pressão em formações de xisto a fim de liberar o gás ou o óleo nelas contido), mas por uma atividade relacionada a ele, a injeção de água residual originária do fracking a grandes profundidades, a qual pode ativar falhas geológicas adormecidas. O USGS admite, porém, que alguns casos derivam diretamente do fracking.
“O perigo é grande nessas áreas”, declarou Mark Petersen, chefe do projeto de mapeamento do USGS. Chamam atenção as ocorrências registradas em Oklahoma, na região central do país. De acordo com Petersen, Oklahoma contabilizou mais terremotos de magnitude 3 do que a Califórnia, o mais sísmico dos 48 estados contíguos dos EUA. Até 2011, Oklahoma não era prioridade para os sismólogos, mas naquele ano uma série de abalos, o maior deles de 5,6 graus, mudou o quadro. Em abril, dias antes da apresentação do trabalho do USGS, o Serviço Geológico de Oklahoma atribuiu à injeção de água residual a maioria dos sismos mais recentes.
Falhas despertadas
O problema principal causado pelo processo do fracking, em termos geológicos, é mexer com detalhes desconhecidos do subsolo. A injeção de líquido em alta pressão nas formações rochosas tem mostrado capacidade de “acordar” falhas adormecidas há milhões de anos, adverte o geofísico William Ellsworth, do USGS. “São falhas muito antigas, não sabemos sempre onde elas estão.”
Desde que o Energy Policy Act (lei sobre política energética que estimula a produção de energia a partir de várias fontes) foi aprovado pelo presidente George W. Bush, em 2005, o fracking se expandiu formidavelmente – e, pouco depois, começaram os registros de terremotos em regiões de perfuração. Mas as autoridades relutavam em associar os abalos às perfurações.
Em 2012, Katie Kenaran, professora assistente de geofísica da Universidade de Oklahoma, apresentou um estudo que evidenciou essa relação. Mesmo assim, David Hayes, secretário-adjunto do Departamento do Interior dos EUA (ao qual o USGS está subordinado), divulgou no mesmo ano uma carta pública na qual afirma que, de acordo com uma pesquisa do USGS, não havia exemplos conclusivos de que a injeção de água residual deflagra terremotos grandes, mesmo se ela ocorrer próxima de uma falha conhecida.
É verdade que perfurar um poço não equivale a produzir um terremoto. Um estudo de Katie Kenaran revelou que, dos milhares de poços de injeção de água residual existentes na região central dos EUA, apenas quatro estão associados a 20% da atividade sísmica por lá entre os anos de 2008 e 2009. De qualquer maneira, abalos mais frequentes ou intensos em áreas nas quais isso não costumava acontecer exigem uma atenção maior.
Resultado de um workshop organizado em novembro de 2014 pelo USGS e pelo Serviço Geológico de Oklahoma, que reuniu cerca de 150 representantes de universidades, governo e indústria, o relatório divulgado em abril é, portanto, um avanço em relação à posição anterior. Mesmo assim, o USGS ainda mostra uma estranha cautela a respeito do problema, ao recomendar mais estudos, em vez de propor medidas regulatórias. Pelo visto, o fracking ainda terá um bom tempo para proporcionar novas informações aos mapas sismológicos dos EUA.