12/04/2021 - 10:15
Uma equipe de arqueólogos descobriu no noroeste da Arábia Saudita as primeiras evidências da domesticação de cães pelos antigos habitantes da região. A descoberta veio de um dos projetos de pesquisas e escavações arqueológicas em grande escala da região encomendadas pela Royal Commission for AlUla (RCU). Os resultados do estudo foram publicados na revista “Journal of Field Archaeology”.
Os pesquisadores encontraram os ossos do cachorro em um cemitério que é uma das primeiras tumbas monumentais identificadas na Península Arábica, mais ou menos contemporâneo de tumbas já datadas mais ao norte do Levante.
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As evidências mostram que o uso mais antigo da tumba foi por volta de 4300 a.C. Ela recebeu sepultamentos por pelo menos 600 anos durante o período Neolítico-Calcolítico. Isso é uma indicação de que os habitantes podem ter uma memória compartilhada de pessoas, lugares e a conexão entre eles.
Mudança de perspectiva
“O que estamos descobrindo vai revolucionar a forma como vemos períodos como o Neolítico no Oriente Médio. Ter esse tipo de memória, que as pessoas podem saber há centenas de anos onde seus parentes foram enterrados – isso é inédito nesse período nesta região”, disse Melissa Kennedy, diretora assistente do projeto Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU) – projeto AlUla.
“AlUla está em um ponto em que começaremos a perceber qual foi sua importância para o desenvolvimento da humanidade em todo o Oriente Médio”, disse Hugh Thomas, diretor da AAKSAU.
Essa é a primeira evidência de um cão domesticado na Península Arábica por uma margem de cerca de 1.000 anos.
O grupo do projeto, com membros sauditas e internacionais, concentrou seus esforços em dois cemitérios acima do solo datados do 5º e 4º milênios a.C. Eles estão localizados a 130 quilômetros de distância, um em terras altas vulcânicas e outro em terras áridas. Os locais ficavam acima do solo, o que é único naquele período da história da Arábia, e estavam posicionados para obter visibilidade máxima.
Distinção entre cães e lobos
A equipe de pesquisa detectou os locais usando imagens de satélite e, em seguida, por fotografia aérea de helicóptero. O trabalho de campo de base começou no final de 2018.
Nesse local de terras altas vulcânicas, 26 fragmentos de ossos de um único cachorro foram encontrados, ao lado de ossos de 11 humanos – seis adultos, um adolescente e quatro crianças.
Os ossos do cão apresentavam sinais de artrite, o que sugere que o animal viveu com os humanos até a meia-idade ou velhice.
Depois de montar os ossos, a equipe teve que determinar que eram de um cachorro e não de um animal semelhante, como um lobo do deserto.
A arqueóloga zoológica da equipe, Laura Strolin, conseguiu mostrar que era realmente um cachorro ao analisar um osso em particular, da pata dianteira esquerda do animal. A largura desse osso era de 21,0 milímetros, o que está no intervalo de outros cães do Oriente Médio antigo. Em comparação, os lobos daquela época e lugar tinham uma largura de 24,7 mm a 26 mm para o mesmo osso. Os ossos do cão foram datados entre cerca de 4200 a.C. e 4000 a.C.
Descobertas futuras
A arte rupestre encontrada na região indica que esses habitantes do Neolítico usavam cães para caçar íbex e outros animais.
O trabalho de campo descobriu outros artefatos dignos de nota. Os achados incluem um pingente de madrepérola em forma de folha no local das terras altas vulcânicas e uma conta de cornalina encontrada no deserto.
Os pesquisadores esperam mais descobertas no futuro, como resultado da pesquisa massiva aérea e terrestre e de múltiplas escavações direcionadas na região de AlUla realizadas pela AAKSAU e outras equipes, sob os auspícios da Comissão Real de AlUla (RCU). A equipe AAKSAU é liderada por pesquisadores da Universidade da Austrália Ocidental em Perth (Austrália).
A equipe observou que AlUla é uma área amplamente inexplorada localizada em uma parte do mundo que possui um fértil patrimônio arqueológico de reconhecido valor global. “Este artigo do trabalho da RCU na AlUla estabelece referências. Há muito mais por vir à medida que revelamos a profundidade e a amplitude do patrimônio arqueológico da área”, disse Rebecca Foote, diretora de Pesquisa em Arqueologia e Patrimônio Cultural da RCU.