14/04/2021 - 16:31
Uma nova investigação de ferramentas de pedra enterradas em sepulturas fornece evidências que sustentam a existência de uma divisão de diferentes tipos de trabalho entre pessoas do sexo biológico masculino e feminino no início do Neolítico. Alba Masclans, do Consejo Superior de Investigaciones Científicas em Barcelona (Espanha), e colegas apresentam essas descobertas na revista de acesso aberto “PLOS ONE”.
Pesquisas anteriores sugeriam que existia uma divisão sexual do trabalho na Europa durante a transição para o período Neolítico, quando as práticas agrícolas se espalharam por todo o continente. No entanto, muitas questões permaneciam sobre como as diferentes tarefas tornaram-se culturalmente associadas a mulheres, homens e talvez outros gêneros nesse momento.
- DNA revela origem de povo que construiu Stonehenge
- Descobertos na Península Ibérica ritos funerários neolíticos diferentes
Masclans e colegas analisaram mais de 400 ferramentas de pedra enterradas em túmulos em vários cemitérios na Europa Central cerca de 5 mil anos atrás, durante o Neolítico Inferior. Eles examinaram as características físicas das ferramentas, incluindo padrões microscópicos de desgaste, para determinar como as ferramentas eram usadas. Em seguida, analisaram essas pistas no contexto de dados isotópicos e osteológicos das sepulturas.
Variações geográficas
A análise mostrou que pessoas do sexo biológico masculino eram enterradas com ferramentas de pedra que antes eram usadas para carpintaria, açougue, caça ou violência interpessoal. Enquanto isso, aquelas do sexo biológico feminino eram enterradas com ferramentas de pedra usadas em peles de animais ou couro.
Os pesquisadores também encontraram variações geográficas nesses resultados. Isso sugere que, conforme as práticas agrícolas se espalharam para o oeste, a divisão sexual do trabalho pode ter mudado. Os autores observam que as ferramentas analisadas não foram necessariamente utilizadas pelas pessoas específicas com as quais foram enterrados, mas poderiam ter sido escolhidas para representar atividades tipicamente realizadas por diferentes gêneros.
Essas descobertas fornecem um novo suporte para a existência da divisão sexual do trabalho no início do Neolítico na Europa. Os autores esperam que seu estudo contribua para uma melhor compreensão dos fatores complexos envolvidos no aumento das desigualdades de gênero no Neolítico, que podem estar fortemente enraizadas na divisão do trabalho durante a transição para a agricultura.
Os autores acrescentam: “Nosso estudo aponta para uma organização social de gênero complexa e dinâmica, enraizada em uma divisão sexual do trabalho desde o início do Neolítico”.